A ideia inicial era conseguir a doação de um ingresso

A ideia inicial era conseguir a doação de um ingresso

Aderson Azevedo, 24 anos, saiu de casa na última quinta-feira, 24, com 25 reais na carteira, algumas moedas no bolso e um objetivo na mente: realizar o sonho de ver um show do Iron Maiden pela primeira vez na vida. Por volta das 13h30min, quem passava pelos arredores do Castelão via o rapaz segurando um cartaz feito de papelão onde estava escrito o apelo: “me doa um ingresso”.

Aderson não é mendigo, ou algo do tipo, mas tomou a medida extrema como último recurso para não perder o show da sua vida. Sem dinheiro, o jeito foi comprar de forma antecipada uma entrada no cartão de crédito da mãe, mas a compra não foi autorizada por falta de limite. “Minha ex-sogra ainda tentou comprar pra mim, mas não deu também”, relembra.

A decisão de ir para o Castelão pedir ingresso rendeu críticas de família e amigos. “Minha mãe ficou falando muita coisa, pedindo pra eu não passar por uma humilhação dessas, porque se ela tivesse dinheiro ela dava”. Aderson está desempregado e os 25 reais que levou quando saiu de casa eram tudo o que tinha para terminar o restante do mês.

Por volta das 15h40min, a menos de uma hora e meia da abertura dos portões, Aderson se desesperou porque não havia vestígios de que conseguiria a doação. “Aí realmente acho que pensei no extremo: pedir dinheiro pra inteirar a minha entrada. Tinha pessoas que riam da situação. Mas foi quando um grupo que tava na fila deu um ponta pé inicial. Cada um deu 5 reais, outro deu 2 reais,  aí quem tava na frente via que realmente eu estava pedindo”, conta, ressaltando que não achava que conseguiria atingir o objetivo.

Pouco mais de uma hora depois, Aderson tinha uma sacola cheia de dinheiro. O volume pesado era consequência das poucas cédulas e das muitas moedas que arrecadou. Ele diz que não chegou a contar quanto tinha, mas estima que conseguiu juntar algo perto de 200 reais. Diz ainda que chegou a pedir dinheiro para mais de 200 pessoas, das quais umas cinquenta contribuíram, segundo ele.

O valor arrecadado ainda não era suficiente para garantir a compra do ingresso do setor inferior norte, que custava 340 reais e era um dos dois setores que ainda não estavam esgotados. O Lounge também tinha entradas disponíveis, mas o preço era 620 reais. “Aí um cara que tava na fila me chamou e disse assim: ‘ei cara, me dá esse saco de dinheiro que eu tenho uma cortesia aqui’”, rememora. A cortesia dava acesso a Premium Budzone, setor cujo ingresso custa 560 reais, a inteira.

Aderson temeu ser um cambista, mas o fato da pessoa usar trajes do Iron Maiden e também estar na fila, afastaram essa possibilidade, mas o medo do ingresso ser falso permanecia. Por isso, só aceitou repassar o dinheiro depois que entrasse na Premium Budzone. Foi aí que surgiu outro problema. Os seguranças estranharam o conteúdo na sacola e tentaram impedir a sua entrada. “Disseram que não podia entrar com comida, aí mostrei o saco de dinheiro e expliquei minha situação, olharam torto pra mim, mas me deixaram passar”, detalha.

Já dentro da Premium Budzone. Sonho realizado.

Já dentro da Premium Budzone. Sonho realizado.

Passado o perrengue, Anderson curtiu os três shows da noite e ainda reencontrou algumas das pessoas que o haviam ajudado horas antes. “Me viram lá dentro, falaram comigo, deram parabéns e ainda me pagaram cerveja”. Para o jovem, todo o sacrifício foi válido. “Pude ficar a metros do palco , foi incrível, inesquecível! Nunca fui em um show deles. Performance incrível, eles tocam como se fosse a última vez”, analisa.

O rapaz postou duas fotos no grupo Metal Ceará/ Shows de Metal em Fortaleza. Uma das imagens mostra ele pedindo ingressos, na outra,  já está dentro do Castelão. Até o momento em que essa matéria foi finalizada, a postagem de Aderson tinha mais de 800 curtidas, mais de 100 comentários e mais de 100 compartilhamentos. Muitas das pessoas que o viram no dia do show, demonstraram alegria ao saber que Aderson conseguiu realizar o sonho. “Eu te vi lá, pensei que era zoeira, velho. Se eu soubesse eu tinha te ajudado de verdade. Fico feliz que tenha dado certo” escreveu Davi Falcão Mendes na postagem.

Na parede de casa ficou a recordação do dia 24/3

Na parede de casa ficou a recordação do dia 24/3

Aderson tem agora um outro sonho que deseja realizar. Há vários meses desempregado, ele quer e precisa arrumar um emprego. O rapaz já trabalhou como recepcionista e operador de caixa, mas devido à crise econômica, topa qualquer trabalho que lhe renda um salário digno. “Qualquer coisa, emprego tá ‘osso’. Qualquer coisa eu desenrolo”, diz.

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Aflaudisio Dantas

Repórter com passagem pelo jornal O Povo. Como membro da equipe de esportes do jornal, atuou na cobertura da Copa do Mundo, em 2014. Também fez coberturas sobre os principais clubes do futebol cearense e escreveu sobre outros esportes. É fascinado por rock e por contar e ouvir boas histórias

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