John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison. Mais do que o nome de quatro músicos ingleses, é o nome de um quarteto que esteve à frente do que existe de mais relevante em termos de música popular e revolução comportamental do século passado. Atendendo pelo nome de The Beatles, eles criaram uma obra simples de ouvir, complexa de compreender em sua totalidade, mas pronta pra balançar até o mais bruto dos brutos. E, quando era pra emocionar, difícil segurar as lágrimas. Falaram sobre amor, paz, guerra, vida, morte e deram a cara a tabefe expondo seus próprios dramas pessoais. Como resultado, mesmo já tendo passado mais de trinta anos desde que eles encerraram as atividades, o quarteto de ouro das terras da rainha Elizabeth continua inspirando pessoas e despertando a curiosidade de muitos que querem saber mais, ler mais e ver mais detalhes das intimidades de cada um. Como consequência disso, a cada semana, são despejados nas lojas dezenas de produtos com a marca The Beatles. Nem todos trazem algo novo. Mas, pra quem é fã, que importa.

Mais cores que o preto e branco

O mais novo desses produtos chama-se Um dia na vida dos Beatles (Cosac Naify). Assinado pelo fotógrafo Don McCullin o livro rúne quase uma centena de fotos (a maior parte inédita) captadas durante um único dia das gravações do confuso Álbum Branco. Numa época em que a banda já vivia a ressaca da hiperexposição, o áalbum trazia 30 canções que apontavam para as mais diferentes direções, desde um fox ou uma canção de ninar, até o heavy metal. A capa minimalista trazia apenas o nome da banda sobre um amplo fundo branco (daí o apelido Álbum Branco). Nos bastidores, brigas, desentendimentos, ciúmes e uma sensação de que o sonho estava chegando ao fim. E foi no  meio desse clima que eles convidaram o veterano fotógrafo de guerra Don McCullin, recém saído do Vietnã, para fotografá-los durante um único dia, o 28 de julho de 1968. Mesmo espantado com o convite e sem experiência naquele tipo de trabalho, Don gastou 15 rolos de filme e passeou com o quarteto por Londres captando as imagens. Apesar do clima tenso que vivia o quarteto, o que está impresso em Um dia na vida dos Beatles são quatro jovens, felizes, coloridos em momentos de rara intimidade, como um John se fazendo de morto, ou um Paul sem blusa apontando as próprias gordurinhas ou até todos brincando com um papagaio que apareceu por ali. Nem a presença constante de Yoko Ono foi capaz de atrapalhar o andamento dos trabalhos. “O dia foi uma série de acontecimentos aleatórios. Eles simplesmente mergulhavam nas situações. E se mostravam totalmente receptivos”, comenta McCullin na introdução. O disco foi lançado e, após mais três lançamentos, a banda encerrou as atividades de uma vez por todas deixando uma geração orfã para trás. E, mesmo para quem não acompanhou os ídolos vivos, saber, ler, ver e ouvir mais e mais sobre os Quatro de Liverpool ainda é uma fonte de extremo prazer. Afinal, melhor do que ninguém, eles souberam transformar o hobby de tocar em revolução. Com a palavra Mr. McCartney: “Don é um cara legal. Ele é um dos grandes fotógrafos britânicos. Pensamos que nós mesmos teríamos de ser a guerra. Vamos providenciar o campo de batalha e tudo vai dar certo. Ele simplesmente vai acompanhar toda a ação. E foi exatamente o que aconteceu”.

Retratos da revolução

A vida de John Lennon (Escrituras) já está há alguns meses nas lojas, mas também merece registro. Começa por se tratar de uma bela peça, encartada em edição luxuosa, tamanho grande e papel de altíssima qualidade. Partindo para o conteúdo, são textos de viés mais analíticos focando a vida conturbada de John Winston Lennon, músico, ativista, herói, bandido, pai, marido e ídolo. Se os textos escritos pelo historiador John Blaney trazem pouca novidade (difícil encontrar mais alguma novidade numa biografia já tão revirada), a cereja do bolo fica por conta das imagens. Divididas cronologicamente por épocas (Infância e início de carreira; Os beatles no auge; e A vida com Yoko, protestos sociais e independência), parte das fotos são creditadas por uma longa lista de agências. Outras foram “gentilmente” cedidas pela Sra, Yoko Ono Lennon. E é esta odiada e incompreendida mulher que assina o prefácio intitulado “Como fomos”. “Estávamos apaixonados um pelo outro e os dois pela vida, planejávamos um dia ficar em nossas cadeiras de balanço em Cornwall, esperando postais do nosso filho Sean. Esse era o sonho de John”. Sonho que foi interrompido por um maluco que resolveu expressar sua admiração e indignação disparando cinco tiros contra o ex-Beatle. As imagens de um John morto não aparecem no livro. Pelo contrário. As últimas imagens de mostram o cantor falando com a imprensa e, em outro momento, dando seu velho sorriso maroto, de quem está prestes a fazer outra danação. “Quando eu o vejo nestas fotos, automaticamente olho nos olhos dele. Você vê que às vezes ele coloca o queixo pra cima, com um ar bem petulante. Mas seus olhos nunca perderam o brilho… que o mantinha sempre motivado”, encerra Yoko.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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