Do portal UOL (por Beto Feitosa)

Menos de um mês de lançar o álbum Retirante, com raridades de Gilberto Gil, o selo Discobertas volta a colocar no mercado capítulos pouco conhecidos dos primeiros anos de carreira do compositor. Dessa vez o produtor Marcelo Fróes reedita a trilha sonora de Copacabana mon amour, comédia de Rogério Sganzerla lançada em 1970.

Com história tão psicodélica quanto o roteiro e sua música o álbum permaneceu inédito, seu único registro era na montagem final do filme. O diretor havia perdido as fitas originais que só foram localizadas em 1998 por Fróes nas mãos de um colecionador inglês. O álbum, então ainda inédito, foi masterizado no Rio e editado nesse mesmo ano como parte de um box que trazia a obra de Gil. Chegou a ser comercializado de forma independente, mas estava novamente fora de catálogo. Agora, de volta ao mercado, traz ainda nova (e bem superior) capa, baseada no cartaz promocional do filme.

Com 48 minutos de duração o disco traz apenas 6 faixas, sendo que Diga a ela aparece em duas versões, tiradas de takes diferentes. Foi a primeira gravação de Gil durante seu exílio em Londres. Atendendo encomenda do cineasta brasileiro, Gil gravou em dois canais voz e violão, depois fez algumas dobras por isso em alguns momentos pode-se ouvir a voz de Gil em dueto. As outras participações ficam com a flauta de David Linger, a percussão de Cláudio Karina e o violão e o backing de Péricles Cavalcanti.

O disco mostra um Gil bem à vontade, dando até impressão de que grande parte trata-se de improviso nas longas linhas instrumentais. Duas das cinco canções não têm letra, Blind faith e Yeh yeh yah yah. As demais misturam inglês e português com boas sacadas do Gil tropicalista exilado como Tomorrow vai ser bacana, título de uma das músicas. Ou em Diga a ela o recado que seguiu na fita: “Diga a ela que eu volto amanhã de manhã (…) Oh Bahia…”.

De forte valor documental, Copacabana mon amour não é dos mais geniais álbuns dessa fase (muito produtiva e criativa) do artista. Mas é peça importante que permaneceu oculta por muitos anos. Como previa na música gravada em tempos difíceis, o futuro do artista foi bem mais do que “bacana”. Gil hoje tem uma das mais importantes obras da música brasileira contemporânea. Por isso mesmo essa peça volta a fazer sentido e se torna necessária para contar sua história.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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