Elas acontecem todo ano e a célebre frase sempre se repete: “adaptações de videogames não dão bons filmes”. Por mais que haja esforço por parte dos estúdios para que ocorra uma mudança nesse cenário, as produções lançadas pouco conseguem fazer para quebrar o estigma. “Lara Croft”, “Prince of Persia”, “Doom”, “Alone in the Dark”, “Warcraft”. Todas franquias de sucesso (em parte) no mundo dos games, mas que não conseguiram o mesmo êxito na sétima arte. Para se juntar ao hall de filmes medíocres, “Assassin’s Creed” chega hoje aos cinemas brasileiros, apenas para se tornar mais um item nas listas de piores adaptações.

Uma das franquias de videogame mais bem sucedidas da atualidade, a saga “Assassin’s Creed” começou em 2007, tendo, desde então, gerado diversas continuações. Uma constante se mantém em todos os jogos: o protagonista é um assassino, em algum lugar da Terra, em um período anterior ao século 19. O sucesso, contudo, gerou uma fadiga dos jogadores, após lançamentos de jogos recheados de bugs e problemas. O último game da franquia, “Syndicate”, foi lançado em 2015.

Partindo de um roteiro original, ou seja, sem a presença de assassinos queridos pelos fãs como Altair, Ezio ou Connor, a história se inicia nos dias atuais com o condenado Callum Lynch (Michael Fassbender, o ator com o sorriso mais assustador de Hollywood) sendo executado por matar um cafetão. Ressuscitado logo em seguida, ele se descobre dentro das instalações da Abstergo, uma empresa que busca encontrar a Maçã do Éden, um item bíblico que supostamente possui a semente da primeira maldade humana. Em posse disso, a cientista Sophia Rikkin (Marion Cotillard) iria encontrar um meio de erradicar a violência do mundo. Para tanto, Lynch será colocado em uma máquina chamada “Animus”, que permite a ele relembrar memórias de seu antepassado, Aguilar de Nerha, um assassino espanhol do século 15, de forma a encontrar informações sobre a localização da Maçã. 

Logo, o filme é estruturado em tempos no presente e no passado, assim como o jogo. O primeiro grande problema começa a partir dessa separação. Apesar de ser divulgado massivamente em cima dos momentos de Lynch no passado, a maior parte do filme se passa nos dias atuais, em uma trama que não gera empatia alguma. Os poucos minutos dedicados a Aguilar são, sim, empolgantes. Com cenas de ação bem coreografadas e belas paisagens, toda a acrobacia pela qual a franquia é conhecida está lá. Mas existe apenas isso. Não há desenvolvimento do personagens no passado. Saí da sala sem saber o nome de 90% deles e isso se aplica aos do presente também.

Tive que ir ao IMDB para descobrir que a assassina à esquerda se chamava “Maria”.

O longa também falha em explicar o qualquer acerca do passado de Lynch. Sabe-se que ele é uma pessoa violenta, mas isso não é bem trabalhado em tela. O assassinato do cafetão também soa mais como uma desculpa qualquer do que um passado crível para o personagem. Em certo momento, ele se comporta normalmente, enquanto em outro, age como louco. Não há continuidade em sua personalidade, e ele acaba se tornando um protagonista sem propósito. O filme ainda conta com uma ponta de Brendan Gleeson, no que deve ser o maior desperdício de um grande ator da década.

Dirigido por Justin Kurzel, que inclusive trabalhou com Fassbender e Cotillard na mediana adaptação de “Macbeth”, “Assassin’s Creed” acaba por não trazer nenhuma mudança para o gênero dos filmes adaptados a partir de games. Arrastado e com atuações ruins de bons atores, o filme não serve nem como entretenimento passageiro, pois, ao final, o espectador irá perceber que seria melhor ter ido rever Lara Croft.

Cotação: nota 3/8

Ficha técnica
Assassin’s Creed  (EUA, FRA, 2016), de Justin Kurzel.  Aventura. Com Michael Fassbender e Marion Cotillard. 116 min.

About the Author

Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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