Uma amiga costumava dizer que Caetano Veloso é um menino. Atento às novidades e vanguardista há mais de 40 anos, ele, aos 68 anos, parece mesmo brincar com na própria carreira quando se permite testar novos formatos. Numa linha temporal bem resumida, ele saiu da Bossa Nova para a Tropicália e depois para o rock, música latina, música americana, Beatles e Rolling Stones. A última dessas invenções foi em 2006, quando se despediu dos elegantes arranjos elegantes do disco A foreign sound para cair no indie rock e lançar o disco .

Mais uma vez acompanhado apenas de baixo, bateria e guitarra, Caetano voltou três anos depois com o disco Zii e Zie, onde a mistura o estilo rocker com o samba. O trabalho rendeu uma turnê, que passou por Fortaleza em 2009, e que agora se despede com o lançamento do CD/DVD MTV Ao Vivo Zii e Zie, dirigido por Hélio Eichbauer, Fernando Young Brasileiro (vídeo) e Moreno Veloso (música). “Essa é a banda Cê tocando pela última vez o repertório do disco Zii Ziê”, anuncia Caetano durante a apresentação gravada dias 7 e 8 de outubro e 2010, no Vivo Rio.

Caetano nem pretendia gravar a nova turnê, mas mudou de ideia por conta da insistência do filho Zeca (16). O resultado é um trabalho bem semelhante ao anterior, Cê – Multishow Ao Vivo. Junto com o repertório do novo disco, ele adapta canções de épocas variadas à sonoridade da Banda Cê, formada por Pedro Sá (guitarra), Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo). Com jovens músicos da cena independente (os dois últimos fazem parte da banda Do Amor), a banda se formou a partir de um encontro de Caetano com Pedro Sá, amigo de infância do filho Moreno Veloso.

O namoro de Caetano com a “emetevê” já vem de bastante tempo, com direito inclusive a crises, como quando o baiano passou um rela na produção do VMB, em 2004, diante dos problemas de som que prejudicaram sua apresentação ao lado de David Byrne. Ano passado inclusive, chegou a se anunciar que Caetano lançaria seu Acústico MTV, comemorando os 20 anos do canal. O acústico não saiu, mas o Ao Vivo saiu em três formatos: CD (17 músicas), DVD simples (23 músicas) e DVD duplo, que inclui um bônus com making of e trechos do show Ordem e Progresso, que deu início a toda essa brincadeira com o indie.

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Se, na metade dos anos 60, Bob Dylan quase foi apedrejado pelos fãs que não aceitaram o fato dele ter trocado o violão pela guitarra, para Caetano essas mudanças são bem mais esperadas. Afinal, ele já gravou com Mutantes, Beat Boys, Timbalada e Só Pra Contrariar. De forma rápida, ele mostra isso em seu MTV Ao Vivo quando começa com A voz do morto, uma crítica afiada aos defensores do purismo musical entregue no início dos 60 a Aracy de Almeida. “Eles querem salvar as glórias nacionais, coitados”, desdenha. Passa ainda por Beatles, Michael Jackson, João Bosco, Dorival Caymmi e explica a ligação da obra de Dylan com a do gaúcho Lupicínio Rodrigues. Para encerrar, a deliciosa Manjar de reis, quando puxa Jorge Mautner para o palco.

Totalmente à vontade com a experiência de dividir o palco com os jovens da banda Cê, que não eram nem nascidos quando parte do repertório foi criado, Caetano ainda pretende gravar mais um disco com o trio antes de partir para outra aventura. E aí pode vir o que vier. Com espírito de menino, ele prefere planejar o próximo passo, ao invés de pensar no que a idade não lhe permite mais.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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