Luis y Carlos

Luis y Carlos

Uma das formas de se pesar o legado de um filme pode ser feita ao se contabilizar as “homenagens”. “12 Homens em uma Sentença” (1957), clássico definitivo de Sidney Lumet, influenciou não apenas a forma de se encarar um júri ficcional, mas até parte do próprio sistema legal norte-americano. É dele parte do legado do oceano de séries de justiça na televisão e é até justificável a refilmagem do longa em 1997 (com William Friedkin como diretor).

O longa espanhol “7 años”, de Roger Gual, é uma nova visita ao conceito cansado de júri. No filme exclusivo da Netflix, um grupo de quatro empresários precisa discutir e decidir o futuro… de si mesmos. O interessante da obra é que não há presunção de inocência. Todos os quatro sócios são assumidamente culpados. A trama gira em torno da contratação de um mediador para ajudar na decisão de quem vai “tomar a queda” pelos outros três.

Os quatro sócios-amigos

Os quatro sócios-amigos

Na melhor escola “12 Homens em uma Sentença”, o longa se desenrola 100% dentro de uma sala. São cinco personagens e apenas eles. A contadora Vero (Juana Acosta), o diretor Marcel (Àlex Brendemühl), o programador Luis (Paco León), o “facilitador” Carlos (Juan Pablo Raba) e o agente indiferente, o mediador José Veiga (Manuel Morón). Os quatro primeiros são culpados de crime fiscal, contas em off-shores e todos os temas comuns no noticiário mundial após os Panamá Papers. Se um deles der um indicativo de culpa, a auditoria na empresa que mantém será focada apenas em um dos sócios.

O grande charme da trama é o roteiro, assinado por Julia Fontana e com apoio de Jose Cabeza, Cristian Conti e Roger Gual. De forma orgânica, cada um dos sócios é jogado contra o outro. Ao mediador cabe o equilíbrio, mas ele tem também o papel mais sádico de montar joguinhos que fazem os amigos se voltarem um contra o outro. Com o ritmo rápido e a metragem relativamente curta (77 minutos), o “morde-e-assopra” dá um ritmo galopante ao longa. A estrutura, no entanto, é previsível. Talvez a boa construção dos personagens os deixe mais óbvios, mas é raro encontrar uma surpresa em suas decisões.

Cena de "12 Homens e uma Sentença"

Cena de “12 Homens e uma Sentença”

Simples e bem construído, “7 Años” é um bom “filho” de “12 Homens e uma Sentença”. Mas existe, ainda, um abismo entre os dois. Sem dar spoiler (de qualquer um dos dois), essa diferença é até social. De um lado, um jovem e pobre porto-riquenho acusado de um crime brutal. Do outro, quatro sócios milionários culpados de crime fiscal. O tensionamento de “7 Años”, portanto, é quase nulo, enquanto “12 Homens” discute as relações intrínsecas entre racismo, pobreza e violência. Em uma sessão dupla, inclusive, os dois longas talvez até se complementem. Isolados, temos uma obra-prima e um filme “bonzinho”.

Cotação: nota 5/8.

Ficha técnica
7 años
(ESP, 2016), de Roger Gual. Suspense/Drama. 77 minutos.

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About the Author

André Bloc

Redator de Primeira Página do O POVO, repórter do Vida&Arte por seis anos, membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine).

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