Banda Selvagens à Procura de Lei é promessa do rock cearense / Foto: Cinthia Venâncio

Banda Selvagens à Procura de Lei é promessa do rock cearense / Foto: Cinthia Venâncio

Mais um 13 de julho chega e mais uma vez vejo-me a refletir acerca da situação do rock nacional e do futuro do gênero no Ceará. Dessa vez, tentarei compartilhar minhas preocupações sobre o que acontece com a qualidade musical em nosso País, mas também falarei do crescimento do rock cearense e da qualidade das bandas locais.

No Brasil, o rock, como personagem do mainstream, apenas sobrevive, tendo pouco espaço na grande mídia, sendo deixado pra trás por vários outros estilos; sertanejo, funk, pagode, forró, gospel… Poucos são os programas de TV, por exemplo, que costumam receber bandas de rock; menor ainda é o número de rádios voltada ao gênero.

Um caso a ser analisado e que ilustra bem a situação é o do programa Superstar, da TV Globo. O programa, que acaba de finalizar sua terceira edição, até recebe boas bandas de rock, como a Scalene (segunda temporada) e Plutão Já Foi Planeta (terceira), mas que perderam o programa para grupos de funk (Lucas e Orelha) e forró (Fulô de Mandacaru), respectivamente; dois grupos de pouca ou nenhuma identidade e que poucom fazem de diferente de vários outros grupos do mesmo estilo; isso fica comprovado pela quantidade de cover tocado por esses artistas.

Na primeira temporada, venceu a já ‘partida’ Malta, com seu rock universitário. A banda, que foi montada às vésperas do programa, apresentou um repertório todo autoral na competição, o que seria surpreendente pelo pouco tempo para composição, mas que fica um tanto explicado na qualidade do que fora apresentado. É muito complicado escutar o disco da banda e distinguir uma canção de outra; letras com a mesma tematica e melodias muito parecidas.

Para a última temporada, soube da falta de bandas interessadas em participar do programa. A informação, a princípio, me assustou, já que não faltam bandas de rock em nosso País. Bandas que vivem no underground e, em grande parte, têm boa qualidade. O Superstar seria uma grande vitrine, afinal falamos de TV Globo, início de domingo… Mas será que as bandas enxergam o programa como uma catapulta, ou, ao menos, como algo bom pra imagem do grupo? Qual seria a explicação pra isso?

Na história do rock brasileiro, vários foram os momentos de surgimento de grupos que, juntos, recolocaram o gênero em evidência. O último deles aconteceu já há mais de dez anos, que tinha como nomes principais as bandas Fresno, NX Zero e Forfun, chamadas de Emo, na época. Dessas, nenhuma tem papel de protagonismo. Fresno, que sempre me pareceu a de maior qualidade, tem comprovado isso nos últimos tempos, mas não recebe tanto reconhecimento; NX Zero mudou completamente o estilo e também não consegue atrair grandes públicos; já o Forfun acabou.

O pouco espaço do rock na grande mídia é inversamente proporcional à qualidade de vários nomes do gênero no País. Nomes como Cruz, Selton, Todos os Caetanos do Mundo, Far From Alaska, Phillip Long e Jay Vaquer são só alguns dos que poderiam representar o estilo para o grande público. Isso sem citar grupos mais conhecidos, como Reação em Cadeia e as já citadas Fresno e Scalene.

Rock Cearense

Nessa lista, não citei nenhuma banda de nosso Estado e isso não é por falta de merecimento de nossos conterrâneos; o que penso vai na contramão disso. O momento do rock cearense é o melhor no que se refere ao cenário nacional. Nunca houve um momento em que  Ceará fosse tão representativo para o gênero, no Brasil. Bandas como Cidadão Instigado e Selvagens à Procura de Lei recebendo prêmios importantes; Jonnata Doll se destacando em turnê com a Legião Urbana; Projeto Rivera e Mafalda Morfina conquistando espaço em outros estados; e a Jack The Joker, que pode ser citada como a grande promessa brasileira de seu gênero, nos últimos anos.

Outra mudança que representa bem esse crescimento do gênero no Estado está no fato de termos entrado de vez no mapa de grandes shows internacionais. Inúmeros grandes nomes do rock mundial já passaram pela terrinha, como Guns ‘n’ Roses, Iron Maiden, Motorhead, Hellowen, Blind Guardian, Alanis Morissete, Maroon 5, Dream Theater, Sonata Arctica, Nightwish, Cannibal Corpse, Testament, Evanescence, Offspring… E já estamos no aguardo de Lucca Turilli Rhapsody, Primal Fear, Megadeth e, principalmente, Scorpions.

Negativamente, o que tem marcado o rock cearense é a pouca demanda e, consequentemente, os vários adiamentos e cancelamentos de shows. E esse problema não acontece apenas com bandas menores; ele se estende a grandes nomes nacionais e até atrações internacionais. Tenho a informação, por exemplo, que a procura por ingressos para o show do Megadeth tem decepcionado. Outros prejudicados recentemente foram Capital Inicial, Dead Fish, Paralamas do Sucesso e Biquíni Cavadão.

Não se pode falar de rock cearense e não lembrar de alguns festivais que ajudaram o gênero a se tornar aquilo que é hoje. Ceará Music, que sempre atraiu públicos grandeosos, mas que acabou repentinamente, sem nunca ter sido feito qualquer esclarecimento. Mas os eventos que, ao menos pra mim, deverão fazer mais falta são o Forcaos e o Rock-Cordel, que ainda deixa roqueiros locais em luto.

+ Esclarecimentos sobre “O que esperar do rock no Brasil e no Ceará?”

Seja no mainstream ou no underground, o que confio é na vida eterna ao rock. E mais do que isso, na qualidade daquilo que é produzido em nosso País e no Ceará, mesmo de forma independente e sem apoio dos grandes grupos de comunicação. Se o rock não é o gênero mais ouvido, azar dos que não escutam.

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Ronnald Casemiro

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