Muito foi (e continua sendo) escrito sobre John Lennon. Seu talento, suas incoerências, seus traumas, sua sexualidade, tudo já foi motivo de registro pelas mãos de uma boa leva de escritores, estudiosos, cineastas, teatrólogos, teólogos, pais e mães de santo. De fato, o polêmico e talentoso cantor e compositor dos Beatles era digno de merecer tanta atenção. Não só pela sua produção artística, mas também pelas muitas histórias que protagonizou ao longo seus 40 anos de vida (1940-1980). Se não, vejam: 1) Lennon, ainda pequeno foi deixado na casa da tia, irmã de sua mãe, para que fosse criado, uma vez que sua mãe optou por uma errante vida de artista sem nenhuma expressão. 2) Tia Mimi, como forma de educação, botou quente no rapaz e, na dúvida, achava melhor proibir, seja lá o que fosse. 3)A figura que teve mais próxima de um pai foi o marido de Mimi, uma vez que seu pai biológico pouco aparaceu antes de ver o filho famoso. Adulto e realizado profissionalmente, Lennon continuou gerando histórias. 4) Foi líder, cantor, guitarrista da maior banda de rock da história e um dos principais compositores da história da música pop mundial. Isso sem nenhum exagero. 5) Foi casado duas vezes. Uma vez com Cinthya, mãe de seu primeiro filho, Julian, mas ambos tiveram pouco cartaz do cantor. Na segunda vez, ele escolheu Yoko Ono, artista vanguardista oriental, odiada por meio mundo por ser considerada a culpada pela separação dos Beatles. 6) Pra completar, ele ainda foi perseguido pelo governo dos Estados Unidos por suas posturas públicas quanto à guerra do Vietnã e outras causas e 7) acabou morto por um suposto fanático louco inconformado com as posturas do seu ídolo. Ufa! Com um currículo como esses, John precisa mais do que ninguém de um analista. Pois é a este papel que o americano Gary Tillery se oferece no livro John Lennon: O ídolo que transformou gerações (Universo dos Livros). Atrelado a um resumo biográfico sem grandes novidades, o autor se detém em analisar e construir ligações entre os fatos vividos pelo ex-Beatle. Sem medo de anagariar ódios, Gary defende claramente a importância de Yoko Ono na vida artística de John. Para o biógrafo, ela funcionou como um combustível quando o marido precisava se largar de qualquer amarra na hora de compor, pintar ou protestar. Embora para muitos isso seja um absurdo, a argumentação é bem plausível. Mesmo tendo entrado para a história como a demoníaca e aproveitadora culpada da separação dos Beatles, Yoko já gozava de certo respeito como artista plástica e deu corda pra Lennon fazer e acontecer dentro do que havia de mais experimental no campo artístico. Vide Unfinished Music No 1: Two Virgins, primeiro disco do casal, lançado em 1968, compostos somente por ruídos desconectados. Gary Tillery também detalha como nasceram boa parte das composições de John Lennon e o que elas guardavam de informações sobre o autor e sobre a época. Nem tudo é inédito e a edição é simples e fininha diante do tema que aborda. Isso acaba sendo uma vantagem, pois não torna a leitura entediante, se detendo apenas ao essencial. Sem fotos do biografado, John Lennon: O ídolo que transformou gerações é quase um estudo monográfico sobre um personagem e, dada o ano em que está sendo lançado (aniversário de 70 anos de nascimento de Lennon, completados em 9 de outubro, e 30 anos de morte, completados em 8 de dezembro), fica com um gostinho de caça-níquel. Ainda assim, é uma leitura interessante para quem quiser se iniciar no assunto.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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