Frei Lopes escreveu artigo especialmente para  o ANCORADOURO.

Frei Lopes escreveu artigo especialmente para o ANCORADOURO.

Sua Santidade Bento XVI continuará a ser chamado assim com a prerrogativa de emérito, (palavra que não significa aposentado e sim que  possui o mérito  da condição por servir fielmente); vestirá sotaina branca sem o mantelino que cobre os ombros, calçará sapatos marrons em vez de vermelhos, (os sapatos preferidos pelo Papa lhe foram presenteados na viagem ao México por serem mais confortáveis), não usará mais o anel-timbre do pescador, não será mais servido pela guarda Suíça, terá uma pensão fixa todo mês, continuará a ser quem sempre foi, um servo da Igreja, mas sobretudo e melhor pra ele, não estará mais sujeito à nossa insaciável sede de curiosidades e fofocas de sacristia. Ou seja, a melhor coisa que a resignação do Papa trará pra ele certamente será sossego, de uma massa alienada que dá mais valor ao supérfluo que ao essencial e o pior, de um grande número de pseudo-católicos que mais lê revistas de fofocas televisivas que a própria Bíblia. Sem falar na mídia que se comporta na maior parte como urubu faminto, caçando escabrosos  flagrantes.

Roma está fervendo em pleno inverno e estar aqui neste momento histórico é uma grande graça! A Itália acabou de passar por eleições confusas e de resultados ainda imprevisíveis. Governo e prefeitura já colocaram em prática a “operação conclave”. O comércio vibra com os últimos eventos públicos de Bento XVI e mais ainda com o Conclave à vista. O alfaiate do Papa já prepara as vestes do sucessor em três tamanhos. O joalheiro que fez o anel do pescador pede que sua obra-prima seja preservada. Hotéis estão lotando em plena baixa temporada e prelados de todos os escalões caminham sob a colunata de uma Praça São Pedro assediada por lentes, microfones e antenas de toda a aldeia global. Nestes dias, mais do que nunca Roma vale seu título imperial de “Caput Mundi”- capital do mundo!

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Mas talvez a coisa mais extraordinária de toda esta história não seja o que se vê. Tem um “essencial oculto aos olhos” que foge aos olhares ávidos e às transmissões diretas.  O gesto extraordinário de Bento XVI deu coragem para que muitos perdessem o medo de mostrarem-se publicamente católicos praticantes. E numa terra em que as estatísticas mostram uma Igreja minguada, alienada e fria, jovens rezam o rosário em vigília numa das noites mais frias do ano, sob a janela do Papa, para mostrar que a Igreja está não só viva, mas vicejante. O técnico do Manchester, Roberto Mancini dedica a vitória do seu time ao Papa e os detentos da maior cadeia de Roma escrevem ao Papa agradecendo a visita feita com todas as conseqüências positivas para estes e garantem estar orgulhosos da sua coragem. Uma senhora na televisão, quase parafraseando Santo Agostinho diz: “ nós o amamos muito tarde!”

Na sua última audiência pública para mais de 150.000 presentes, o Papa mais uma vez reconheceu as fragilidades evidenciadas nele e na Igreja, mas, sobretudo reforçou a presença constante do Divino Fundador, mesmo quando as ondas e ventos eram contrários. Ele, mais que qualquer outra pessoa é consciente de estar fazendo a vontade de Deus também nesta nova etapa da vida.  E com o entusiasmo e o carinho recebido nestes últimos momentos nos confirma mais uma vez a fé  e deixa bem claro  que o amor a Deus exige renúncias, mas traz a única, autêntica e imorredoura alegria.  Façamos agora como ele pediu: permaneçamos unidos em oração com ele e por ele, pelo seu sucessor e pela Igreja. Viva o Papa!

                                                                            Frei Francisco Lopes, OFMCap

                                                                            (frade capuchinho – Roma)

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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