A Igreja Católica tem vivido um alvorecer com o surgimentos das Novas Comunidades  e Movimentos Eclesisiais. Eles são justamente considerados como um dos maiores frutos concretos da primavera pós-conciliar, o renascimento da esperança em uma Igreja que enfrentava grandes conflitos, em meio ao que era considerada uma espécie de “inverno”, segundo o teólogo Karl Ranher. 

 Renato da Silveira  Borges Neto lança livro sobre o assunto e fala com exclusividade para o blog  sobre a obra que levou mais de cinco anos para ficar pronta. O autor é graduado em Filosofia e Teologia, mestre em Teologia Dogmática pela Pontificia Università di San Tommaso d’Aquino – Roma/Itália – e está na fase final de seu trabalho de doutorado pela mesma universidade romana.É professor universitário – cursos de Teologia, Administração e Direito – e conferencista. Foi Coordenador de Extensão no Instituto Teológico Pastoral do Ceará (ITEP) – atual Faculdade Católica de Fortaleza – e Ouvidor na Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS).   

João Paulo II e Bento XVI defendem, em magistério, as novas realidades eclesiais

 Na entrevista, Renato S. Borges Neto que atualmente mora no Rio de Janeiro  fala sobre a primavera que sucedeu o ‘inverno’ pós conciliar, a contribuição das novas expressões na atual sociedade, a sangria dos católicos para outras comunidades cristãs e  a esperança e preocupação que inspira a igreja Latino-Americana para a Europa. Seu próximo projeto, já em desenvolvimento é uma pesquisa sobre neo pentecostalismo focado na Igreja Universal do Reino de Deus e suas implicações na ação Católica. 

ANCORADOURO –  Quando surgiu o interesse em pesquisar as Novas Comunidades e Movimentos Eclesiais? E em publicar o livro? 

 Renato S. Borges  Neto – Meu interesse surgiu quando eu fui fazer mestrado em Teologia em Roma. Tomei consciência de meu batismo participando de uma Comunidade Nova e, assim, pesquisar sobre os Movimentos Eclesiais e as comunidades novas acabou sendo um caminho natural de amadurecimento eclesial. Queria entender o seu aparecimento na Igreja, queria compreender o que pensavam os Pontífices – mais propriamente, João Paulo II e Bento XVI – sobre eles.   Mas o trabalho de mestrado terminou em 2005, ainda no pontificado de João Paulo II. Quando, pouco tempo depois, este veio a falecer. Pensei em estender a pesquisa na investigação do que pensava Bento XVI. E assim se passaram pouco mais de cinco anos de pesquisa. Depois desse tempo todo, é natural querer partilhar o fruto desse trabalho com as pessoas que não conhecem ou que desejam aprofundar o assunto: foi assim que surgiu a ideia da publicação do livro. 

  ANCORADOURO –  A Igreja do Brasil já assimilou a mentalidade do magistério de João Paulo II e Bento XVI sobre estas novas realidades eclesiais?  

Autor empreendeu mais de cinco anos de pesquisa para conclusão de O Renascer da esperança

Renato S. Borges  Neto  – Em minha opinião, a Igreja como um todo – não só no Brasil – ainda está em fase de assimilação deste fenômeno eclesial. Também em outros lugares do mundo, os Movimentos Eclesiais e Comunidades Novas ainda não são tão apreçados como gostariam estes dois pontífices. De fato, eles procuram, com suas palavras, ações e documentos, chamar a atenção da Igreja inteira sobre a grandiosa chance que os Movimentos Eclesiais e Comunidades Novas oferecem à evangelização. João Paulo II pôde dizê-lo, em 1998, num encontro com as expressões, na Praça de são Pedro: “Desde o início do meu pontificado, atribuí especial importância ao caminho dos Movimentos eclesiais, e tive como apreciar o fruto da sua difusa e crescente presença no curso de minhas visitas pastorais às paróquias e viagens apostólicas. Constatei com alegria a sua disponibilidade em colocar as próprias energias a serviço da Sé de Pedro e das Igrejas locais. Pude indicá-los como novidade que ainda espera por ser adequadamente acolhida e valorizada”. Ainda espera por ser adequadamente acolhida e valorizada, dizia ele. Um ano depois, repetia aos bispos reunidos de diversas partes do mundo: “Caríssimos irmãos no Episcopado! A vós, aos quais pertence a tarefa de discernir a autenticidade dos carismas para dispor o correto exercício destes no âmbito da Igreja, peço magnanimidade na paternidade e uma caridade com ampla visão de futuro (I Cor. 13,4) para com estas realidades, porque toda obra dos homens necessita de tempo e paciência para a sua devida e indispensável purificação”.  O mesmo afirmou Papa Bento XVI quando disse, em 2006, quando pedia que os bispos fossem ao encontro destas novas realidades eclesiais “com muito amor”: “Ir ao encontro dos movimentos e comunidades novas com muito amor nos impulsiona a conhecer adequadamente a realidade deles, sem impressões superficiais ou juízos redutivos. […] Por isso não deve faltar um acolhimento confiante que lhes dê espaços e valorize a sua contribuição na vida das Igrejas locais. Dificuldades ou incompreensões não autorizam ao fechamento. O ‘muito amor’ inspire prudência e paciência”. São realidades ainda em fase de amadurecimento eclesial.

 ANCORADOURO – Estas novas expressões são o renascer da esperança? 

  Renato S. Borges  Neto  – Em certo sentido, sim. A dimensão carismática da Igreja parecia ter sido “esquecida” por muito tempo. Podemos falar de esquecimento porque o próprio Papa João Paulo II falara de redescoberta. Os movimentos e novas comunidades eclesiais são justamente considerados como um dos maiores frutos concretos da primavera pós-conciliar, o renascimento da esperança em uma Igreja que enfrentava grandes conflitos. Karl Rahner, um famoso teólogo jesuíta alemão, havia cunhado o termo “inverno” para referir-se à situação da Igreja do pós-concílio. Os movimentos eclesiais e novas comunidades trouxeram a esperança de que esse “inverno” se transformasse em “primavera”. Papa João Paulo II gostava do termo “primavera”. E o Papa Bento XVI – ainda como cardeal – também falou deste período de “inverno”, no Congresso Mundial dos Movimentos eclesiais e Comunidades Novas em, 1998. 

 Desnecessário seria dizer que não se quer afirmar com isso que os Movimentos eclesiais e Comunidades Novas são a única forma dessa primavera e dessa esperança… na verdade, a primavera e a esperança na Igreja referem-se muito mais à nova consciência dos leigos que começam a unirem-se para viver o seu batismo; essas novas realidades eclesiais são somente uma forma desse agregar-se laical. 

  ANCORADOURO – Qual a principal contribuição das Novas Comunidades para a Igreja?  

Igreja Católica vive primavera com Novas Comunidades

  Renato S. Borges  Neto – Penso que a contribuição principal dessas expressões eclesiais é a ponte que elas fazem entre o homem e mulher contemporâneos e Cristo, ou seja, com suas dinâmicas educativas e evangelizadoras permitem ao homem e à mulher de hoje descobrir (ou redescobrir) o amor a Cristo e, a partir dele, à Igreja. Isso tem muitas conseqüências. Cria, por exemplo, a possibilidade de incrementar uma presença mais forte e coesa da Igreja na sociedade. A colaboração ativa dos leigos é hoje, mais que nunca, indispensável. O Papa João Paulo II parece ter enxergado como poucos essa indispensável necessidade da colaboração laical para a Igreja. Bento XVI, seguindo os passos de Papa Wojtila, repetiu aos membros dos movimentos e comunidades novas: “Caros amigos, vos peço que sejais ainda mais, muito mais, colaboradores no ministério apostólico universal do Papa, abrindo as portas a Cristo”. 

  ANCORADOURO – Você que já morou no exterior, qual é a visão eclesial européia sobre a realidade latino americana (e do Brasil, especificamente)? 

Renato S. Borges  Neto  – Penso que hoje a visão se divide em esperança e preocupação. Esperança porque, como disse o Papa Bento XVI em sua última visita ao Brasil, o povo brasileiro – e latino americano – tem fortes vínculos com catolicismo e o Brasil é, ainda hoje, o país com mais alto número de católicos no mundo, em que há uma retomada das vocações sacerdotais e religiosas e um grande número de comunidades leigas comprometidas com a Igreja, com a evangelização. Isso pode fazer a diferença na realidade missionária, por exemplo. 

Preocupação porque, não só no Brasil, mas em toda a América Latina, existe uma grande “sangria” de católicos para outras comunidades cristãs ou não, e até seitas espiritualísticas como a new age e outras.   O avanço neopentecostal na América Latina e, especialmente, no Brasil, preocupa muito. Esse é o tema de meu trabalho de doutorado que está em fase final. 

  ANCORADOURO – Como foram estes cinco anos de pesquisa para compor o Renascer da Esperança? 

 Renato S. Borges  Neto  – Foram prazerosos e difíceis… (risos). É sempre um desafio muito grande e de muita responsabilidade analisar a evolução do pensamento destes dois pontífices. Por isso quis me valer de muitos autores e, especialmente, do que eles mesmos falaram a respeito dos Movimentos eclesiais contemporâneos e das Comunidades Novas. 

  ANCORADOURO – Como adquirir o livro? 

  Renato B. Neto – Por enquanto, o livro pode ser adquirido pela internet através de sua página na livraria do site (http://agbook.com.br/book/21673–O_RENASCER_DA_ESPERANCA) da Agbook. 

  ANCORADOURO – Próximos projetos…? 

 Renato B. Neto –  Um deles é terminar minha tese de doutoradocujo tema é sobre o neopentecostalismo brasileiro (focado na Igreja Universal do Reino de Deus, como exemplo deste) e suas implicações para a Igreja Católica. Analisa como nasceu, em que consiste sua estrutura e a sua teologia, além de perspectivas para a Igreja Católica. 

 SERVIÇO 

 Livro: O Renascer da Esperança 

 Autor: Renato da Silveira Borges Neto 

 Como comprar: Pelo site Agabook 

 

 

 

About the Author

Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

View All Articles