Por André Teixeira (@andretb84)

Cláudio Zoli intérprete e compositor de Noite do Prazer

Durante toda a minha infância eu cantei o sucesso do Jorge Ben “Rio Maravilha, nós gostamos de você. Rio Maravilha, faz mais um pra gente ver”. Nos últimos anos descobri que o correto é Fio, e não Rio Maravilha. A composição faz homenagem a um ex-jogador do Flamengo. Mais recentemente, descobri também que esse tipo de trapalhada musical tem nome: chama-se virundum.
 
Virunduns são aquelas confusões que todo mundo já cometeu um dia cantando uma música errada. A origem do neologismo é uma leitura auditiva incorreta no primeiro parágrafo do Hino Nacional Brasileiro, “o virundum piranga as margens plácidas”.
 
Alguns exemplos de virunduns são hilários. Na composição Noite de Prazer, de Cláudio Zoli, quem nunca cantou “Na madrugada a vitrola / rolando um blues / tocando de biquíni sem parar”, quando o correto seria “cantando B. B. King sem parar”? Em Seduzir, do alagoano Djavan, o erro dá uma conotação mais defumada: “Nem que eu bebesse o mar/ encheria o que eu tenho de fundo” por vezes a segunda frase é cantada “o cheirinho que eu tenho de fumo”. Nada agradável. Na próprio Fio Maravilha, descobri que há várias variáveis de virundum; algumas são Filho Maravilha, Trio Maravilho, Riso Maravilha…
 
Os exemplos são diversos. Alguns deles, de músicas cantadas em português, estão catalogados no site www.virundum.com. Há também um banco de dados recheado de virunduns na língua de Shakespeare em www.kissthisguy.com.

 
As explicações linguísticas são várias. Em certos casos, como em Noite de Prazer, a palavra trocada é um estrangeirismo ou mesmo um verbete de nosso vernáculo pouco comum no cotidiano, de modo que temos dificuldades em assimilá-lo. Muito mais simples trocar por uma palavrinha mais simples, como “biquíni” em vez da graça “B. B. King”, um blueseiro menos conhecido no Brasil do que o biquíni. Noutros, o simples juntar do final de uma palavra com o começo de outra forma um terceiro som, a chamada cacofonia. Aqui temos o exemplo de um hit de Erasmo Carlos, Mesmo que Seja, que nos faz cantar “um homem para chamar Dirceu”.
 
Por um motivo ou por outro, os virunduns divertem e nos fazer pagar um mico confidencial. “Caramba. Eu cantei errado esse todo!”, foi mais ou menos isso o que pensei logo que descubri quem era o tal artilheiro do Flamengo.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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