Montar uma banda e sair tocando não é nenhuma tarefa fácil. Começar até que vá lá, mas dar continuidade manter a formação roginal até o fim é uma caso raro. Há quem compare ao casamento. Em ambos os casos, uma boa parte acaba pedindo um tempo no meio do caminho para projetos paralelos, outros desistem geral e partem para carreira solo que algumas vezes dá certo e outras não. Enfim, todo este preambulo é para dizer que o Cidade Negra está de disco novo na praça, Que assim seja, porém com uma mala cheia de surpresas guardadas. A principal delas, certamente, é a presença de Alexandre Massau asumindo os vocais no lugar que antes foi Toni Garrido.

De fato, embora muitos já tenham esquecido, antes de Garrido o posto pertenceu a Ras Bernardo. Vocalista numa época mas política e mais reggae da banda, Bernardo seguiu em honesta carreira solo após o lançamento de Negro no poder, de 1992. É aí que entra o carismático Toni Garrido. Vocalista poderoso com uma forte pegada soul, ele completa o quarteto formado ainda por Bino, Da Gama e Lazão e estourar em 1994 com  disco Sobre todas as forças, que trazia um catatau de sucessos. Entre eles, A sombra da maldade, Onde você mora? e Doutor.

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Comparar Alexandre com Bernardo ou com Toni é até covardia. Não, não quero dizer com isso que ele é fraco. O rapaz é muito bom de microfone, criativo tem dado muito bem conta do recado. A questão é que o primeiro vocalista deu início à proposta da banda e o segundo aproveitou a fase áurea de muito sucesso popular e muitos discos vendidos, coisa difícil de conseguir em tempos de download.

Que assim seja foi produzido por Nilo Romero e traz 12 canções inéditas compostas pelo trio. É, trio porque nesta nova fase o (fraco) guitarrista Da Gama também decidiu procurar um novo rumo. No seu lugar o próprio Alexandre e os músicos convidados Egler Bruno e Alexandre Prol. tmbém cmparecem na ficha técnica os vocais de Juju Gomes, o piano de Sasha Amback e otrombone de Marlon Sette, entre outros.

Transitando entre a política de início de carreira e o pop subsequente, Que assim seja abre com Gesto original, um autêntico reggae com toda aquela mensagem de ser bom e fazer o bem, a mesma linha que segue Um novo dia. No hall das críticas à classe política, Porta da favela se perde no discurso que atira para todos os lados. Melhor ficar com Kaya babilônia, que em muito lembra os companheiros reggueiros do Tribo de Jah. uma coisa curiosa, é que o disco não traz nenhuma faixa ensolarada feita para deixar multidões com um sorriso no rosto. Os recados todos se dividem entre alfinetadas na sociedade e amores desfeitos. A que melhor se aproxima de uma canção feliz é Vem morar comigo, onde Alexandre implora a sua amada que se mande para casa dele porque “só assim você vai me conhecer”.

No fim do disco, a impresão que fica é que a turma sabe fazer música boa, mas precisa encontrar o rumo que vai seguir daqui pra frente. Que assim seja vem sendo preparado desde 2008 e é o primeiro de inéditas do Cidade, desde Perto de Deus, de 2005. Com certeza, antigos fãs vão estranhar. Isso faz parte das mudanças. Mas, vale a pena aguardar as cenas dos próximos capítulos.

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Epílogo:

Junto com o Cidade Negra, Toni gravou outros oito discos, lotou estádios, lançou-se no cinema e virou sex symbol. Um belo dia, decidiu abandonar o barco, trocou o grupo por um disco solo que não aconteceu e hoje pode ser visto regularmente nas novelas da Record. E com o Cidade Negra, o que aconteceu? O inevitável. Encontraram um novo vocalista, gravaram um novo disco e voltaram para estrada. Sina de músico, sabe como é.

Mais:

http://www.myspace.com/cidadenegra

http://www.cidadenegra.com.br/

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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