A tragédia foi sempre um atrativo a chamar a atenção das pessoas. Na literatura, teatro e televisão, mas não só, também na vida real tornou-se um ingrediente indispensável. Quanto mais horrendo, trágico, feio, violento e perigoso mais é consumido pelo público.
Temos medo da violência e os programas deste gênero são os mais assistidos, nos apavoramos com a insegurança e não resistimos a observar brigas ou acidentes de perto como expectadores mórbidos, sempre a busca de um evento pior do que anterior.
No acidente com os mineiros e no processo de seu resgate chamou-me a atenção a expectativa negativa no salvamento das vítimas embora estes resistissem como heróis. A princípio comentaram que o salvamento aconteceria em dezembro e os mineiros não resistiriam sálubres a tanto tempo de espera. Diante do bom ânimo dos homens presos na terra teorias e mais teorias foram levantadas versando que aquele entusiasmo não duraria. Enganaram-se. Passaram-se dois meses e eles continuaram firmes. Organizaram-se, estabeleceram líderes, reversamento de tarefas, mantiveram contato com os familiares, alimentaram a fé e não perderam a esperança.
Conseguiram antecipar em bom tempo o resgate e os especialistas discussão agora sobre os traumas pós-resgate dos mineradores em mais uma tentativa de marcar pela tragédia um acidente cujos protagonistas de fato reagiram como herois e demonstraram a que ponto pode chegar a resistência e maturidade humana em situações limites.
Torço para que cheguemos ao fim do resgate com manchetes positivas e esse gosto mórbido pelo trágico que se enraiza dentro de nós perca sua força e assim possamos ser mais esperançosos, menos deterministas e mais crédulos no poder da fé em Deus, a mesma que sustentou os mineiros debaixo da terra, donde gritaram a Deus e foram ouvidos.
Para alguns é somente um simbolismo, para outros é ver um milagre de Deus nos mistérios da vida: são 33 mineiros, o número da idade de Cristo e o primeiro socorrista a chegar no túnel chama-se Manoel (de Emanuel).