Quando, em 1962, um avião da Varig partiu para Nova York com uma leva de representantes da Bossa Nova, um nome havia ficado esquecido, Alfredo José da Silva, ou melhor, Johnny Alf. Cantor, compositor e pianista com fortes influências jazzísticas, Johnny fazia Bossa Nova bem antes de batizarem aquela batida de Bossa Nova. O fato é que este foi apenas um dos episódios que fez dele mais um nome famoso guardado na gaveta dos esquecidos. E foi lá ele ficou até sua morte, em 4 de março de 2010, vítima de um câncer de próstata.

Ídolo de Tom Jobim e João Gilberto, Johnny Alf começou no piano ainda criança ouvindo grandes mestres da canção americana, como Cole Porter e George Gershwin. O resultado disso é que ele foi uma das maiores estrelas nas muitas boates cariocas e paulistas dos anos 1950 e 1960. E foi dessa mistura de som de boate e standarts internacionais que ele criou boa parte das canções apresentadas nos três discos de Johnny Alf entre Amigos (Lua Music).

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Com produção de Thiago Marques Luiz, a caixa começa revelando a verdadeira vocação de Johnny. No disco Ao vivo e à vontade com seus convidados, ele recebe Cida Moreira, Ed Motta, Leny Andrade e Cauby Peixoto numa série de registros mais que informais. “Faz o comecinho comigo”, pede Cauby na hora de lembrar a letra de Gesto Final. Inéditas até então na voz rouca de Alf, Palpite infeliz (Noel Rosa), Over The rainbow (Arlen/ Harburg) e Tempo à beça (João Nogueira), assim como as outras faixas do disco, estavam guardadas pelo seu empresário Nelson Valencia, o que explica a qualidade irregular dos registros.

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O segundo disco, Johnny Alf por seus amigos, traz um time de novatos e veteranos regravando 17 composições de Johnny Alf. O repertório vai de grandes sucessos, como Eu e a brisa, muito bem defendida por Leila Pinheiro somente ao piano, até a inédita Quem te ama sou eu apresentada por Maricenne Costa. Fechando o conteúdo de Johnny Alf Entre Amigos, Alaíde Costa empresta seu canto pesaroso os lados B do compositor no tributo Em tom de canção. Respeitando o tom jazzístico e dissonante típicos do pianista, a cantora mostra por que “era a voz que Johnny mais gostava de ouvir”. E, ao final, fica dúvida: por que Johnny Alf morreu sozinho, numa casa de repouso e em dificuldades financeiras? Injustiça? O velho esquecimento brasileiro? Timidez? Coisa de gênio? Fica sem resposta.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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