Fanático por rádio, confesso que sou ouvinte assíduo do programa A Voz do Brasil. Sei que se trata de comunicação institucional, sempre fala bem do Governo, mas, a qualidade, produção e simpatia pelos âncoras e repórteres se sobrepõem à bajulação, além do dever que temos de ouvir as várias fontes de informação.

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Pois bem, foi neste noticioso que ouvi sobre uma nova campanha do Ministério da Saúde que me deixou encucado. O Governo Federal estava lançando uma campanha para combater o racismo na saúde pública. A ação era justificada por uma pesquisa na qual se constatava que o negro não era bem atendido na rede pública, era discriminado. Logo, lembrei-me de minha mãe, que não é negra, e toda vez que precisa de atendimento no SUS enfrenta um verdadeiro calvário.  Pensei com os meus botões, esse povo está maluco em fazer uma campanha como essa. Lembro-me que as denúncias de racismo poderiam ser feitas pelo 136 durante todo o dia.

 

Um dia depois do ocorrido vejo que não foram só os meus botões que ouviram lamento sobre a campanha. A classe médica composta por mais de  400 mil profissionais ficou revoltada com a campanha publicitária do Ministério da Saúde. O Conselho Federal de Medicina lançou uma nota repudiando a ação. Para a autarquia, a campanha desconsidera os problemas estruturais do SUS, como o financiamento limitado, o fechamento de leitos, a falta de insumos e medicamento e a ausência de uma política de recursos humanos. “São essas as causas do mau atendimento para a população, não importando questões de gênero, classe social ou etnia”, defende a nota. O texto argumenta ainda que o Código de Ética Médica já estabelece a não discriminação por razões vinculadas à herança genética.

Leia a Nota na íntegra

O Conselho Federal de Medicina (CFM) – em nome dos 400 mil médicos brasileiros – repudia o tom racista de campanha lançada pelo Ministério da Saúde, que desconsidera os problemas estruturais de atendimento que afetam toda a população.

racismoOs médicos são contra qualquer tipo de preconceito na assistência a pacientes nas redes pública e privada. O Código de Ética Médica em vigor já estabelece que os médicos devem zelar para que “as pessoas não sejam discriminadas por nenhuma razão vinculada à  herança genética, protegendo-as em sua dignidade, identidade e integridade”.

Por outro lado, o CFM reitera sua preocupação com as condições de trabalho e de atendimento oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o qual tem sido penalizado pelo financiamento limitado, fechamento de leitos, falta de insumos e medicamentos, e ausência de uma política de recursos humanos. Na verdade, são essas as causas do mau atendimento para a população no SUS, não importando questões de gênero, classe social ou etnia.

É tarefa dos gestores de todas as esferas – federal, estadual e municipal – tomarem providências para resolver estas questões, cujo enfrentamento efetivo contribuirá, sem dúvida, para melhorar a qualidade da assistência e reduzir os indicadores de mortalidade e morbidade.

Sem a adoção de medidas contra esses problemas, os pacientes que recorrem à rede pública continuarão a ser testemunhar o desrespeito aos princípios constitucionais do SUS (universalidade, equidade, integralidade), o que configura uma agressão aos direitos individuais e coletivos e à dignidade humana.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
Brasília, 27 de novembro de 2014

 

 

About the Author

Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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