Na música internacional, um dos melhores exemplos do que é ser um mito é o poeta norte-americano Bob Dylan. Ao longo da sua carreira que já soma quase 50 anos, ele usou suas canções para lutar por direitos civis criar uma nova consciência para os homens. Isso não é um exagero. Filho da geração beat, ele foi um dos que viveu a geração hippie não como uma forma de desbunde, mas como uma proposta de vida com mais liberdade. Muitos dentro de um só, ele soube entrar e sair de estruturas sem ver sua credibilidade arranhada. Da mesma forma, nunca aceitou rótulos que limitassem sua atividade de cantor e compositor. Não foi à toa que ele se tornou um dos nomes mais influentes da música pop e ganhou admiração de dez entre dez nomes importantes pelo mundo. No Brasil, não foi diferente. Para comprovar, o selo Discobertas colocou nas lojas o tributo Bob Dylan Letra & Música. São 14 faixas que ambientam o poeta nos mais diferentes estilos, conseguindo diferentes resultados, do melhor ao desprezível. Caetano Veloso, por exemplo, mostra que sabe o que faz em Jokerman. Bem diferente de Evandro Mesquita, que leva Bob pra um clima praieiro totalmente dispensável. Há ainda Renato Russo, Gal Costa, Ruy Maurity e outros. Acompanhe o faixa-a-faixa:

1. Jokerman – Tirada do disco Circuladô Vivo, de 1992, trata-se de uma ótima leitura de Caetano Veloso sobre a canção do disco Infidels, de 1983. Atentem para como a música vai crescendo nas mãos do baiano que sabe tudo.

2. It ain’t me babe – A ótima Mallu Magalhães faz uma versão pálida de uma baladinha folk, originalmente lançada em 1964. Respeitosa demais. O registro foi tirado do primeiro DVD da moça, mas é inédito em CD.

3. If you see him say hello – Tirada do disco Blood on the tracks, 1975, ela ganhou regravação de Renato Russo e seu fiel escudeiro Carlos Trilha no disco The stonewall celebration. Confesso que nunca achei a carreira solo de Renato interessante. Aqui não é diferente.

4. Negro amor – Clássica! Clássica! Clássica! Gal Costa bota pra fora seu espírito hippie em It’s all over now my baby blue, traduzida por Caetano Veloso (não citado) e Péricles Cavalcanti. O resultado é inacreditável. O original é de 1965, do disco Bring it all back home. A versão é de 1977, do indispensável disco Caras & Bocas.

5. Batismo dos bichos – Num belo trabalho de garimpagem, Ruy Maurity aparece numa versão samba-reggae de José Jorge para Man gave name to all the animals, do disco Slow train coming (1979). A regravação data de 1980 e conta com as presenças de Antonio Adolfo e do cearense José Menezes.

6. Joquim Joey é a primeira faixa do lado B do disco Desire, de 1976. Vitor Ramil fez sua tradução para o português 11 anos depois, prstando uma homenagem ao inventor Joaquim Fonseca, de Pelotas. Ficou sem graça, mas vale pela curiosidade.

7. Make you feel my love – Bela baladinha de amor, tirada do disco Time out of mind, de 1997. Fred Nascimento regrava na língua original, especialmente para este projeto, e mantém a docilidade. Essa é boa.

8. Positively 4th StreetTwiggy surpreende mais uma vez e mostra que sabe fazer bem feito. Dá até pra perdoar o excesso de gemidos. Versão inédita para um clássico lançado em single em 1965.

9. If not for youLuen dobra a voz e dá um clima indiano lisérgico para esta canção do album New morning, de 1970. Funciona bem, assim como a moça canta bem.

10. Don’t think twice, It’s all right – Um dos clássicos do mestre Dylan ganha mais sujeira na voz do carioca Jomar Schrank. Inédita, mas nada demais. O original é de 1962, do disco The Freeweelin’ Bob Dylan.

11. Lay lady Lay – Um dos momentos mais pop do rei do folk ganha uma leitura curiosa, com toques de Indie e Jovem guarda com a banda Profiterolis.  O resultado se destaca entre as inéditas. O original é de 1969, do disco Nashville Skyline.

12. Mr. Tambourine – Outro clássico maior do poeta. A versão de Daniel Lopes encerra a lista de inéditas com uma boa performance, sem medo de mexer no original. Original lançado em 1965, no disco Bring it all back home.

13. Knockin’ on heaven’s door – Vamos ter liberdade de mexer nos clássicos, mas não tanto, né, Evandro Mesquita? Uma das principais obras do rock internacional, ganha bateria eletrônica, teclado pagodeiro e arranjo equivocado. Corram para o original da trilha do filme Pat Garrett & Billy the Kid (1973). Mas, vamos lá, vale pela garimpagem.

14. Negro amor – replay da faixa 4, agora na voz de Humberto Gessinger e seus Engenheiros do Hawaii. A regravação de 1999 fez sucessso merecido. O arranjo é bem feito com um bom pianinho passeando pelo arranjo.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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