O público não precisa decidir entre as gigantes HBO e Netflix

Nos números inflados, no amor irrestrito, no ódio dos detratores, o fenômeno “Game of Thrones” vem se aproximando cada vez mais do conhecido efeito fim de novela da TV Globo. Aqui, multidões abdicavam de uma sexta à noite para ver mocinhas e mocinhos se casarem, vilões se darem mal, casais inesperados se consumarem. Agora, aos domingos, bares e casas de show param e exibem uma história que se passa no tão longínquo quanto fictício continente de Westeros. Os públicos são diferentes, claro, mas a narrativa social é parelha.

As redes sociais substituíram as antigas revistas de fofoca nesta pista de obstáculos que é acompanhar a série da HBO sem esbarrar num spoiler. Primeiro, vazou um roteiro. De repente, hackeiam o canal pago. Depois, caem um, dois episódios na Internet. Paradoxalmente, a audiência de “Game of Thrones” só cresce, chegando ao recorde de 10,7 milhões de pessoas no quinto episódio desta sétima temporada. A adaptação da série de livros de George R. R. Martin conseguiu o raro feito de superar os limites da TV e adentrar o cotidiano do público. Domingo à noite é tão dia para visitar nossa família quanto para reencontrar os Targaryen, Lannister e Stark. Hoje, teremos o aguardado e já vazado penúltimo episódio da penúltima temporada.

Esse crescimento vai na contramão de um público que se afeiçoou às facilidades da Netflix, por meio da qual podemos matar a ansiedade com um clique que inicia o próximo episódio. “Game of Thrones” é tão sucesso de entretenimento massivo quanto evento social. Mostra, além de tudo, que os dois modelos antagônicos de consumo podem ainda co-existir. Isso, claro, se o “mercado paralelo” de downloads ilegais e conteúdo roubado não inviabilizar o investimento em produtos da escala e da dimensão da série da HBO.

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André Bloc

Redator de Primeira Página do O POVO, repórter do Vida&Arte por seis anos, membro da Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine).

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