As sete crônicas de Natal – 2
Ano zero. A noite fria do deserto é riscada por uma estrela. Na areia densa caminham sobre camelos Baltazar, Melquior e Gaspar, reis magos do oriente, conhecedores da profecia, valentes desbravadores. Três homens, um único objetivo, seguir a estrela.
Chegando à cidade da paz, Jerusalém, a tríade de sábios, versados na ciência da dança dos astros, é convocada por Herodes, o rei que desejava saber sobre a procura daqueles homens.
O castelo de Herodes é tão grande quanto sua estultícia, cercado de inveja e habitado pela peçonha. Cheio de astúcia, qual a serpente no paraíso, o velho epulão e mentiroso, temeroso quanto ao nascimento do rei dos judeus que lhes falara os magos, se faz de interessado em render-lhe homenagem. Enquanto aparenta comportamento cordial, trama maldade em seu íntimo.
O rei adorado de si mesmo despe-se da nobre realeza e toma vestes de lobo, seu coração já vocifera maldições contra aquele que tem como ameaça à sua torpe ganância.
Seguindo a indicação celeste os reis chegam à Belém, a casa do pão, “ao entrar na casa viram o menino, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam”. (Lc 2,11)
Ali, naquele pobre e esquecido lugar se dava o mistério inaudito da encarnação. A luz verdadeira, contraditoriamente deixa-se iluminar por luzes opacas. Aquele cujo Pai tem muitas moradas privou-se de uma digna para nascer. Prostrar-se diante do mistério, eis a atitude do sábio, inclinar-se como os magos e não como Herodes, o mentiroso.
Na gruta de Belém habita a verdade, o mor, a justiça, a misericórdia, a salvação do homem, enquanto no palácio de Herodes sobrevive a ostentação, a fugacidade, a vanglória, a condenação e perdição.
Os magos em seguida a visita à Belém foram avisados a não tornarem a Herodes e assim o fizeram.
E nós?
Temos a oportunidade de chegar a mais um natal, nos foi permitido depor o ouro, o incenso e a mirra aos pés do pequenino Rei. E como os magos somos também advertidos a não retornarmos à casa de Herodes.
Isso significa romper com o pecado, ter inimizade com o herodes da duplicidade, da mentira, da dissimulação, da contenda, da indefinição.
Belém deve ser nossa casa, nela devemos nascer.
Este seria um excelente propósito de santidade: permanecer em Belém e não retornar ao palácio de Herodes. Contudo, cabe a cada um decidir onde quer habitar.