Para comemorar as 4 décadas de existência da Teologia do Corpo, o Ancoradouro pediu a Deusimar Andrade, coordenador do Grupo de Estudos Karol Wojtyla, um texto especial sobre o assunto. Deusimar é seminarista da Arquidiocese de Fortaleza e coordena as reunião do grupo às 3º sextas-feiras do mês, de 13h às 15h na Faculdade Católica de Fortaleza.

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Há exatamente 40 anos atrás, João Paulo II, então papa, começou um ciclo de catequeses sobre o Amor Humano, que logo ficaram conhecido como Teologia do Corpo. Durante 5 anos após dia 05 de setembro de 1979, todas as quartas-feiras, pronunciou um ensinamento que iria revolucionar a compreensão eclesial sobre o corpo, sobre a sexualidade, sobre a vocação sacerdotal, mas também matrimonial – pasmem! Sua intuição fundamental é que o corpo humano, tal e qual nós conhecemos, ele não é somente biológico, ele também é teológico, ou seja, revela algo sobre Deus!

Milhões de jovens em todo o mundo buscam viver sua sexualidade a partir da Teologia do Corpo desenvolvida por São João Paulo II.

Para uma intuição primeira, isso pode parecer um absurdo, afinal Deus não tem corpo, é espírito (cf. Jo 4, 24), além de uma mentalidade muito comum de ver no corpo “o lugar do pecado” – uma mentalidade pessimista em relação ao corpo e ao mundo que ainda rodeia algumas mentes mais escrupulosas. Porém, “pelo fato do Verbo ter-se feito carne, o corpo entrou pela porta principal da teologia” (João Paulo II, Catequese de 02 de abril de 1980). Assim, partindo das palavras de Cristo, João Paulo II enquadra o corpo como um lugar teológico, onde se realiza a vontade de Deus (cf. Hb 10, 5). Afinal, o corpo foi criado por Deus, também a sua imagem e semelhança – não só nossa alma. Se Deus é Amor (cf. I Jo 4, 14), e nosso corpo foi criado à imagem e semelhança de Deus, que é amor, então, na medida que nosso corpo é capaz de exprimir e receber amor, ele também fala sobre Deus.

São João Paulo II.

Essa compreensão não é somente um “malabarismo teológico” para poder fazer uma reflexão sobre o corpo humano e, assim, legitimar alguns mandamentos de Deus e da Igreja; pelo contrário, a Teologia do Corpo é uma reflexão profunda sobre o homem (antropologia) levando a sério o fato de ele ser imagem e semelhança de Deus. Assim, descobrimos no homem e nos seus desejos e impulsos sexuais não só um instinto biológico, como nos animais, que nos impulsionam para o prazer; mas dentro da própria sexualidade encontramos no homem uma profunda sede de comunhão, um desejo de amar e ser amado – assim como Deus, no seio da Trindade é amor em movimento, o Amor do Pai pelo Filho, do Filho pelo Pai, numa unidade intrínseca de amor, concretizada pelo Espírito Santo. Deus inscreveu no mais fundo do coração do homem essa sede de Amor e só o Amor pode saciar seus anseios mais profundos.

João Paulo II, então, lia nos desejos sexuais uma profecia que Deus escreveu no corpo do homem, que o impulsiona para o amor, para sair da sua intangibilidade, do seu comodismo e o coloca na direção do dom completo de si. Sem ignorar a radicalidade do pecado na história do homem, que o impulsiona no caminho contrário – ao invés de amar até o dom de si, coloca-o para desejar possuir, utilizar a pessoa como um simples objeto de prazer – sua reflexão tem uma perspectiva muito positiva sobre o corpo e o sexo, e enquadra a vocação ao matrimônio como uma vocação autêntica ao lado da vocação ao celibato, afinal as duas vocações só se justificam como maneiras diferentes de realizar o amor, cuja imagem está inscrita no coração de todos. Tal análise mostra, também, que o pecado não destruiu a imagem e semelhança de Deus no coração do homem – ainda que possa tê-la borrado profundamente – de tal modo que as atitudes de amor, expressas pelo corpo, num relacionamento de amor autêntico, especialmente dentro do matrimônio e da vida consagrada, expressam e atualizam o Amor de Deus na humanidade.

É fácil vermos como João Paulo II dá credibilidade ao amor humano, como ele leva a sério a universalidade do amor, e como sua – ou melhor, nossa – Teologia do Corpo é uma resposta para uma sociedade hipersexualizada, onde é justificável usar o outro como mero objeto do prazer pessoal. Sua resposta à Revolução Sexual, da década de 60, não é expugnar o sexo como algo ruim, negativo, pecaminoso… Pelo contrário, ele acreditava que sua Teologia do Corpo podia se tornar uma Pedagogia do Corpo, ou seja, uma Educação Para o Amor. E que o corpo também precisa ser evangelizado pela beleza – que é fundamentalmente diferente da sensualidade – afinal, “a beleza salvará o mundo” (Dostoiewiski). Só o amor pode responder às expectativas mais autenticas e mais profundas do coração do homem e foi o Amor quem ensinou todas as coisas para nosso querido João Paulo II.

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Vanderlúcio Souza

Padre da Arquidiocese de Fortaleza. À busca de colaborar com a Verdade.

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