Dado a ser trapaceiro, mas com um bom coração, Pedro Malasartes é um dos personagens mais tradicionais da cultura portuguesa. Com sua criação tendo ocorrido há mais de mil anos, o rapaz trambiqueiro já passou por diversas adaptações, seja no teatro, na literatura ou no cinema. Dessa forma, a mais nova aventura do personagem chega pelas mãos do diretor Paulo Morelli, em “Malasartes e o Duelo Com a Morte”.
Vivido por Jesuíta Barbosa nessa nova releitura, Pedro Malasartes é um jovem caipira que usa de suas artimanhas para conseguir algum dinheiro. Endividado e sem condições de pagar o gigante Próspero (Milhem Cortaz), Malasartes se apega à esperança de que seu padrinho irá vir e o ajudará a quitar a dívida. Enquanto isso, o jovem também procura ganhar o coração de Aurora (Ísis Valverde), irmã de Próspero. O que ele não sabe, é que a própria Morte (Júlio Andrade), trama para conseguir enganá-lo e fazer com que ele tome seu lugar.
Inocente, mas muito esperto, Malasartes é um personagem cativante. Desde sua primeira cena, quando rouba o cavalo de Zé Candinho (Augusto Madeira), é impossível não sentir simpatia pelo rapaz. Muito disso se deve ao carisma de Jesuíta, que domina todas as cenas em que está presente. Além do ator pernambucano, todo o elenco merece destaque. Apesar do ar canastrão de sua Morte, Júlio Andrade jamais soa exagerado, em uma atuação que casa bem com o personagem.
Amplamente divulgado como o filme brasileiro com o maior número de efeitos especiais já produzido, é notável o cuidado da produção neste aspecto. Realizados pela O2 Filmes, a maior parte dos efeitos é convincente e ajudam a compôr o mundo onde Morte vive de forma realista. O uso de cabos é perceptível quando alguns personagens levitam, mas o detalhe não tira o brilho da obra.
É na trama que os problemas de “Malasartes e o Duelo Com a Morte” se encontram. Pedro aguarda a chegada do padrinho para seu aniversário, mas em momento algum é explicado o porquê de seu padrinho ser a Morte. Ou se a Morte está se passando pela identidade do suposto parente. Faltam detalhes que ajudem a tornar a história mais crível. Alguns trechos do filme também soam desnecessários, como o excesso de embates entre Malasartes e Próspero, que acabam se tornando repetitivos.
Fotografado com maestria por Adrian Trejido, “Malasartes e o Duelo Com a Morte” é um filme esteticamente bonito, com efeitos especiais competentes e um protagonista divertido e identificável. As falhas no roteiro acabam prejudicando o andamento do filme, algo reforçado pela resolução simplista dos conflitos. Mais de 1000 anos após sua criação, Malasartes continua a ser um personagem que não apenas cativante, mas que se mostra atemporal em sua proposta.
Cotação: nota 5/8
Ficha técnica: Malasartes e o Duelo Com a Morte (BRA, 2017). De Paulo Morelli. Com Jesuíta Barbosa, Ísis Valverde e Milhem Cortaz. 110 min.