Meio cantor, meio ator e artista por completo, o pernambucano Fênix pinta de contemporaneidade tudo que lhe aparece à frente. O visual remete a um Secos & Molhados mais enxuto e de cara limpa. A voz é um misto de Ney Matogrosso com Edson Cordeiro, mas, que fique claro, com personalidade própria. E é essa personalidade que o cantor imprime em Ciranda do Mundo Ao Vivo, lançado pela Sala de Som Records. Este é seu terceiro lançamento e vem após Eu, Causa e Efeito, de 2002, e Marfim, de 2004.

A comparação inevitável com Secos, Ney e Cordeiro se dá pelo fato do ator/cantor usar e abusar tanto do visual rico em cores e texturas, como da voz cheia de agudos. Tão plural quanto a imagem do rapaz, também é seu repertório. Entre canções novas, antigas e composições próprias, Em Ciranda do Mundo Ao Vivo, Fênix põe pra fora sua boa capacidade de pescar aquilo que que se encaixa bem no seu estilo.

Para abrir os trabalhos ele escolheu Vaca profana, música de Caetano Veloso lançada por Gal Costa em 1984. Acompanhado por uma banda formada por João Gaspar (violão e guitarra), André Vasconcelos (baixo), Cássio Cunha (bateria), Lui Coimbra (cello), João Bittencourt (acordeom), Jovi Joviniano (percussão), Daniel Santiago (violão) e Rannieri Oliveira (teclado), a música vai do lento ao rock, já para testar a capacidade vocal de Fênix. Aprovado, ele já emenda com Zapping composição bilíngue da própria safra tirada do seu primeiro disco.  

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Os arranjos de João Gaspar, embora em alguns momentos pareçam repetitivos, conferem o peso exato às canções, deixando que a voz cheia de Fênix se sobressaia. Esse é o caso de Feira moderna, música de Beto Guedes, Fernando Brant e Lô Borges, já visitada pelos Paralamas do Sucesso. No momento delicadeza, Sonho de Ícaro, de Pisca e Cláudio Rabello, foi escolhida para provar que o protagonista desta história não é um cantor qualquer. Outra boa sacada de arranjo foi o tangueado feito em No rancho fundo, de Ary Barroso e Lamartine Babo. Já tinha um tempo que ninguém fazia tão bem esta canção.

O repertório selecionado por Fênix e pelo jornalista Rodrigo Faour vai ainda por caminhos pouco explorados. Dos subjugado Tribalistas, Carnavália (“Vamos pra avenida/ Desfilar a vida/ Carnavalizar”) resume o clima da apresentação e Forró dos infernos S/A, do conterrâneo Lula Queiroga, leva o moço de volta para o Nordeste. Aliás, foi no Conservatório de Música de Recife que ele desenvolveu sua técnica vocal. De sua cidade, partiu para o Rio de Janeiro, em 1994, e, em seguida, para Nova Iorque, onde conheceu Gerald Thomas que o convidou para encenar “O Cão Andaluz”, espetáculo baseado na obra de Garcia Lorca.

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O show que deu origem a Ciranda do Mundo Ao Vivo foi gravado no dia 18 de novembro de 2008, no Teatro Baden Powell, Rio de Janeiro. Planejando agora lançá-lo em DVD, a apresentação contou ainda com as participações especiais de Zé Ramalho, na sua Avohai, e de Silvia Machete, numa releitura curtinha de É luxo só, de Ary Barroso e Luiz Carlos Peixoto. Variado e criativo, Fênix, ainda pouco conhecido para o grande público, é uma boa surpresa para os fãs da boa música brasileira.

Site do artista:

www.cantorfenix.com.br

www.myspace.com/fenixjoaodeoliveira

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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