Era noite! Não havia o brilho da lua, não se via as estrelas. Um silêncio mortal cingia o lugar, despido apenas quando gritos lancinantes levantavam-se como vagas fortess.
“Também tu estavas com aquele Galileu”.[1]
“Não sei o que dizes”.
Silêncio. Escuridão.
A sombra desenhava o contorno do homem de olhar perturbado, voltado para a fogueira que mais parecia arder dentro, queimando, consumindo, destruindo. Ao mesmo passo, flashes reminiscentes vinham à tona: “Não 7 mais 70 vezes 7… deixai vir a mim as criancinhas…na casa de meu pai existem muitas moradas…suave é meu jugo…’ Entretanto, uma imagem sobrepunha-se às demais.
Recolhendo-se sobre si o homem barbudo queria escapar do frio sem no entanto conseguir fugir da frieza de sua mente que lhe apresentava uma cena inaudita. Não havia como esquecer aquela manhã, o olhar penetrante, o timbre de sua voz que parecia de novo fazer-se ouvir: ‘ de hoje em diante serás pescad…’
“Tu também és um deles!”
“Homem, não sou”.
Silêncio. Escuridão.
O fogo do medo, da desesperança, da impiedade alastrava-se e deformava o mais precioso filho de Sião, avaliado a preço de ouro fino e o seu aspecto escureceu-se mais que a fuligem.
“Certamente este também estava com ele, pois é Galileu.”
“Homem, não sei o que dizes.”
Em meio aos gritos da turba, distinguiu-se o canto do galo… Um olhar forte e silencioso alcançou o pescador e o penetrou abrasando-o, contrário ao fogo da fogueira, este olhar não o consumia, nem tampouco o destruía. Ao contrário, atraía-o e envolvia-o por inteiro, o fazia se sentir misteriosamente perdoado pela negação.
“Vamos Galileu dize uma profecia…”
E saindo dali Pedro chorou amargamente.
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[1] Cf Mt 26,69-75