Aberta diariamente para a visitação de fiéis e peregrinos, a Casa dos Milagres, no Sertão do Ceará, recebe um número ainda maior de visitantes durante os festejos de São Francisco, padroeiro da cidade. De acordo com a equipe que coordena e cuida do local, diariamente, cerca de duas mil pessoas passam pelo espaço para deixar objetos como forma de simbolizar a graça alcançada.

Fiéis deixam peças no lugar para materializar agradecimento pelas graças alcançadas

A casa é tida como a materialização da fé e sempre está lotado. As pessoas que passam pela Casa dos Milagres deixam fotografias, cabelos, pedaços de madeira moldados conforme a parte do corpo que foi curada de alguma doença, vestes, maquetes de casas, de carros, entre outros objetos. “Tudo o que eles deixam aqui é representando que aquilo foi alcançado. Se deixam um pé de madeira, é para dizer que voltou a andar após ter um pé quebrado, se deixam uma mama, é para dizer que se curou de um câncer, se deixam uma casa, é pra dizer que conseguiram uma casa, aqui é assim!”, explica Gilmásio Medeiros, funcionário do local.

Gilmásio revela que, recentemente, cerca de sete toneladas de objetos foram retiradas do local. “As vestes franciscanas que podem ser aproveitadas, doamos para comunidades carentes da região”. Como forma de respeito aos votos alcançados, os objetos são aspergidos com água benta e uma pequena celebração é realizada internamente para, assim como com os fiéis, agradecer pela intercessão divina. “Nada aqui é profano. Sempre tratamos os votos aqui deixados com muito respeito, pois eles simbolizam a fé do romeiro que veio aqui agradecer a São Francisco”, conta Gilmásio Medeiros.

A estimativa é que, durante a festa cerca de uma tonelada de objetos sejam deixados no local. Fiéis de diversos lugares passam pela Casa dos Milagres para deixar algum objeto. Carlos Jânio Sousa, 34, é de Sobral, mas passou por Canindé só para agradecer a moto que encontrou depois de ter sido assaltado. “Me vesti de marrom, pedi a São Francisco e ele encontrou. Minha moto é meu trabalho. Por isso que vim aqui agradecer”, explica ele. Já Manoel Soares veio de Pernambuco e passou para deixar um objeto. “Me curei de um problema que estava corroendo a pele de minha perna. Eu pensei que não fosse mais ficar curado nunca”, diz.

De acordo com o Santuário de São Francisco, em Canindé, a Casa dos Milagres é uma das mais antigas obras erguidas na cidade. Hoje, ela compõe uma das principais paradas do roteiro de fé dos cearenses e de franciscanos de todo o País.

HISTÓRIA DA CASA DOS MILAGRES

Casa dos Milagres. Dom Joaquim José Vieira pedia urgência para as obras de construção da “Casa dos Milagres” porque muitos ex-votos se achavam espalhados nos corredores da Matriz de São Francisco. Em 1888, contara Frei Cassiano 4.000 ex-votos, em Canindé. Em prova dos mil favores alcançados, os agraciados romeiros deixam os ex-votos na casa dos “milagres”. A visita a Casa dos “milagres” faz parte da tradição e programa de cada romaria exercendo sua influência benéfica sobre os devotos de São Francisco. Cada ex-voto poderia contar uma história cumprida e cantar louvores do Taumaturgo Serádico, se lhe fosse dado interpretar os sentimentos de gratidão daquele que reconhecendo deixou ao menos o “milagre” como testemunha de graça alcançada. Convencidos da importância dos ex-votos, os Padres administradores do Santuário de São Francisco a partir de 1896, a casa dos “Milagres” adere construção por ordem de Dom Joaquim José Vieira e inaugurada com toda a solenidade pelo então capelão dos romeiros, Padre Luiz de Sousa Leitão.

A casa dos Milagres que atualmente ladeia a Basílica de São Francisco, foi edificada pelos guardiões Franciscanos Frei Valfredo Tepe e Frei Diogo haustman, de 1954 até 1956.

Fotos e texto de Antônio Carlos Alves