Ao pé da letra, happening significa acontecimento. No showbusiness, o termo se refere àqueles momentos únicos, impossíveis de serem repetidos. Pois é, todo show de Jair Rodrigues é assim. O sambista negro de sorriso contagiante, aos 72 anos, parece estar ligado a uma tomada durante todo o tempo que fica no palco. E tome improviso, brincadeira, piada e muito aplauso.

O paulista com mais de 50 anos de carreira veio a Fortaleza no último sábado (2) para uma apresentação única na quadra do BNB Clube. Antes dele os cearenses do Sete de Paus, marcaram o ritmo da noite com uma seleção de sambas na linha Demônio da Garoa. Pelas palmas e pedidos de bis, não ficou dúvida de que o grupo agradou, mecidamente, à audiência e ganhou um bom número de fãs.

Jair Rodrigues (em fotos de Igor de Melo) entrou logo em seguida e, mal chegou ao palco, já foi pulando para a plateia e mexendo com todo mundo. Puxava um pra dançar, abraçava outro, apertava mãos e sambava. Sobrou até um tapa na careca de um senhor que sentava bem à frente. Sem problemas, todos só faziam rir e aplaudir.

Trajando um inusitado capotão preto, ele pegou o microfone e começou com o sambão Triste madrugada. Claro que o calor não permitiria aquela indumentária por muito tempo e logo ele exibiu seu paletó preto com branco, no melhor estilo “malandro carioca”. Isso sem parar um instante de cantar e dançar. Pra quem conhece os shows de Jair, sabe que tudo nasce no momento, na base do feeling. Assim, ele passou de um enorme pot-pourri de sambas para uma versão pagode de Eu sei que vou te amar.

A noite teve ainda Não deixe o samba morrer, Barracão, Casa de bamba e uma homenagem à sua companheira de Dois na Bossa, Elis Regina, com a impecável Romaria. Com pouco mais de meia hora, Jair já havia perdido a compostura, tirado o paletó, afrouxado a gravata e ensaiado uma coreografia que descia até o chão. Na sequencia ele mandou O sole mio e uma série de boleros. Nesse momento, até este repórter parou para dançar um instante.

Após um breve intervalo que, segundo o próprio cantor, era pra “tirar o suor do rego”, veio mais uma série de intermináveis sambas e um arranjo envenenado para Deixa isso pra lá. Pra comemorar o aniversário de uma fã de 92 anos, Jair sentou ao seu lado e cantou a valsa Eu sonhei que tu estavas tão linda, para em seguida puxá-la pra dançar. Já perto do fim, se havia alguém cansado, não era o sambista que ainda plantou bananeira no palco e cantou A majestade o sabiá em pé, sobre cadeira, no meio do público. Encerrada a apresentação, ele parecia não querer abandonar seus fãs e puxou uma cadeira pra dar tantos autógrafos fossem pedidos. Que bom, por que, certamente, o público de Fortaleza não pretende abandoná-lo nunca.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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