Profecia e ciência. Profetas populares x El Niño. Com a proximidade do período da quadra chuvosa no Ceará, entre janeiro e junho, as expectativas se voltam para as experiências dos profetas populares que colocam suas observações a serviço do homem do sertão.

 Existem também os prognósticos analisados por órgãos como a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), que estuda as situações climáticas a fim de anunciar para o Estado como será a situação de chuvas, principalmente no Ceará. A Fundação, aliás, só se pronunciará oficialmente no mês de janeiro, depois do dia 20.

AÇUDES CHEIOS.

O profeta popular Roberto Carlos de 38 anos, natural da cidade de Itatira, residindo na comunidade de Letreiro, disse, a REPORTAGEM DO C4 NOTÍCIAS DO POVO ON LINE durante nossa viagem pelo lugar que; em 2016, teremos bom inverno, principalmente para encher açudes.

Roberto se baseia na construção da casa do joão-de-barro, que está com a boca para o poente, “espaço onde o sol dá adeus ao dia, cedendo seu lugar para início da noite, protegida de grandes precipitações. Quando ele faz sua morada nessa posição é fatal. Teremos inverno, sim. Nos anos anteriores, ele fez sua casinha com a boca para o ‘nascente’, onde o sol anuncia a sua chegada para iluminar um novo dia. Em 2015 deu no que deu”, alertou o profeta.

Ele lembra que 2016 será o ano para esquecer a maior seca da história. “O ano de 1915 foi quando muitas pessoas morreram de fome e sede. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Uma profecia anuncia um grande inverno para o Nordeste, pode esperar meu jovem”.

CUPINS.

Segundo ele, nos últimos quatro anos de seca no Ceará, suas experiências sempre foram as piores possíveis. “Tentei de todas as formas e nada dava sinal de chuva”. A mudança de local das formigas, as pedras de sal de santa Luzia. Mas este ano os cupins estão gordos e prontos para voarem, disse. Eles só voam com chuva.

 

O agricultor pega as pedras, coloca numa tábua, marca os meses e coloca no sereno da noite. De manhã, olha qual pedra derreteu. Se molhar os locais dos meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio e junho, é sinal de água correndo no sertão. “Mas tudo em 2015 foi um fracasso só”.

 

A CIÊNCIA: EL NIÑO.

Outra esperança sertaneja são os indícios do fenômeno climático “El Niño”, previsto para este segundo semestre e que já começa aparecer. De ocorrência cíclica, provocada pelo aumento de temperatura das águas da região tropical do Oceano Pacífico. Não relacionado às mudanças climáticas, o El Niño torna os eventos de seca e de chuva mais agudos, o que pode resultar em desastres naturais e prejuízos às cidades e à população.

O fenômeno foi batizado de com esse nome em homenagem ao Menino Jesus (em Espanhol), El Niño, por provocar eventos em período próximo ao Natal.

“No Nordeste, a seca costuma se agravar. Na região do Sul as chuvas intensas são o principal efeito”, explica o geógrafo Cristovam Barcellos, da Fundação Osvaldo Cruz, em seu artigo escrito na revista “Radis” – “Prevenção a uma ocorrência anunciada”, uma forma de guia para evitar ou minimizar efeitos com temporais e seca, acentuados pelo fenômeno El Niño e que pode durar até o ano que vem. Segundo ele, a intensidade do fenômeno em 2016 deverá ser de fraca a moderada. Mesmo assim, há risco de enchentes e deslizamentos de terra no Sul.

Essas previsões de fenômenos climáticos são acompanhadas pelos meteorologistas do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD) por meio de relatórios.

Esses documentos informam como deverão ser as condições de precipitação e temperatura, em relação aos padrões climatológicos normais. São analisados modelos climáticos e sistema de escala global que irão influenciar as condições de tempo no Brasil.

Como o fenômeno El Niño é uma das principais fontes de influência do clima no País, acaba por condicionar as previsões realizadas para o trimestre.

FOTOS E TEXTO DE ANTONIO CARLOS ALVES

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