FAMÍLIAS QUE VIVIAM NA TRILHA DA FOME NA GEOGRAFIA DA MISÉRIA COMEMORAM UMA NOVA VIDA. A energia resgatou a cidadania e garantiu uma nova realidade no sertão castigado pela seca no Sertão do Ceará. A lamparina virou relíquia para os moradores de Cafundó, Escondido e Olho D´Água do Chão, comunidades localizadas no município de Choró no Sertão Central. 33 famílias e 126 pessoas mencionadas viviam, no fim de 2011, em condições precárias e sem muita perspectiva de mudança.

Cinco anos depois de sua primeira visita, o Repórter Antônio Carlos Alves, voltou ao local para saber o que mudou depois de sua primeira viagem no dia 12 de maio de 2010. (Foi o primeiro Repórter do Brasil a enfrentar a saga de conhecer a trilha da fome e a geografia da miséria).
A transformação das comunidades só foi possível depois que elas foram beneficiadas pelo programa LUZ PARA TODOS. Hoje se sentem privilegiadas com a chegada da energia. O grupo reside em cima da serra. Para chegar lá, é preciso um pouco de preparo físico, principalmente, para quem não é acostumado, já que é necessário caminhar cerca de 800 metros de subida acima do nível do mar.
Transportar alguma coisa, só no lombo de um animal. Por isso, para levar os postes da rede de distribuição até o local, a Coelce precisou usar helicópteros.
Para se ter uma noção das dificuldades para chegar ao local, até jumentos acostumados com a viagem, muita das vezes, não suportam a carga e desabam ribanceira abaixo. Na última viagem, um jumento não suportou o esforço e caiu dentro de uma cratera na subida da serra. O dono encontrou dificuldades para retirá-lo.
Na minha primeira visita à ‘’CAFUNDÓ, ESCONDIDO E OLHO D´ÁGUA DO CHÃO’’ a impressão, e, que eu estava caminhando na trilha da fome e na geografia da miséria.
Depois de cinco anos, é visível a transformação. O aposentado Antônio Gomes de Souza, 75 anos, ainda não se acostumou com a novidade. “É muito importante para a vida da gente. Mas ainda não consigo ligar a televisão sozinha”.
Para ele, a coisa mudou e para melhor. “Antes da energia tinha a lamparina e o querosene, mas faltava o pavio (material feito de algodão que pega fogo com facilidade), quando tinha a lamparina e o pavio, faltava o gás. Agora, a lamparina é coisa do passado’’.

Sua esposa, Francisca Pereira, 66 anos, está alegre. “Agora posso beber água gelada e colocar muitos mantimentos na geladeira”. Nunca pensei que um dia conseguiria isso”. Conforme ela, os netos Janiela Lima Gomes, de 18 anos, e Marcos Lima Gomes, de 17 anos, não perdem um só programa de televisão. “Eles parecem encantados com os desenhos e filmes”. “A qualidade de vida das 33 famílias melhorou muito”, diz o professor Otaciano Pereira de Sousa, que agora ensina um grupo de dez agricultores numa escola feita de pau a pique em Cafundó. “Isso só está sendo possível porque chegou a luz elétrica. O Programa Brasil Alfabetizado só é desenvolvido à noite, porque durante o dia os agricultores trabalham”, explica
Em Cafundó, Olho d´Água e Escondido não existe água potável, posto de saúde ou qualquer outro tipo de equipamento que se possa imaginar. A energia veio resgatar um pouco da cidadania perdida e acabar com sete décadas de supremacia da lamparina. “Até 2011, logo depois que escurecia, íamos dormir e ainda acordávamos no escuro. Isso tem mudado, pois nós ficamos vendo a televisão aqui na sala”, salienta Aurélio Pereira de Sousa de 19 anos.
‘’A TV nos deixa bem informado”, diz o professor Otaciano. De acordo com o coordenador do Programa Luz para Todos da Coelce no Ceará, Luis Jarra, para retirar as famílias das trevas foi preciso implantar 36 postes na região, 19 dos quais em cima da serra. “A Coelce desenvolve junto à comunidade, em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE), um projeto de criação de galinhas caipiras que tem ajudado em muito no crescimento social e econômico dos moradores”, ressalta Luis Jarra.
A maioria recebeu da Companhia geladeiras e chocadeiras. “É uma maneira de fazer com que os moradores possam pagar a conta de energia e ainda ganhar algum dinheiro”, explica Jarra.
Valderi Paulino da Silva, de 50 anos, residente em Escondido, é um dos beneficiados com o Projeto de Galinha Caipira. “Agora, tenho em torno de 50 galinhas e, se não fosse essa seca, já teria para mais de 100, mas, graças a Deus, está dando para criar a família com os recursos do programa”, disse.
Na comunidade de Escondido, se uma pessoa ficar doente, já é possível se chegar de moto para os primeiros socorros. Os próprios moradores, em conjunto com a Prefeitura de Choró, fizeram uma estrada de barro. “Nunca pensei que isso fosse acontecer”. Sou um homem feliz e realizado”, completa Emanuel da Silva, de Escondido.
Fotos e texto de Antônio Carlos Alves
AMANHÃ VOCÊ VAI CONHECER A HISTÓRIA DOS MORADORES QUE ASSISTIRAM A COPA DO MUNDO PELA PRIMEIRA VEZ EM CAFUNDÓ.