Comemorando os 15 anos de carreira, Pedro Luís e a Parede chegam às lojas em versão turbinada. O CD/DVD Navilouca Ao Vivo capta o quinteto na meca do rock nacional, o Circo Voador. Como mestre-de-cerimônias, o poeta Chacal apresenta o grupo que uma década e meia antes estreava com uma proposta nova envolvendo o funk, o rock, o samba e outras levadas. Para a festa, eles convidaram o Paralama Herbert Vianna e Lenine, dois amigos de longa data e que já participaram dos outros cinco discos do grupo. Com cara de churrascada de fim de semana, Pedro e sua trupe parecem se divertir tanto quanto quem está na plateia. Enquanto não chega às lojas com seu primeiro trabalho solo, Pedro conversou por email com o Discografia e contou mais detalhes daquela gravação. Acompanhe.

DISCOGRAFIA – Queria que você começasse falando sobre esses 15 anos da banda. O que mais mudou no trabalho de vocês?

Pedro Luís – A banda começou despretensiosamente e foi tão bem acolhida que logo caiu na estrada definitivamente. No primeiro CD, Astronauta Tupy (1997), tivemos a produção diferenciada de Tom Capone, que nos deu uma dimensão do que se poderia fazer sonoramente em estúdio, a partir da simplicidade instrumental que havíamos escolhido para formatar a banda. De lá pra cá, foram muitos discos e a criação de um projeto que acabou ficando muito maior que a própria banda podia imaginar, o Monobloco. Aos poucos estamos conseguindo administrar o furacão e retomar o projeto autoral da PLAP. De 2008 pra cá lançamos Ponto Enredo e, recentemente, Navilouca – ao vivo.

DISCOGRAFIA – A Parede foi apontada como uma das grandes musicais dos anos 90, principalmente por conta da mistura de estilos. Como nasceu esse conceito de vocês?

Pedro Luís – A partir de experimentações em cima de minhas canções escolhemos uma formação instrumental bem portátil, quase um forró,  e deixamos aflorar o vocabulário musical de cada um. O conceito foi se criando a partir disto.

DISCOGRAFIA – O Navilouca ao Vivo foi gravado no Circo Voador, talvez o palco mais importante do rock e do pop brasileiro. Como foi aquela noite?

Pedro Luís – Foi especial: a plateia generosa, cúmplice, o que é ideal numa situação como estas, pois a gravação de um DVD não é das coisas mais confortáveis de se assistir. A presença dos convidados, Hebert Vianna e Lenine, parceiros de longa data, engrandeceu o acontecimento. Procuramos também fazer um show curto e optamos por só repetir o extremamente necessário no final, de forma que o show acontecesse inteiro para o público. Somado a tudo isso o Circo Voador, casa que recebe um espectro bem diverso de artistas e espetáculos e que é uma de nossas casas no Rio.

DISCOGRAFIA – O show conta com a participação de Herbert Vianna e do Lenine, dois nomes importantes para a história do Plap. No entanto outros nomes foram bem importantes como a Fernanda Abreu, Aríca Mess e Rodrigo Maranhão. Queria que você falasse sobre essas parcerias.

Pedro Luís – Parcerias são sempre importantes. A Parede, praticamente, se formou quando eu dirigia o trabalho da Arícia Mess, que fazia um supre sucesso no Rio nos anos 90. Muitas das minhas canções que vieram formar o repertório seminal da PLAP já estavam nesses shows da Arícia. Fernanda Abreu, além de minha parceira, foi a primeira artista inserida no mercado fonográfico a gravar canções minhas. Rodrigo Maranhão foi meu colega na universidade, quando cursei música na Uni Rio. Acho que a admiração mútua nos tornou parceiros, temos em torno de meia dúzia de canções juntos.

DISCOGRAFIA – Ainda sobre as parcerias, uma das mais célebres, sem dúvidas, foi com o Ney Matogrosso. Vocês ainda têm contato? O que representou pra vocês um encontro com um nome tão consagrado quanto o Ney?

Pedro Luís – Ney além de ser um dos maiores artistas desse pais é uma figura extremamente generosa, que nos concedeu a honra de conceber integralmente um trabalho em parceria, o Vagabundo, que muito nos orgulha. Sempre que posso estou em contato com ele. Me honra quando grava canções minhas, como já aconteceu antes e também depois do Vagabundo. Acho que os aprendizados foram muitos, mas Ney tem uma percepção muito especial da totalidade de um espetáculo e também do conteúdo de um álbum. Além do que foi um prazer especial dividir os vocais com uma das maiores vozes brasileiras de todos os tempos. Eu diria até que foi uma ousadia de minha parte.

DISCOGRAFIA – Em 2003, vocês estiveram em Fortaleza e chegaram a se surpreender com o público que sabia cantar as músicas junto. Vocês ainda passam por esse tipo de surpresa nos dias de hoje?

Pedro Luís – Com certeza e graças a Deus! Recentemente foi assim com o Ponto Enredo. Um álbum que praticamente não tocou em rádio ou TV, mas que por onde passamos nos surpreendemos com a plateia cantando junto as canções.

DISCOGRAFIA – Hoje vocês se dividem entre a Plap e o Monobloco. Qual a diferença entre os shows e o público dessas duas bandas?

Pedro Luís – Os públicos são quase que integralmente distintos, com raras interseções. Assim como os shows são bem diferentes: o Monobloco é um baile de canções consagradas da música brasileira enquanto o show da PLAP é basicamente autoral, canções minhas com parceiros, escolhidas e arranjadas por nós cinco. Para nos dividirmos entre os dois trabalhos criamos um sistema de revezamento que beneficia não só nós da PLAP, mas todos os integrantes do Monobloco Show. A grande estrela do show do Monobloco é o repertório e a maneira como ele é tratado. O time muda, mas o espetáculo é o mesmo. Todos podem ter suas iniciativas particulares, sem prejuízo para o espetáculo.

DISCOGRAFIA – Além do seu trabalho com o Plap, você é um compositor bastante requisitado. Como é o Pedro Luís compositor? Você já faz a música pensando em que vai interpretá-la?

Pedro Luís – As maneiras de compor são muitas. Uma delas, na qual rendo até bem, é através de encomenda, me instiga deveras. Acho que é onde me sinto mais confortável e competente é nos ofícios de compositor e poeta, para todo o resto me faltou estudo, dedicação.

DISCOGRAFIA – Mesmo já tendo um nome estabelecido no cenário musical, vocês ainda encontram resistência em alguma parte do Brasil ao som de vocês? Alguns artistas comentam que é mais fácil tocar fora do Brasil do que dentro. Isso acontece com vocês?

Pedro Luís – Com o Monobloco, que tem um apelo mais popular, já há mais praças dominadas. A PLAP ainda tem um longo percurso a ser conquistado, apesar de, em algumas praças, já ter um público bem fiel. Mas esta história de lá fora é mais lenda do que qualquer coisa, na maioria das vezes.

DISCOGRAFIA – A questão dos direitos autorais, downloads gratuitos e pirataria estão sempre em pauta. Qual, na sua opinião, é solução mais viável para a discussão?

Pedro Luís – Estamos no meio do caminho desse entendimento. Fato é que a cultura e o entretenimento musical tem que ser mais democrático e acessível do que na época de ouro da indústria fonográfica, mas o compositor e o intérprete não podem ser punidos por isso. Produzir música para ser consumida custa tempo, dinheiro e intelecto. Tem que se desenvolver uma nova cultura, educação e respeito acerca disto.

DISCOGRAFIA – Inclusive, você preparando sua estreia solo? O que pode adiantar sobre este trabalho? Previsão de lançamento? Em que ele vai se diferenciar do seu trabalho com a Parede?

Pedro Luís – Ainda não posso adiantar muito em relação a este projeto solo, pois realmente ainda está em processo, mas uma diferença é que posso me permitir territórios sonoros ou estéticos que não cabem na linguagem da banda. É também um exercício de solidão fundamental para o compositor, uma conversa mais íntima. Não tem juízo de valor nisso, é só diferente.

DISCOGRAFIA – Quais são os planos agora para a PLAP?

Pedro Luís – A PLAP  está partindo para a estrada em abril, com um show baseado no repertório do DVD Navilouca e mais algumas novidades que estamos ensaiando.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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