Apesar de um preconceito surgido por conta do popular funk carioca, o funk em si é um ritmo tradicional, dançante e rico que cresceu nas mãos de mestres como James Brown e Sly Stone. Um das grandes referências em termos do assunto no Brasil são os paulistanos no Funk Como le Gusta. O combo que já contou com Paula Lima nos vocais e mantém um time de músicos de altíssimo nível, como Emerson Villani, Bártolo e Hugo Hori, acaba de lançar seu terceiro trabalho, chamado A cura pelo som. Como o nome sugere, a solução para as chatices está nas 18 faixas do disco, divididas em 10 no disco e mais 8 para download por um site especial escondido no CD. Todas são de autoria dos integrantes. O grupo estreou em 1999 com Roda de Funk, ótimo cartão de visitas com adesões especiais de Fernanda Abreu e Sandra de Sá. Em 2004 veio FCLG, trabalho mais fraco, embora traga a ótima A Nêga e o Rebolado. A cura pelo som se assemelha ao seu antecessor, embora eles tenham caprichado mais neste terceiro. Logo de início, Balacobaco é um groove safado feito à base de sons estranhos. Com cara de irreverência e brincadeira, a canção ganha pelo clima de descontração antes de passar para Sem amor, uma pegada black sobre sexo com amor. Uma das melhores faixas do trabalho é Muchacha fantástica, que lembra o trabalho azeitado dos Orixas, com direito a letra em espanhol e tudo mais. Balançada e sensual, é uma trilha perfeita parafestas, bailes e afins. Irê também vem na língua dos hermanos e lembra o som dos mariaches, cheios de violões. Uma coisa que faz o trabalho do Funk Como le Gusta crescer bastante em disco é que tudo é feito de verdade, parecendo uma gravação ao vivo com todos se divertindo ao mesmo tempo. Pra quem não conhece, a banda se formou no fim dos 90, para tocar em casas paulistas como o Blem Blem e o Espaço Anexo. Os tempos de som ao vivo fizeram a banda apimentar cada vez mais o próprio som e deixar tudo redondinho. Sempre abrindo espaço para convidados, como Elza Soares, Toni Tornado e Gerson King Combo, eles foram agregando informações ao próprio estilo, o que fez o trabalho ficar cada vez mais brasileiro e universal. Isso fica resumido na instrumental Putz!, um cruzamento de Ed Lincoln com os sons da blackspoitation, principalmente Shaft. Agente 69 (uma homenagem a Maxuel Smart!?) é um ska pesado e agitado. Pra encerrar, Prelúdio do sol não é nada menos que um grove de baixo para os músicos se apresentem. Virando o disco, são mais oito faixas cheias de ritmo, clima e estilo. O destaque fica para Skinho, também um ska frenético guiado pelo ótimo nipe de sopros. Em seguida, Manual do Funk Nacional é uma homenagem coletiva aos muitos nomes que construíram a black music brasileira. No fim das contas, A cura pelo som é uma aula de música dançante pra quem não é ruim da cabeça ou doente do pé.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=SNYrALpGQWk[/youtube]

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

View All Articles