Foto: Divulgação

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Humberto Gessinger, vocalista, escritor, multi-instrumentista gaúcho está viajando por todo o país com a turnê “Louco Pra Ficar Legal”. E a próxima parada é neste sábado em Fortaleza, no “Dragão Pop Music”, evento organizado pelas produtoras Stallos e Arte Produções, no Centro Cultural Dragão do Mar. No final de semana seguinte, Gessinger se apresenta no Tom Brasil, na capital paulista. Conversamos com Humberto sobre vários assuntos, sobre sua veia literária, sobre o rock de hoje, sobre cultura gaúcha e nordestina, sobre seus “novos e antigos horizontes” e até sobre a volta da LEGIÃO URBANA. E, claro, sobre a turnê. Confira nossa entrevista logo abaixo.

Daniel Tavares: Em primeiro lugar, é um prazer falar como você, Humberto.

Humberto Gessinger: Valeu!

Daniel Tavares: Como está sendo a turnê “Louco Pra Ficar Legal” e, principalmente, como vai ser o show em Fortaleza?

Humberto Gessinger: Tá sendo um sonho! Um aprofundamento da tour INSULAR, que marcou meu retorno ao baixo e ao power-trio depois de dez anos mergulhando em projetos acústicos (Acústico MTV, Novos Horizontes e Pouca Vogal). Já passei 3 vezes por Fortaleza depois dessa retomada (na mesma Praça Verde do Dragão do Mar onde tocarei). Sempre legal. As novidades, agora, estão no repertório, em alguns arranjos e no cenário. Na tour INSULAR, era central pra mim mostrar as canções do disco recém lançado. Agora estou mais livre para passear por todas as fases da minha carreira e, inclusive, mostrar algo do trabalho que lançarei em 2017. Em termos de formato musical, a espinha dorsal do show é guitarra, baixo e bateria. Mas há um set acústico com acordeon, violão e percussão. E algumas canções onde teclados entram pra trazer outras cores. Três trios, na real.

Daniel Tavares: De onde veio esse nome da turnê?

Humberto Gessinger: Fui buscar Louco Pra ficar Legal numa canção que chamou pouca atenção à época do seu lançamento no disco Surfando Karmas & DNA (2002). Ela parece fazer mais sentido hoje, onde um pouco de loucura parece necessário para ficar legal num mundo tão careta. Acabo de lançar um compacto em vinil (o primeiro da minha carreira) com Pra Ficar Legal e Faz Parte. As duas canções estão em momentos chaves do show.

Daniel Tavares: E nas cidades onde você já se apresentou, como tem sido a reação do público ao novo formato de algumas canções?

Humberto Gessinger: Sensacional. Meu público já conhece e se relaciona bem com minha maneira de retrabalhar os clássicos.

Daniel Tavares: Existe algum plano para algum registro dessa turnê? Algum DVD ou disco gravado ao vivo, como aconteceu na turnê “Insular”?

Humberto Gessinger: Sim, há muita vontade de fazer este registro audiovisual, mas também há um disco de inéditas sendo composto… sinceramente, não sei qual dos projetos tomará a dianteira.

Daniel Tavares: Por falar em DVD, nós somos do tempo das fitas cassete e hoje dá pra ver qualquer coisa no YouTube, enquanto arquivos de áudio podem ser baixados, legal e ilegalmente, com grande facilidade. Como você vê a indústria fonográfica hoje e os desafios de ter uma banda neste novo milênio?

Humberto Gessinger: É outro mundo, de fato. Muita água passou sob a ponte. Mas, no fim, é o mesmo rio: mudam os formatos e alguns elos na corrente, mas o principal permanece: a música, o diálogo entre quem emite e quem capta. Não perco muito tempo pensando na indústria e no mercado, não por soberba: por pura falta de talento para estes assuntos.

Daniel Tavares: E sobre a decisão de voltar a gravar vinis (o compacto Louco Pra Ficar Legal). É um formato que tem muitos fãs, mas muito pouca gente tem vitrolas hoje em dia. Como você vê isso?

Humberto Gessinger: As canções estão disponíveis também em formato digital. Temos cada vez mais que aprender a conviver com diversos suportes para as canções.

Daniel Tavares: Na turnê, você não deve cantar “Fé Nenhuma”, do disco aniversariante, “Longe Demais das Capitais, pois disse que temos que ter “fé no país, acreditar no futuro…”, algo assim. Nós estamos vivendo um momento político delicado. E você sempre foi uma pessoa engajada e interessada em tudo a sua volta, embora evite falar em suas letras de forma tão aberta dos problemas específicos da época em que as canções foram compostas (como fazem e fizeram algumas outras bandas do rock nacional). Como você tem visto as mudanças (se é que houve alguma) que aconteceram recentemente no cenário político brasileiro?

Longe_demais_das_capitais

Humberto Gessinger: Eu acho que falo bem diretamente, talvez o que eu tenha a dizer é que não seja muito linear (hehehehehe) afinal, é assim a vida para quem resiste à tentação de criar atalhos e resumos. Não acho animadoras as perspectivas para nosso país, mas não quero espalhar meu ceticismo e minha melancolia. Deixo que minhas músicas falem por mim, nela tudo está mais equilibrado. Tenho tocado algumas canções do Longe Demais das Capitais nesse ano em que comemora-se 30 anos de sua gravação, mas Fé Nenhuma não está entre elas. Toda Forma de Poder, Beijos Pra Torcida, Longe Demais das Capitais, Todo Mundo é Uma Ilha, Segurança, Sopa de Letrinhas e Crônicas já rolaram na tour.

Daniel Tavares: E no rock? Como você vê o rock de hoje em dia? O que tem ouvido?

Humberto Gessinger: Faz 2 semanas que só ouço Focus, uma banda holandesa dos 70. Rock instrumental antes do estilo virar competição de “quem toca mais notas por segundo”.

Daniel Tavares: Mais sobre esse assunto, você e sua antiga banda, os ENGENHEIROS DO HAWAII foram influência para uma geração de bandas. Eu já fiz uma pergunta bem semelhante a essa para o OZZY e repasso a você alterando o escopo para o nosso rock. O que a molecada faz hoje é mera cópia do que já foi feito ou realmente apenas beberam da influência de bandas como a sua e tem inventado algo novo?

Humberto Gessinger: Perigoso generalizar. Há cópias grosseiras, mas há também muita gente que cita gerações anteriores com talento e criatividade. Daniel Tavares: Digamos que você pudesse dizer algo ao Humberto Gessinger de 23 anos, da época em que vocês estavam lançando o “Longe Demais das Capitais”. Ou talvez digamos que ele esteja aqui hoje, tentando fazer sua banda ser reconhecida nos dias de hoje. O que você diria para ele?

Humberto Gessinger: Diria pra ele se dedicar aos instrumentos, às palavras e acordes, sem ilusão quanto aos modismos e tendências do momento. Eu, de fato, falei isso para mim mesmo bem antes de montar a banda.

Daniel Tavares: E sobre ter tantos fãs, no Brasil inteiro. Como é isso pra você? Você conseguiria me descrever a emoção de estar num palco diante de milhares de pessoas sabendo que, para cada um que você vê à sua frente, estão ali não só porque a sua música é bonita ou é uma balada legal, mas porque alguma música sua, algum disco seu, alguma letra de canção fez parte de algum momento importante da vida deles?

Humberto Gessinger: É uma loucura! Ainda mais para um cara que sempre foi muito tímido e deslocado como eu. Uma benção. Não consigo evitar a ideia de que há uma missão nessa loucura boa. Fazer parte da memória afetiva das pessoas, o que pode ser maior do que isso? A maneira mais digna de encarar esta responsabilidade, eu acho, é não pensar nela, seguir em frente fazendo o que a inspiração manda.

Daniel Tavares: E o retorno da LEGIÃO URBANA, uma banda que até 2006 dividia com os ENGENHEIROS os postos de maiores bandas de rock brasileiras até então e era cultuada, assim como os ENGENHEIROS, pelas letras inteligentes e instigantes. Quando se fala em rock nacional dos anos 80/90, é difícil não impossível não apontar o nome das duas bandas. Como você vê a volta da banda em turnê especial com André Frateschi?

Humberto Gessinger: Legião Urbana, nos seus discos, construiu um repertório fantástico. É ótimo que os guris estejam na estrada tocando estas canções. Independente de se chamar Legião ou não. Comparado à riqueza da música que criaram, isso é só um rótulo.

Daniel Tavares: Bem, se a LEGIÃO "voltou", se o BLACK SABBATH voltou a fazer shows com OZZY, se AXL Rose e Slash voltaram a tocar juntos, se os SCORPIONS nunca realmente se aposentaram, eu preciso perguntar se há qualquer chance, mesmo que seja em algum show especial, único, ou em uma turnê de datas reduzidíssimas e comemorativas, de vermos novamente a formação considerada a mais clássica dos ENGENHEIROS, Gessinger, Maltz e Licks, dividindo o mesmo palco? Como está o relacionamento entre vocês?

Humberto Gessinger: Acho que não há nenhuma mágoa entre nós, mesmo porque não temos mais idade para esse mimimi. Só guardo boas e carinhosas lembranças dos guris, apesar de estarmos distantes. Mas não há planos para nenhuma volta de nenhuma formação dos EngHaw num futuro próximo. Me assusta um pouco encontrar pessoas para as quais o rótulo é mais importante do que o conteúdo, não posso me dar ao luxo de pensar assim. É o meu coração que está ali, pulsando no centro da arena.

Daniel Tavares: Mudando de assunto, você já escreveu vários livros, mantém um blog, o Blogessinger, além de ser um grande letrista. O que veio antes? A paixão por escrever fez de você um músico, ou o fato de ser um músico te tornou um escritor?

Humberto Gessinger: A palavra escrita é anterior à palavra cantada na minha vida pessoal. Apesar de o mundo lá fora ter me conhecido antes como músico. No centro sempre esteve a palavra. Mas a emoção da música é mais misteriosa e poderosa. Sou fascinado pelo som.

Daniel Tavares: Há planos para um novo livro?

Humberto Gessinger: Não para este ano. Tenho lido tanta coisa boa (voltei a ler os clássicos) que acabei me inibindo, eu acho.

Daniel Tavares: Você tem trazido também a cultura do Rio Grande do Sul para diversos dos seus discos, seja no ritmo das canções, nas participações especiais ou nas letras “Ilex Paraguariensis”, por exemplo). Como você vê a aceitação disso em regiões tão distantes e de culturas tão diferentes?

Humberto Gessinger: Tem sido incrível. Estou conseguindo deixar mais claro um elemento que sempre existiu na minha música. Acho do Rafa Bisogno, que é mestre nos ritmos regionais.

Daniel Tavares: E sobre a nossa cultura, cearense, nordestina, o que você mais admira? Existe algo que não gosta e que falaria?

Humberto Gessinger: Minha formação deve muito à geração que misturou música nordestina com rock e pop: Zé Ramalho e Alceu Valença, principalmente, mas também Fagner, Belchior, Ednardo, e – claro – os baianos! E Gonzaga! E Dominguinhos! Meu Deus do céu, que benção viver no mesmo país destes caras! Meu sonho é que nós, gaúchos, um dia consigamos fazer algo parecido. Se eu puder contribuir minimamente com isso, já me dou por satisfeito!

Daniel Tavares: E sobre os nossos artistas (esta é a pergunta que faço a todos os entrevistados), que artistas cearenses você gosta ou teve alguma influência na sua carreira, além do Belchior, de quem você já cantou “Alucinação”?

Humberto Gessinger: Além dos músicos que citei acima, acho que as sucessivas gerações de humoristas cearenses também são testemunhos de uma cultura popular incrivelmente forte!

Daniel Tavares: Finalmente chegamos ao final da nossa entrevista. Ela ficou longa como (felizmente) são os seus shows. Agora, por favor, convide os seus fãs para mais um deles em Fortaleza, na Praça Verde do Dragão do Mar.

Humberto Gessinger: Ah, os fãs! O show é sempre deles! Eu é que tenho sorte de ficar no ponto onde se tem a melhor vista deste show! Pintem lá, como sempre, pra fazer o show, meus companheiros!

SERVIÇO:

Humberto Gessinger no Dragão Pop Music

Data: 21 de maio

Local: Praça Verde do Dragão do Mar

Abertura dos Portões: 20h30

Entrevista: Daniel Tavares/ESPECIAL PARA O CEARÁ & ROCK

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Ronnald Casemiro

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