Lançado sem muito alarde pela Netflix, o documentário Audrie & Daisy chegou para os assinantes no mundo inteiro no último dia 23 de setembro. A história segue as trajetórias das duas personagens-título, em casos distintos, onde a vida sexual de ambas torna-se motivo de chacota na escola. Por meio das redes sociais, as adolescentes sofrem os piores tipos de abusos, advindos mesmo de pessoas que julgavam amigas.

A atualidade dos casos é um dos fatores determinantes para o funcionamento do doc. Com os dois tendo ocorrido nos últimos cinco anos, os elementos que permeiam o cotidiano dos jovens atualmente já estavam por lá: o chat do Facebook, a efemeridade do Twitter, os filtros das fotos no Instagram.

Um ponto de destaque do documentário é a forma como uma das personagens muda no decorrer das entrevistas. Em um primeiro momento, se apresenta com sua cor de cabelo natural e um semblante positivo, ainda que tenha experimentado uma situação traumática. Com o aumento dos abusos virtuais, contudo, surgem tatuagens, mudanças súbitas de discurso e a autoflagelação.

Audrie & Daisy (EUA, 2016). Dirigido por Jon Shenk e Bonnie Cohen. Livre.

Os interessados no tema ainda dispõem de duas outras obras intensas disponíveis na Netflix. Ainda no âmbito da realidade, mas com outras situações, o documentário “Bully”, lançado em 2011, mostra o cotidiano de jovens em escolas estadunidenses. Negra e lésbica, a adolescente Kelby é um dos alvos de xingamentos e piadas no colégio, chegando a sofrer ataques de um professor durante a chamada.

O drama de pais que sofreram com a perda dos filhos para o suicídio também é uma das vertentes analisadas, buscando explorar formas de diálogo que auxiliem na mudança das situações.

Bully (EUA, 2011). Dirigido por Lee Hirsch. Livre.

Obra de ficção, mas que poderia muito bem ter ocorrido em qualquer parte do mundo, o drama mexicano “Depois de Lúcia” mostra uma garota que, tal qual Audrie e Daisy, tem um vídeo íntimo divulgado pela escola. Nesse ponto, a arte imita a vida real, pois a degradação física e psicológica da personagem se agrava a cada cena, por não poder contar com o pai, preso a um estado catatônico após a morte de sua esposa, Lúcia.  

Um dos trunfos do diretor Michel Franco é o uso da câmera fixa. Sem movimentá-la em momento algum, o espectador é obrigado a assistir todos o cotidiano da jovem Alejandra. Cru, o filme é uma daquelas jóias escondidas em meio a tanta futilidade do serviço de streaming, mas que discute bem os riscos do bullying e os resultados devastadores que pode ocasionar.  

Depois de Lucia (2012, Mex) Dirigido por Michel Franco. Com Tessa La. 16 anos.

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Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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