Com um fator de cura deficiente, garras que mal saem de seus punhos e uma perna mancando, o presente de Logan, o mutante conhecido como Wolverine, não é dos mais bonitos. Em sua terceira empreitada solo e última vez que Hugh Jackman dá vida ao personagem, “Logan” chega aos cinemas como uma redenção derradeira para o mais famoso integrante dos “X-Men”. E que bela redenção.

Sempre abrandado em suas aparições anteriores por conta da censura baixa dos filmes, “Logan” é consequência direta de “Deadpool” (2016). Sem o sucesso inesperado do Mercenário Tagarela, esse último filme poderia ter repetido a mesma fórmula cansada dos anteriores. No entanto, a abertura de uma censura alta garantiu a melhor adaptação do personagem para a telona. Visceral, violento e brutal, a primeira cena do filme já entrega que algo mudou. Antes limpas após os cortes, as garras de adamantium agora saem pingando sangue, enquanto partes de corpos voam pelo cenário.

Situado em 2029, com mutantes em extinção e sem um novo espécime há 25 anos, Wolverine agora trabalha como Uber, como forma de juntar dinheiro e fugir com Charles Xavier (Patrick Stewart), agora moribundo, para longe do perigo. Uma empresa com interesses obscuros, no entanto, entra no caminho, fazendo o destino do envelhecido personagem se cruzar com o de Laura, em uma trama que lembra o ótimo “Filhos da Esperança” (2006) nesse aspecto. Com apenas 12 anos, a jovem se torna, para Xavier, a chance derradeira para a sobrevivência dos mutantes.

Constantemente com os personagens em fuga, o longa segue uma estrutura de road-movie, passando por várias partes de um Estados Unidos empoeirado e banhado em uma fotografia alaranjada. O clima pesado combina perfeitamente com a atual situação de Logan: cansado dos séculos de luta e vendo as pessoas que ama morrer, o mutante já não possui um objetivo claro de vida. Garantir a sobrevivência de Xavier é sua função, mas desempenhá-la é um fardo. A interpretação de Hugh Jackman é de longe seu melhor trabalho com o personagem. O olhar cansado, a expressão de derrota compõe uma complexidade que só um soldado como Wolverine poderia ter.

Calada, mas implacável, Laura é um dos maiores destaques do filme. Suas cenas de ação não devem em nada para as de Wolverine, com a jovem muitas vezes superando o veterano em alguns momentos, graças à sua juventude e agilidade. A interpretação da estreante Dafne Keen também se destaca, com a jovem tendo um olhar profundamente ameaçador.

A união de Logan, Laura e Xavier retrata um verdadeiro sentimento de família. Brutalizado com as experiências ruins de sua vida, Wolverine afasta as demonstrações de afeto que recebe. Por conta disso, “Logan” se enquadra como um interessante estudo de personagem. Esse mutante já não deve ser encarado como um herói, e sim como alguém moldado pelas situações impostas pela vida.

Comandado e roteirizado por James Mangold, responsável pelo mediano “Wolverine: Imortal”, o novo filme é um claro avanço na carreira do diretor. Excluindo os momentos megalomaníacos do roteiro e os substituindo por batalhas contidas, mas muito mais impactantes, o resultado mostra que não é preciso uma grande cena de destruição para instigar os fãs do gênero a absorverem as histórias contadas.

Hugh Jackman se despede da melhor forma possível, em um filme maduro e consciente dos caminhos que pretende levar seu personagem e os quais o levaram a aquele ponto. Ainda que alguns pontos do roteiro soem mal explicados em alguns momentos, não é o suficiente para manchar a melhor versão de Wolverine. Se o estúdio resolver dar continuidade a história de Laura, mantendo o mesmo estilo, os fãs podem aguardar um promissor futuro para os mutantes.

Cotação: Nota: 7/8

Ficha técnica
Logan (EUA, 2017). De James Mangold. Com Hugh Jackman e Patrick Stewart. 137 minutos.

 

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About the Author

Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

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