Com seu laço capaz de extrair a verdade de qualquer inimigo, braceletes que afastam projéteis e um jato invisível, a Mulher-Maravilha é, sem dúvidas, das super-heroínas mais carismáticas já criadas. Seja por quem assistiu o seriado dos anos 1970 estrelado por Lynda Carter, cresceu lendo os quadrinhos, ou vendo o desenho da Liga da Justiça, a personagem é um dos ícones do gênero e sua chegada aos cinemas não poderia ter demorado mais.

Introduzida no fraco (pra ser gentil) “Batman vs Superman” (2016) e agora ganhando seu filme solo, a Mulher-Maravilha interpretada por Gal Gadot abraça por completo a mitologia da personagem para contar sua origem. Nascida na ilha Temiscira e filha da lendária amazona Hipólita (Connie Nielsen), a trama apresenta a jovem Diana desde seus primeiros anseios de se tornar uma grande combatente. Treinada pela tia Antíope (Robin Wright, de House of Cards), a maior guerreira da ilha, o destino de Diana muda quando Steve Trevor (Chris Pine), um espião britânico, chega por acidente à ilha, trazendo todos os problemas da Primeira Guerra Mundial, até então, o maior conflito visto pela humanidade. Com seu senso de justiça nato e o desejo de destruir Ares, o deus da guerra e a quem credita toda a maldade do mundo, Diana decide partir para o nosso mundo e acabar com o conflito de uma vez por todas.   

Divergindo dos outros filmes do universo cinematográfico da DC pela ousadia de usar uma paleta de cores que vão além do cinza e do azul escuro, o filme da diretora Patty Jenkins (responsável pelo ótimo “Monster”, de 2003) pode ser definido como uma jornada do herói padrão. Não há inovação dentro da fórmula tantas vezes já repetidas por outras obras, mas há uma sensação de novidade pelo fato de a personagem em momento algum ser retratada de forma objetificada por ser mulher. Diferente de outros filmes como “Mulher-Gato” (2004) e “Elektra” (2005), onde ambas as protagonistas possuem forte apelo sexual, aqui, Diana está muito mais preocupada em ser um exemplo de moral e virtude que qualquer outra coisa.

Apesar dos aspectos progressistas da obra, ela não está livre de defeitos que parecem vícios dos filmes da DC. O uso excessivo da câmera lenta, aliado à trilha sonora repetitiva, acaba cansando após a 13ª execução. Durante seu segundo e terceiro atos, “Mulher-Maravilha” se torna um filme de guerra, adotando a estética sombria que longas assim costumam apresentar. O efeito dessaturado acaba por, infelizmente, remeter aos outros filmes do universo DC, minando a sensação de novidade introduzida durante o início do longa.

Exageros por parte das performances acabam por deixar algumas situações caricatas, especialmente pela atuação fora do tom de Danny Huston, que interpreta o general alemão Ludendorff, mas nada que atrapalhe o ritmo do filme, que ao longo dos seus 141 minutos jamais se torna chato. Destaque para Chris Pine, sempre afiado e carismático, fazendo desta da obra algo divertido e leve. O par romântico criado com Gal Gadot resulta em uma química crível e agradável.

Importante por finalmente dar a uma heroína o destaque merecido, “Mulher-Maravilha” não é o melhor blockbuster do ano, mas passa longe dos erros passados da DC/Warner. Divertido, com cenas de ação bem coreografadas e que não passam sensação de confusão ao espectador, o filme de Patty Jenkins é uma obra necessária em meio a tantos à tantas histórias de origem genéricas de protagonistas masculinos por aí. Apesar das falhas, Diana traz uma sensação de frescor ao sub-gênero.

Cotação: nota 5/ 8

Ficha técnica: Mulher-Maravilha (Wonder Woman, EUA, 2017), de Patty Jenkins. Aventura. 12 anos. 145 minutos. Com Gal Gadot e Chris Pine.

About the Author

Hamlet Oliveira

Jornalista. Louco por filmes desde que ficava nas locadoras lendo sinopse de filmes de terror. Gasta mais dinheiro com livros do que deve. Atualmente tentando(sem sucesso) se recuperar desse vício.

View All Articles