Nascido em Nazaré das Farinhas, interior baiano, em 1947, Roque Augusto Ferreira é sambista de mão cheia. Influenciado pelo som pulsante do samba de roda, do coco e de outros ritmos vindos do recôncavo baiano, ele compôs dezenas de canções, desde os 14 anos, sempre dando destaque ao som dos tambores. Apresentado em 1979, com “Apenas um adeus” por Clara Nunes, suas músicas já ganharam voz com a diva Maria Bethânia, com a novata Mariene de Castro e com a malandragem de Zeca Pagodinho. Pesquisador da cultura brasileira e um dos mais importantes compositores do samba baiano, ele é apontado pelo músico e produtor Rildo Hora como “o Câmara Cascudo da música”.

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Como quem quer mostrar um algo mais na obra de Roque Ferreira, Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil decidiram lançar um olhar camerístico sobre a obra do compositor. O resultado foi o disco Quando o canto é reza (2010), que será apresentado neste sábado e domingo no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar. No disco/show, as cordas virtuosas de Ronaldo do Bandolim, Zé Paulo Becker (violão) e Marcello Gonçalves (violão 7 cordas) e a voz doce de Roberta ganham destaque sobre a percussão de Zero e Paulino Dias. Embora tenha sido pensado para teatros, o show tem atraído muitos elogios e público, como as 20 mil pessoas que assistiram o show aberto em João Pessoa no último 25 de março. “É surpreendente. Já está virando baile. O público é quente, fica batendo palma, dançando e cantando junto. Isso prova a teoria de que não pode subestimar o público”, confirma a cantora por telefone.

Fruto de uma amizade “daquelas de tomar cerveja junto”, o encontro da cantora com o trio começou com a gravação de Afefé, de Roque Ferreira, para o disco Samba Novo (2007). Já que a química funcionou, veio então a ideia de fazer um disco inteiro só com composições do baiano. “Em roda de cerveja sempre aparece a ideia de um disco”, brinca a cantora que ainda prepara um documentário sobre Roque, junto com o Trio.

Mas, se a troca da batucada pelos elaborados arranjos de cordas rendeu elogios, acabou rendendo também um problema para os músicos quando o jornal Estado de São Paulo publicou uma matéria afirmando que o compositor não teria ficado satisfeito com o disco, justamente pela falta da bateria. “O disco dele é diferente, mas isso foi intenção nossa. Fizemos à nossa maneira”, explica Marcelo Gonçalves completando que tudo não passou de um mal-entendido. Roberta continua: “Ele ligou pra mim chorando, super chateado. Ele é uma pessoa muito querida. A jornalista escreveu maldosamente”.

Passado o assunto, Roberta e Trio Madeira Brasil seguem para o fim da turnê em conjunto e já preparam seus novos trabalhos solo. O Trio, ao mesmo tempo que está relançando seu disco de estreia, gravado em 1998, prepara também material novo, que deve ser lançado até o fim do ano. E Roberta promete o mesmo prazo para lançar o sucessor do ao vivo Pra se ter alegria. “Nem posso lhe adiantar nada por que ainda não comecei a fazer. Mas, sai no fim do ano. Ta muito embrião ainda”.

Quanto ao que este disco/show deixou para eles, Marcelo conta que “é um projeto de encontros. O Roque começou a se encontrar e virou parceiro nosso e do Pedro Luís. No Rio, pensamos em fazer encontros com outros artistas que já cantaram músicas do Roque”. E quanto a um novo encontro do “quarteto”, Roberta Sá não descarta a chance. “Esse trabalho agregou o público meu, do Trio e do Roque. Ficou material para outro disco”.

Discografias:

> Roberta Sá:

– Sambas e Bossas (promocional) (2004)

– Braseiro (2005)

– Que Belo Estranho Dia Para se Ter Alegria (2007)

– Samba meets Boogie Woogie (importado) (2008)

– Pra se Ter Alegria (2009)

> Trio Madeira Brasil:

– Trio Madeira Brasil (1998)

– A flor e o espinho (com Guilherme de Brito) (2003)

> Roque Ferreira:

– Tem samba no mar (2004)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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