A indústria da miséria alimenta-se do infortúnio, dos percalços da existência humana. Uma rede de aproveitadores poderia ser localizada em diversos setores da sociedade que se nutrem destas realidades. Algumas podemos destacar.

Como primeiro exemplo pode ser citado alguns programas de TV. Somente no Ceará, no mínimo, trinta horas semanais são dedicados a programas, exclusivamente, policiais. Editoriais que pregam o fim da violência e imagens chocantes constituem basicamente esse formato. Os âncoras e repórteres desse estilo de programação, na grande maioria das vezes, como vemos, ingressam na carreira política. O caminho não é muito difícil, basta um discurso arrumado, pois público tem, e em quantidade.

A exibição dos efeitos da violência não pode combatê-la eficazmente, se assim fosse, nesse caso, o Ceará estaria livre dessa peste. Em pleno horário de almoço imagens de pessoas assassinadas são mostrados cada vez mais em close, outras em desespero, etc.

 

A programação dominical aproveita-se de outras misérias para ganhar alguns pontinhos preciosos nos índices de audiência. A moda agora é o paternalismo produzido. Casas que são construídas em poucos dias, pontos de trabalho reformados, pessoas que se submetem às mais variadas provas para pagar suas dívidas ou que ficam à espreita da roleta que lhes indicará se poderão ou não fazer a cirurgia da qual se necessita. Quanto mais dramática a história melhor para o quadro que é ricamente produzido.

Pelo Nordeste já se ouviu falar da indústria da seca, uma política de manutenção desta mazela natural, mais as enchentes fez despontar mais um fornecedor de lucros nesse mercado. Foi manchete de muitos veículos de comunicação pessoas que se aproveitaram de donativos e roupas para fins de obtenção de lucro. Claro, isso não acontece somente no Brasil.

 

A miséria não é uma condição querida por Deus. Ela é fruto do egoísmo de cada um que ao somar transforma-se numa fatura à primeira vista impagável. Em todos os casos citados existe um benefício, mais este é individual, atinge  poucas pessoas. Então como não tem um alcance coletivo não constitui algo de todo bom.

 

Uma casa que é dada a uma família muito carente, por exemplo, num desses programas é resultado positivo para aquela família. Os idealizadores e produtores da atração ganham pela audiência e pelos comerciais e os patrocinadores do quadro lucram com a publicidade. E as outras milhares de pessoas que não tem casa ou vivem em condições paupérrimas em suas residências? O que ganham? No máximo o incentivo de também escrever uma carta  e torcer para ser sorteado. Contudo sabemos que isso não resolve nada. Ilusão não constrói um país e nem motiva por muito tempo uma nação, ainda mais tão grande como a nossa.

About the Author

Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

View All Articles