Cena do Filme O Ritual

Cena do Filme O Ritual

Um diácono norte-americano cético, à beira da falência vocacional, é surpreendido ao ser designado para uma escola de exorcismo em Roma, local onde encontrará um sacerdote veterano na prática de expulsar demônios. Esse é basicamente o roteiro do filme O Ritual, longa baseado na história real do sacerdote católico Gary Thomas, exorcista por ofício.

Assim como Thomas existem centenas de padres com esta função na Igreja Católica. A orientação dada pelo papa João Paulo II,que em seu pontificado realizou três exorcismos, prescrevia a cada Diocese ter um sacerdote exorcista. Em Fortaleza não se tem um, instituído pelo arcebispo, entretanto, três sacerdotes são autorizados a rezar pedindo a libertação do mal.

A Igreja em seu ensinamento diferencia exorcismo de libertação. O primeiro consiste na expulsão do demônio de um possesso feito estritamente com a autorização do bispo local e obedecendo ao ritual chamado de rubrica oficial de exorcismo; o segundo é forma oficiosa e menos burocrática de se realizar o mesmo ato.

Detalhe da medalha de São Bento. Exorcismo católico acontece mediante permissão do bispo local.

Detalhe da medalha de São Bento. Exorcismo católico acontece mediante permissão do bispo local.

O padre Lauro Freire Alves Filho, 40, filósofo e teólogo, membro do Instituto Nova Jerusalém, localizado no bairro Cristo Redentor é um dos padres com o ofício de rezar pela libertação da influência maligna na arquidiocese de Fortaleza.

O reverendo é discípulo de Pe. Caetano de Tilesse, falecido há três anos, conhecido no bairro por seu trabalho de promoção da dignidade humana e pelo carisma da oração de libertação. Pe. Lauro foi um dos escolhidos pelo sacerdote de origem Belga para acompanhar as sessões de atendimento aos possíveis alienados e possessos.

Padre Lauro atende no paróquia do Cristo Redentor.

Padre Lauro atende no paróquia do Cristo Redentor.

“No início eu tinha uns ‘lapsos’ de medo que logo deram lugar à certeza no poder soberano de Deus sobre o mal”,conta o sacerdote que também é especialista em bíblia. E continua, “Além dos atendimentos, Pe. Caetano promovia formação sobre o assunto o que em muito ajudou no meu ministério”, disse.

Diferente do religioso do filme, Pe. Lauro não precisou passar pela provação da falta de fé para, posteriormente, crer na existência do mal. “É preciso de firmeza na fé para exercer o ofício. E isto é cultivado pela vida sacramental e de oração”, revela. E mais, “sem estes ingredientes o sacerdote fica impossibilitado de discernir sob qual influência está a pessoa que busca a ajuda, se do espírito maligno ou de doenças psíquicas”.

Em o Ritual, a cena do sacerdote experiente atendendo ao telefone celular durante uma sessão de exorcismo chama a atenção do jovem. A resposta do padre interpretada pelo Anthony Hopinks é cômica e apresenta o exorcismo em outra perspectiva: “O que foi? Pensou que todo exorcismo precisa ter cabeças girando e vômitos de sopa de ervilha?”, indaga o personagem.

O entrevistado confirmou que efeitos extraordinários nem sempre acompanham as libertações. Contudo, recorda de casos em que pessoas durante as sessões de oração expeliram objetos como pregos e cacos de vidro sem se ferirem. Perguntado sobre o que faziam com estes objetos deu uma resposta bem humorada. “Algumas queimamos, outras aproveitamos. Os pregos, por exemplo, estão em nossas portas (risos)”, disse.

“O caso mais extraordinário aconteceu quando viajei a uma cidade do interior, ainda com o Pe. Caetano. Ao começar a ministrar uma  oração de louvor no grupo de oração, duas mulheres começaram a se debater e a deslizar pelo salão  como serpentes”, recorda o sacerdote. Depois de esvaziar o ambiente e fazer a libertação percebeu que uma pessoa para deslizar daquele modo no chão deveria está ao menos  meio centímetro suspensa.

Padre Rufus Pereira.

Padre Rufus Pereira.

As cenas de manifestações da presença demoníaca, assim no cinema como  na vida real são assustadoras. Como as acontecidas durante a conferência ministrada em Fortaleza, nos dias 2 e 3 abril (2011), pelo Pe. Rufus Pereira,sacerdote exorcista  da diocese do Bombaim, na Índia.

Em um dos casos, gritos romperam no ginásio coberto. De imediato auxiliares do sacerdote transportaram a mulher nos braços para um local isolado e discreto. Seu semblante mudou por completo. Dentes cerrados, pernas enrijecidas e uma força descomunal para um corpo franzino dava trabalho aos três homens que a seguravam enquanto uma senhora rezava para acalmá-la, até que ela fosse encaminhada ao sacerdote.

Horas mais tarde, R.N,42, dona de casa e residente em Viçosa do Ceará conta aliviada que não lembrava do que acontecia durante as  “manifestações”, apenas  identificava quando estavam se aproximando. “Eu sentia uma angústia muito grande quando se começava a rezar, um medo e de repente não lembrava mais de nada.Já participei muito da macumba, recebia os caboclos e acredito que isso tenha colaborado para as entradas dos ‘capetas’”, relata. Nem o padre, nem a dona de casa e menos ainda os assistentes contam como se deu o exorcismo, mas Nilza está confiante. “Eu agora estou bem e não vou mais dar brecha ao mal”, completa.

Pe. Rufus é exorcista autorizado pelo Vaticano há trinta anos e foi um dos fundadores da Associação internacional de exorcistas em 1992, com sede em Roma, na Itália. A associação assemelha-se à apresentada no “Longa” na qual o jovem sacerdote aprende a dar os primeiros passos como exorcista.

(Entrevista de Padre Rufus à Rádio Shalom 690AM)

“O mal pode se instalar em qualquer pessoa ou setor da sociedade”, explica. “Na política tivemos, no passado, os casos de (Adolf) Hitler e (Josef) Stalin. Eram pessoas normais, mas foram feridas em sua infância. Se eu estivesse lá teria rezado pela cura interior deles e não teria acontecido a guerra”. O exemplo do padre revela a ousadia que deseja aos demais sacerdotes e pessoas religiosas, de não se omitirem diante dos ataques do mal, em qualquer esfera da sociedade.

Já Pe. Lauro não pode proferir a rubrica oficial de exorcismo da igreja, mas afirma que os efeitos da oração de libertação são correspondentes. “É um tipo de exorcismo informal, diríamos”, justifica. Em obediência ao arcebispo e seus direcionamentos o sacerdote reúne-se anualmente e partilha sobre as atividades daquele período. “É um ofício que está os dispor do bispo ao qual nos submetemos em obediência”, explica.

"algumas pessoas chegam até nós por indicação de psiquiatras".

“algumas pessoas chegam até nós por indicação de psiquiatras”.

Nem todo caso é de possessão. Para ajudar no discernimento dos casos, Pe. Lauro fez um curso de capacitação de atenção psicossocial. “É interessante observar que algumas pessoas chegam até nós por indicação de psiquiatras. Por não terem uma resposta científica, os profissionais encaminham o paciente aos cuidados de algum sacerdote”, destaca.

Pe. Rufus, por sua vez, também é prudente e só atende os casos mediante um histórico escrito do paciente. Através da Associação Internacional de Exorcistas ministra cursos para psiquiatras, psicólogos e demais profissionais interessados no assunto.

Também ocorre o contrário, o “de pessoas que vêem o demônio em tudo”. Uma regra primária de discernimento é observar se a pessoa que recebe oração manifesta reações de violência e desconforto às preces e objetos sacros como crucifixo, água e sal bento. “Esse tipo de transe acende um sinal de alerta, pois, não é um transe induzido e pode indicar a presença do mal naquele indivíduo”, salienta Lauro.

O Diácono de O Ritual observou que uma pessoa após o exorcismo precisa continuar uma vida de oração. “Esta é uma premissa fundamental”, destaca Pe. Lauro, pois, “a pessoa que passa pela libertação e dar brecha ao mal, este pode voltar setes vezes pior como diz o ensinamento bíblico”, alerta.

O sacerdote atende todas as quartas- feiras no Centro Pastoral da Capela Nossa Senhora Aparecida na Av. Leste-Oeste, sem número.

Ps. Padre Rufus faleceu em maio de 2012. Mais informações, aqui.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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