DISCOGRAFIA – Como vai ser o show aqui de Fortaleza?
Luciano –
Podem esperar um show mais renovado, com muitos arranjos abastecidos por teclados, baixos, guitarras e baterias. Está mais moderno. O repertório traz entre outras Vem Ficar comigo, A ferro e fogo, Pra mudar minha vida, Antes de voltar pra casa, Do seu lado (em momento solo de Luciano na nova roupagem desta música assinada por Nando Reis e gravada pelo Jota Quest), Coração está em pedaços, Na hora H e Saudade Bandida. Do novo CD, tem Tapa na Cara, Ainda Ontem Chorei de saudade e Telefone Mudo.

DISCOGRAFIA – Como tem sido a repercussão do novo disco, Double Face? Como os fãs responderam à ideia de regravar clássicos do sertanejo?
 
Zezé –
Eu me orgulho do resultado geral do trabalho, que é uma realização de um sonho. Eu sempre quis gravar um CD de modão, pensando no público que ama o sertanejo. São dois CDs. Um só de inéditas com músicas na linha do que costumamos gravar em nossos CDs. O outro traz só modões, regravações de músicas sertanejas dos anos 90 a 2008, mas fomos fiéis às gravações originais. Chamamos até o maestro que gravou com o Trio Parada Dura e Chitãozinho e Xororó. O CD com modões é o que temos de mais diferente. São canções distribuídas por cordas, sopros, baquetas e timbres diversos. Escolhi aquelas que eu mais gostava  e olha que sobraram muitas. Quis escolher modas dos anos 80. O que sobrou da relação acho que vou colocar num próximo projeto. É a realização de um sonho gravar este CD com modões. Nele, temos polcas, chamamé, guarânia e rasqueado. Ao contrário do outro CD, este dispensa bateria. Apega-se a sanfonas, violas e harpa paraguaia, um afago aos ouvidos, entre outros instrumentos. E, embora o referencial do estilo seja mesmo os anos 80,  algumas dessas canções foram gravadas ainda na última década e uma delas, Voando Baixo, de Felipe e Edson, é inédita. Fechando o álbum, estão Cada Qual Tem Seu Valor (de Compadre Lima e Juliano, gravada em 1979 por Juliano e Jardel), Solidão no Seu Lugar (de Carlos Randall e Danimar, gravada  em 1996 por Chrystian & Ralf), Metade de Alguém (de Darci Rossi e José Marciano, gravada por Chitãozinho e Xororó em 1999), Aguenta Coração (de Carlos César e José Homero, também gravada por Chitãozinho & Xororó, em 1991), Roupa de Lua de Mel (de Carlos Randall e Dimarco, gravada em 1990 por Gian & Giovane), Do Outro Lado da Cidade (de Carlos Randall e Danimar, gravada por Guilherme & Santiago em 2003), Noite de Tortura (de Chrystian & Ralf, gravada em 1984), Não Quero Piedade (de Ronaldo Adriano, Zé da Praia e Barrerito, gravada em 1980 pelo Trio  Parada Dura), Copo Duplo de Solidão (de Maracaí, gravada por Adair Cardoso ainda em 2008) e Distante Dela (de Miltinho Rodrigues e Mangabinha, gravada pelo Trio Parada Dura em 1974).
 
DISCOGRAFIA – O que vocês estão planejando para a comemoração dos 20 anos de carreira da dupla?
Zezé –
Preparamos alguns projetos, que vão acontecer ao longo deste ano, em que comemoramos nossos 20 anos de carreira. O primeiro aconteceu dia 19 de Abril, quando todas as rádios populares do Brasil tocaram É o Amor, ao meio dia, pois a primeira vez que a música tocou no Brasil foi em 19 de abril de 1991, na Rádio Terra, entre meio dia e uma hora da tarde. Também fizemos várias ações em nosso site, twitter e facebook com promoções e distribuindo mil prêmios no dia 19. No dia 17 de abril, ganhamos uma homenagem do Fantástico. O programa homenageou oficialmente nossos 20 anos em rede nacional. E, no dia 24de abril, o Hoje em Dia da Record também fez um especial para nós. Pretendemos também gravar o DVD 20 anos de sucesso, em Salvador. E faremos vários especiais para a TV. Inclusive um para o Altas Horas, que será gravado em Goiânia.

Luciano – Quem sabe um seriado de 2 Filhos de Francisco (risos). Tantos filmes estão ganhando espaço como seriado na Globo. De repente…

DISCOGRAFIA – Vocês sempre passam uma imagem de serem muito próximos e muito amigos. Mas, quem tem irmão sabe que às vezes a coisa fica difícil. Quando é que vocês perdem a paciência um com o outro?
Luciano –
Não perdemos. Somos pessoas distintas. A união é o lema de nossa família bem como o respeito. Em casa fomos criados a respeitar o irmão mais velho e um cuidar do outro. Como temos gostos diferentes e ações diferentes, a gente procura seguir o ritmo de cada um. Por exemplo, cada um tem o seu carro quando chega na cidade para fazer show. O Zezé costuma ficar no camarim após o show para conversar com a banda, com o balé, com os colegas em geral. Eu só fico antes do show, quando atendemos o público e imprensa. Gosto de ir direto para o hotel, assistir TV, ler livros, sair pela cidade para fotografar e colocar no nosso site e twitter.

DISCOGRAFIA – Ao que parece, vinte anos depois, o sertanejo continua com uma boa quantidade de fãs. A que vocês atribuem isso?
Zezé –
O sertanejo é a paixão nacional, fala direto ao coração, sem rodeios, fala de amor.
 
DISCOGRAFIA – O filme sobre a vida de vocês fala bastante sobre as dificuldades que vocês passaram na infância. O que foi o primeiro luxo – não vale necessidades básicas como uma casa – que vocês se deram?
Zezé –
 Sinceramente, foi a casa que compramos para os nossos pais. Não adquirimos nada para a gente com o primeiro dinheiro. Nosso sonho era este: comprar uma casa para quem sempre acreditou no nosso sonho: seu Chico e dona Helena.
 
DISCOGRAFIA – O que vocês acham do sertanejo universitário? Conseguem reconhecer a influência de vocês nele?
Zezé –
 Não existe diferença entre o sertanejo que fazemos e o dito sertanejo universitário. Veja, por exemplo. Tem dupla de destaque e competente que regravou músicas de sucesso nossa ou de outro artista com um “pit” (levada mais rápida). Exemplo: Como um Anjo – sucesso nosso de 1994 – e Você vai ver, músicas que ainda estão na cabeça das pessoas, mas que estouram agora nas vozes de artistas do chamado sertanejo universitário. Eu sou a favor de trabalhos inéditos. A não ser que você faça o que a gente fez agora com o lançamento do Double Face. Mas se os novos artistas regravam nossos sucessos não tem nada demais. Não gosto do rótulo universitário. O que todos fazem é sertanejo e ponto. Pra que rótulos? Porque tem dupla que tem 17 anos de carreira, como João Bosco e Vinícius, que são meus amigos, que estão na estrada há muito tempo e fazem um belíssimo trabalho. Eles cantam sertanejo. Luan Santana canta desde que era criança. É um menino que eu admiro o trabalho. Maria Cecília e Rodolfo estão na estrada há três anos, Jorge e Matheus há pouco mais. João Bosco & Vinícius gostam de Zezé di Camargo & Luciano desde pequenos, mas ninguém pode esquecer que eu tinha 17 anos quando comecei. E esta galera cantou aí recentemente. Isso é muito bom. Reforça o gênero, só fortalece a música sertaneja, que é a paixão nacional. Muitos tem feito um excelente trabalho. Claro que, com o tempo, vai haver um peneira. O que é natural. Ficam os bons, sempre.
Luciano –  A música sertaneja faz parte da cultura do país, portanto, a cada ano surgem novas duplas e compositores excelentes. O gênero sertanejo não é modismo. A nossa origem é sertaneja, nunca negamos e não acreditamos que algum dia o nosso gênero tenha morrido ou venha a morrer. Como o Zezé diz, sertanejo universitário é um rótulo. Artistas como Jorge e Matheus, Victor e Léo, Fernando e Sorocaba, César Menotti e Fabiano e Maria Cecília e Rodolfo fazem sertanejo. Os leigos saem divulgando este rótulo de sertanejo universitário, como já teve forró universitário e pagode universitário. Esses novos artistas fazem o sertanejo. Assim como aconteceu com a gente. Quando começamos, fomos intitulados de new sertanejo e nós recusamos este rótulo. Houve uma peneira e ficaram os que tiveram o reconhecimento do público. O mesmo vai acontecer agora.
Zezé – Quando surgimos, no final dos anos 80, aquele fenômeno era maior do que esse, mas com menos gente dentro do movimento. Naquela época, tinha especial na Globo de música sertaneja, o Leandro e Leonardo tinham um programa na emissora, havia umas cinco rádios FMs de música sertaneja no Rio. Hoje, só tem uma. As pessoas tem memória curta, mas o espaço era bem maior. O Nordeste, por exemplo, não entrou, com a força toda como foi quando nós, Leandro e Leonardo começamos. Hoje, o dito sertanejo universitário é um fenômeno muito regionalizado, mais Centro-Oeste e Sudeste.

DISCOGRAFIA – Um dos nomes mais comentados ultimamente foi o da Paula Fernandes. O que vocês acharam do trabalho dela?
Zezé –
 Há pouco mais de três anos eu escutava a Paula nas rádios de São Paulo e pedi para comprar o CD. Nunca mais tirei do meu carro. Só a conheci pessoalmente em 2009, na Festa Nacional da Música, em Canela (RS). A Paula é a voz feminina mais linda do Brasil, atualmente. Sua voz é um hino.

DISCOGRAFIA – O que mais mudou no trabalho de vocês de 20 anos pra cá?
Luciano –
 Não tem como dizer “mudou”. Como todo o trabalho, a gente aperfeiçoou, investiu em instrumentos, em cenários, em criações para shows, produções, tudo. É um processo natural.
 
DISCOGRAFIA – Os primeiros trabalhos de vocês ultrapassaram a marca do 1 milhão de venda, enquanto os mais novos atingiram menos da metade disso. Creio que muito disso seja culpa da pirataria. Como vocês vêem essa questão do download? 
Luciano –
Mesmo em época de pirataria e desta loucura de baixar música pela internet, em  20 anos de carreira, já atingimos a marca superior de 35 milhões de cópias. Você pode observar o seguinte: o público de Zezé di Camargo & Luciano tem 2 tipos. O que baixa música na internet  e o que compra CD nas lojas. No ano passado vendemos quase 500 mil cópias. Foi o segundo CD mais vendido. E isso porque lançamos o Double Face em outubro. Falo deste trabalho porque ele resgata o sertanejo feito nos anos 80, com regravação original mais músicas inéditas, que retratam o nosso trabalho atual. Somos artistas que tem por obrigação fazer um trabalho deste, com álbum duplo, respeitando o público. Na maioria  dos casos, a vendagem de um artista não paga o investimento que a gravadora tem na produção de um CD. No caso de Zezé Di Camargo e Luciano, a vendagem de nosso CD paga e muito. Nós não temos o chamado contrato de comissão com a gravadora. A gravadora não tem porcentagem em nosso shows com alguns artistas têm. Não é arrogância. Porém, contra os fatos não existem argumentos. Também é fato que o gênero sertanejo não é moda. Ele é sucesso a cada geração que surge.
 
DISCOGRAFIA – Ainda em relação a isso, muito se tem discutido e reclamado sobre o ECAD. Qual a opinião de vocês sobre este órgão?
Zezé –
Ele é rigoroso na arrecadação, mas não tem a mesma agilidade ao repassar para o compositor. Mesmo assim, posso dizer que melhorou muito.
 
DISCOGRAFIA – Se depender dos fãs, vocês vão ter mais 20 anos de carreira. Vocês também pretendem trabalhar por mais 20 anos?
Zezé –
 Quero cantar e trabalhar com o meu irmão até virar um quarteto: eu e Luciano na frente e duas enfermeiras atrás nos segurando.

DISCOGRAFIA – O que os fãs podem esperar do futuro da dupla?
LC –
 Eu espero que os fãs estejam sempre nos esperando, apoiando e prestigiando. São os faz os responsáveis pelo nosso sucesso.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles