Quando esteve em Fortaleza em maio deste ano, Nando Reis anunciou em primeira mão ao O POVO que gravaria um show com canções que estiveram presentes em sua formação como músico. O nome dos homenageados era de assustar os fãs de Bichos Escrotos e Hereditário. Entre os eleitos, Roupa Nova, Wando e Guilherme Arantes. Pra quem já estava de cabelo em pé, deve ter caído para trás quando leu o nome temporário do projeto: O Bailão do Ruivão. O fim do ano chegou e o que era um projeto de nome temporário, virou realidade. O Bailão do Ruivão saiu em CD (19 faixas) e DVD (23 faixas) pela Universal Music com o próprio Ruivão, ladeado pelos seus Infernais, interpretando os tais nomes citados mais outros até então nunca imaginados na boca do nosso Neil Young brasileiro. Fazendo uma avaliação teórica detida aos conceitos artísticos, mercadológicos e auditivos, posso dizer que o resultado é “super médio”. No início, ele até empolga com a guitarra azeitada de Carlos Pontual incendiando Venus, clássico discoteque da esquecida banda Shocking Blues. Em seguida eles fazem um cover de Agora só falta você, clássico de Rita Lee que virou o hino de quem quer se libertar de qualquer ordem (e de quem quer fazer de conta que quer se libertar de qualquer ordem). A questão é que o trabalho parece bem populista quando ele chama ao palco Chimbinha e Joelma da Banda Calypso para um dueto na lambada Chorando se foi e Zezé di Camargo e Luciano em bem melhor situação (verdade seja dita) com Você pediu e eu já vou daqui (nos extras eles também cantam Do seu lado). Algumas canções ficaram boas, mas mudam bem pouco dos seus originais. Tudo bem que Nando não tem o vozeirão de Tim Maia na hora de cantar Gostava tanto de você, mas também não faz feio. Apesar das críticas dos fãs titãnicos mais xiitas, o Bailão do Nando merece ser visto mais como umas férias no compositor e como um trabalho que não compromete sua história ou como uma brincadeira. Também não deve ser visto como um momento onde ele resolveu mudar e fazer tudo que queria fazer. Parece que nem o próprio ruivo estava a fim de levar algo a sério, quando ele convidou uma oncinha pintada, uma zebrinha listrada e um coelhinho peludo para dançarem Bichos escrotos no palco. Aliás, acho muito legal que, em tempos de crise no mercado fonográfico, alguém ainda bata no peito e faça um trabalho como esse. Não sei se foi ideia dele de fato, mas acho que manteve a dignidade (apesar dos convidados). Tudo bem, Você não vale nada era perfeitamente dispensável, e, ao mesmo tempo, Fogo e Paixão junto com My pledge of love ficou muito boa. No fim das contas, se você acha o Nando Reis ruim, vai passar a achá-lo pior. Se o acha bom, vai torcer o nariz mas vai encontrar coisas boas. Se é fã ardoroso, vai dizer que ele é corajoso, que o disco é bom, mas vai continuar ouvindo mais o compositor. É isso.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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