Londres ficou para trás. Aportando em Nova Iorque em plena revolução industrial, o universo de Harry Potter encontra novos protagonistas e desafios nos anos 1920. Dessa vez, pelos olhos de Newt Scamander (Eddie Redmayne), um jovem bruxo com grande afeição pela fauna diversa que encontra em suas andanças pelo mundo. Em “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, o primeiro de cinco vindouros filmes, tem nas costas a responsabilidade de conseguir captar todo o espírito de Harry Potter, além de adicionar suas próprias qualidades. E é  muito bem sucedido em sua missão.

Logo após chegar nos Estados Unidos, uma série de acidentes coloca Newt no caminho de Jacob Kowalski (Dan Fogler), um não-maj (a nomenclatura estadunidense para trouxa) e Tina Goldstein, ex-auror que busca recuperar seu cargo. Com a abertura de sua maleta recheada com as variadas criaturas, algumas se perdem pela metrópole, cabendo ao trio buscar uma forma de recuperá-las, enquanto a cada vez mais ativa presença do mago das trevas Grindelwald (Johnny Depp) assola o mundo bruxo e não-maj.

Além da icônica música durante os créditos iniciais, a estética da saga é reconhecida logo nos primeiros instantes. Em uma paleta cinza, o diretor David Yates, responsável pelos últimos quatro filmes de Harry Potter, se mostra confortável em revisitar um universo familiar. A escolha de cores se mescla de forma ideal ao clima do filme, mas sem deixá-lo sobrecarregado ou com uma aparência triste.

Em contraste às cenas no mundo exterior, a maleta de Newt esconde, certamente, o mais belo santuário animal já concebido. Sendo uma versão ampliada da bolsa de Hermione, os momentos dentro da maleta são dos mais interessantes do longa. Nesse ponto, o título do filme se justifica: o design das criaturas impressiona, como também sua variedade. Cada uma com características únicas, elas se integram de forma ideal à trama.

Com exceção de alguns seres, como elfos domésticos, a lista de criaturas é vasta e cheia de novidades. Se os hipogrifos já eram impressionantes e o basilisco se mostrava uma grande ameaça, aqui não há como não simpatizar com os pelúcios, verdadeiros amantes de objetos de valor. Frank, o pássaro-trovão, se destaca por ser um dos seres mais belos já saídos na mente de J.K Rowling, agora responsável pelo roteiro do filme.

A autora continuou a tratar de temas relevantes e atuais em sua nova franquia. Discursos repressivos contra minorias são colocados em xeque durante o filme, com o personagem Credence Barebone (Ezra Miller) estando no centro desse problema. Membro de uma família cujo objetivo é expor o mundo da magia, a reflexão acerca de manifestações de ódio não poderiam estar mais atuais.

Ator de maneirismos exagerados, Redmayne se encontra bem no filme. Seu Newt é uma figura carismática e cheia de recursos. Mesmo sem trazer muito humor, suas expressões carregam uma sutileza que cai bem ao personagem. Claramente o alívio cômico, Kowalski se mostra um coadjuvante repleto de nuances, ajudando-o a fugir do estereótipo de “gordo engraçado”. Collin Farrell interpreta o auror Percival Graves de forma rígida, mas competente dada o caráter do personagem, enquanto Ezra Miller, ainda que possua poucas falas, apresenta um jovem atormentado e cujas expressões faciais se mostram perturbadoras.

Ao final, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é o filme ideal para continuar o legado de Harry Potter. Ainda que situado 70 anos antes, seu diálogo com os fãs da saga será imediato. Com mais quatro filmes confirmados, podemos esperar que a maleta de Newt fique cada vez mais preenchida. Continue com o bom trabalho, J.K.

Cotação: 7/8

Ficha técnica
Animais Fantásticos e Onde Habitam (EUA, 2016), de David Yates. Fantasia. 133 minutos.

About the Author

Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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