2014 foi o ano em que a Marvel provou que podia fazer sucesso mesmo com um time de desconhecidos do grande público. Embebido em carisma, “Guardiões da Galáxia”, de James Gunn, foi um sucesso surpresa e, de cara, se fixou como o melhor filme da Marvel Studios ao construir uma trama emocionante e que tinha humor vazando de todos os poros. Composto por párias da sociedade intergalática, os Guardiões da Galáxia funcionavam, mais do que qualquer super-time nos cinemas, como uma grande de disfuncional família. E se funcionou uma vez, que tal explorar um pouco mais desses sentimentos?

Star-Lord/Peter Quill (Chris Pratt)

Como propõe o próprio nome, “Guardiões da Galáxia Vol. 2” é mais um lado B da fita do que uma sequência. Estão ali os mesmos elementos de antes: humor excessivo, amizades improváveis e uma cena surpreendentemente tocante lá pelo terceiro ato do filme. A diferença central é que, agora, Peter Quill (Chris Pratt), Gamora (Zoe Saldana), Drax (Dave Bautista), Rocky (voz de Bradley Cooper) e Baby Groot (voz de Vin Diesel) já são familiares e queridos do público. Daí, cortam-se as introduções e sobe a cortina da treta.

Se o tema paternidade era introduzido no longa de 2014, dessa vez, o protagonismo é todo dele. Lá, Thanos, pai de Gamora e de Nebulosa (Karen Gillan) tomava pra si o papel de figura traumatizadora oficial, enquanto a ausência do pai de Quill era mais sentida de forma palpável. Dessa vez, as consequências das ações de Thanos nas irmãs e o surgimento de Ego (Kurt Russell) na trama surgem de forma espelhada, criando uma fragmentação dentro da super-equipe. Mais do que detalhes sobre o passado de Peter, a história lida com o sentimento de família e as possibilidades de perdão contidas nesse conceito.

“Essa família é muito unida… e também muito ouriçada”

Figura central nisso é Yondu (Michael Rooker), que em “Guardiões da Galáxia” era pouco mais do que um capanga do antagonista Ronan, o Conquistador. Dessa vez, existe o verdadeiro dimensionamento do papel do personagem. Para bem ou para mal, Yondu é a figura paterna com que Peter cresceu – afinal, o caçador de recompensas raptara Quill ainda na adolescência, em vez de entregá-lo para o pai, Ego. Yondu é ainda catalisador de um processo interno no sempre ranzinza Rocky, com quem Peter tem o conflito original do filme. De certa forma, o caçador de recompensas age por trás das coxias para resolver as brigas do filho adotado, o que amplia o senso de família dos Guardiões da Galáxia. O grupo, aliás, tem em seu centro essa carência de figuras paternas, que Drax tenta suprir por ter sido o único a ter gozado de um lar convencional (antes de Thanos destruir tudo). Eu chamaria de alívio cômico, mas todos os quatro são cômicos. Talvez Gamora seja um… alívio sério?

A principal evolução entre os volumes 1 e 2 de “Guardiões da Galáxia” é a escala. A começar pelo vilão, mais grandioso do que qualquer um apresentado pelo universo Marvel até agora. As perseguições espaciais ganharam mais personagens, bem como a dramaticidade das relações provocou fissuras mais profundas. O grande acerto, porém, foi na direção de cenas de ação – calcanhar de Aquiles dos filmes da Marvel. Sem medo da grandiosidade e com ousadia de quem fez um sucesso inesperado em 2014, James Gunn apostou em ângulos pouco convencionais e estilização do movimento para ampliar o efeito. Note-se, por exemplo, quando Yondu e Rocky atacam a tripulação da nave dos caçadores de recompensa e Gunn aposta em um ângulo alto para acompanhar o movimento do “dardo vermelho”.

Cabando a crítica. Puf.

Com tanto elemento conhecido e pouca novidade, o novo “Guardiões da Galáxia” soa, de fato, como um volume 2. As surpresas, como a desenvoltura cômica de Dave Bautista, soam mais forçadas pela certeza de que daria certo, por exemplo. Já a estrutura narrativa, quase idêntica ao filme original, pouco acrescenta, mas consegue fazer frente à eficiência da sequência do “We are Groot”, ápice dramático de todo o Marvel Cinematic Universe (MCU). As participações especiais novas, com o retorno de Howard, o Pato, surgimento de Sylvester Stallone e o belo cameo de Stan Lee e dos Vigias, conseguem manter a sensação de novo. Mas é truque. A Marvel, mais uma vez, apela para a fórmula e entrega uma obra derivada de uma boa premissa original. Como é “Guardiões”, a gente perdoa, ri, chora e assiste as cinco cenas pós-créditos.

(andrebloc@opovo.com.br)

Cotação: nota 6/8

Ficha técnica
Guardiões da Galáxia vol. 2
(Guardians of the Galaxy vol. 2, EUA, 2017), de James Gunn. Aventura. 120 minutos. Com Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista e Kurt Russell.

http://blog.opovo.com.br/cinemaas8/guardioes-da-galaxia-o-espaco-e-logo-ali/

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André Bloc

Redator de Primeira Página do O POVO, repórter do Vida&Arte por seis anos, membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine).

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