Por, Emmir Nogueira, Co-fundadora da Comunidade Católica Shalom

São incontáveis as vezes em que, rezando ou pensando, tentei saber como é que se é como Maria. Toda mulher de fé, na verdade, se pergunta isso repetidamente. Como é, afinal, ser como Maria?

 Todas as mulheres hoje cinquentonas que tiveram a graça imensa de serem educadas na fé passaram por fases. Na infância, era preciso ser bondosa, calma, bem comportada e obediente para ser como a mamãe do céu. Ah! Era preciso também rezar ao acordar e ao adormecer.

Maria nos era apresentada por um lado como modelo de comportamento e por outro como alguém imensamente superior a todos nós, exaltada em seus privilégios que não eram dados a mais ninguém. Era uma Mãe especialíssima, poderosíssima, a quem podíamos recorrer em qualquer situação. Era a Mãe do Céu.

 Na adolescência, idade dos extremos, “Maria”, como a chamávamos com grande intimidade, era um ideal a perseguir. Qualquer visita que fazíamos a um enfermo, a uma criança abandonada já se transformava em uma verdadeira visitação e nos sentíamos, como se dizia na época, “as próprias”.

Fazer um pequeno sacrifício ou renúncia nos levava àquele “ar marial” de quem mal pisa no chão. As raras exceções em que nos comportávamos como adolescentes abnegadas e silenciosas nos faziam dormir como as mais perfeitas imitadoras de Maria, ainda que no dia seguinte… valha-nos Deus! Maria era, para nós, Mãe de Jesus, Mãe de Deus e não eram poucas as discussões intermináveis que travávamos com os colegas evangélicos sobre este assunto.

Na juventude, algumas de nós fomos atingidas pela “onda” de que Maria era uma mulher igual às tantas mulheres sofredoras, pobres, de pés rachados pelo trabalho no campo, mãos ásperas e calejadas pelo cabo da enxada, pela roupa lavada à beira do açude barrento ou nas lavanderias da periferia. Não ser assim, para algumas, era sinônimo de não ser digna de ser como Maria. Virtudes? Para um bom número de nós, jovens dos anos 70, as virtudes de Maria, diferentemente da nossa infância e adolescência, não eram mais a bondade, a paciência, a castidade, a pureza, a mansidão, a humildade, mas a luta e a revolta.

Maria tinha como virtude principal a luta revoltada pela justiça, pela igualdade social, contra as intempéries da vida, numa mistura de feminismo, materialismo e revolução que transtornou muitas de nós, criadas para a vida, para a beleza do feminino e das virtudes evangélicas, que certamente incluíam a justiça e sua busca, mas excluíam a revolta e a rebelião que alguns queriam estampar em Maria”. Leia o artigo na íntegra aqui.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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