Atração de hoje no projeto Dragão Musical do centro Dragão do Mar, Zé Ramalho conversou com o DISCOGRAFIA sobre seu novo projeto, uma homenagem aos Beatles. Zé Ramalho canta Beatles vai trazer 16 canções da banda inglesa e das carreiras individuais dos seus integrantes, tudo com o tempero típico do paraibano. Em seguida ele adianta que, para o próximo ano, está preparando um disco somente com letras e melodias inéditas, todas de próprio punho. Acompanhe.

DISCOGRAFIA – Como vai ser esse show de hoje em Fortaleza?

Zé Ramalho – O show terá o repertório baseado no lançamento que eu fiz este ano de uma coleção de discos chamado A caixa de Pandora. Todos os sucessos consagrados estarão no roteiro e mais algumas canções de Gonzaguinha, Geraldo Vandré e Raul Seixas. Quem me acompanhara será a Banda Z, banda que esta comigo há mais de 20 anos.

DISCOGRAFIA – Você está prestes a lançar um disco com músicas dos Beatles. O que entra desse novo repertório no show em Fortaleza?

Zé Ramalho – Ainda não terá nenhuma das músicas desse lançamento. Estou preparando um show para lançá-lo e só então poderei apresentar essas músicas dos Beatles ao vivo.

DISCOGRAFIA – Queria que você contasse como foi gravar esse disco. Seleção de repertório, sonoridade, etc.

Zé Ramalho – Esse disco foi gravado aos poucos, em estúdios diferentes e em momentos diferentes da minha vida. A seleção das músicas foi acontecendo naturalmente. E o critério de escolha foi através daquelas que eu mais gosto, as que estavam na minha lembrança desde que eu comecei a curtir essa banda.

DISCOGRAFIA -Além dos Beatles, você já gravou discos dedicados a Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Bob Dylan e Raul Seixas. Em todos você procura dar uma interpretação bem pessoal. Qual deles foi o mais difícil de fazer? Por que?

Zé Ramalho – O mais difícil foi o Zé Ramalho canta Bob Dylan, pela rigorosa responsabilidade de recriar músicas de um astro-compositor sem precedentes, conhecido no mundo inteiro e inspirador de milhares de músicos e poetas. As versões que eu fiz, junto com outros autores, foram todas aprovadas por ele, o que me deixou feliz e orgulhoso, em se tratando de tão árdua tarefa! O disco foi um sucesso, vende até hoje e ainda ganhou a indicação para o Grammy como melhor disco de rock.

Capa de Tá tudo mudado, em tributo a Bob Dylan

DISCOGRAFIA – Que outros artistas você tem vontade de fazer uma releitura?

Zé Ramalho – Gostaria, se fosse possível, de dedicar um disco ao trabalho do Pink Floyd, banda inglesa que também muito me inspirou, contudo, os autores das músicas não permitem versões em nenhuma língua, o que dificulta muito a realização desse trabalho.

DISCOGRAFIA – No começo deste ano foi lançado um Box com três discos revisitando sua obra. Fazendo uma auto análise, qual foi sua maior contribuição para a música brasileira nestes mais de 30 anos de carreira?

Zé Ramalho – Acho que foi a combinação que eu fiz de tudo que aprendi desde os 15 anos de idade, quando eu tocava em bailes, até hoje. Consegui mostrar uma música nordestina atualizada, moderna, com letras e arranjos que revolucionaram a música nordestina como estava, desde que eu comecei. E alem disso, modernizei também as palavras do linguajar nordestino e alguma delas como “Avôhai” são de criação própria minha. Além disso, essas canções perduram até hoje, atravessando já duas gerações, de vez que percebe-se uma clara renovação de público nos meus shows. São jovens a partir de 15, 16 anos, que descobrem meu trabalho e passam a acompanhar toda a minha obra.

DISCOGRAFIA – Em 2008, a Discobertas botou nas lojas um excelente trabalho com gravações suas bem do início da carreira. Queria eu você falasse sobre esse disco e sobre aquela época.

Zé Ramalho – É um disco/documento de grande valor para colecionadores e apreciadores do meu trabalho. Ele reflete o período intenso e inicial da minha carreira-solo. Os shows que foram gravados são do período de 74 a 76, na cidade de João Pessoa, onde me apresentei nesses anos, com intensidade e paixão, me preparando para enfrentar o mercado de difícil acesso para chegar até às gravadoras.

DISCOGRAFIA – Desse período de início de carreira, o seu Paêbirú continua inédito em CD. Porque ele está fora da discografia oficial do seu site? Existe aplano ou vontade de reeditá-lo?

Zé Ramalho – Não. Não há como reeditar esse disco, até porque ele foi pirateado na Europa, um selo de uma gravadora alemã colocou tanto a edição pirateada de vinil, como em formato cd e eles podem ser adquiridos também no Mercado Livre, que está cheio de exemplares à venda. Não está no meu site, por uma questão pessoal minha, e me resguardo o direito de me manter em sigilo. (N.E.: O disco ganhou um documentário dirigido por Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim, em 2009. veja o trailer)

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DISCOGRAFIA – Queria que você falasse sobre o Zé Ramalho escritor?

Zé Ramalho – Bem, alguns livros que escrevi (são poucos), como Carne de Pescoço, um conto-ficção (Pássaro cativo) e alguns livros em formato de cordel, como o Apocalipse Agalopado, A Peleja de Zé do Caixão com o Cantor Zé Ramalho foram experiências que fiz sem nenhuma intenção de me tornar escritor. Contudo, este pequeno lote de escritos foi muito elogiado por pessoas que conhecem e são críticos literários, como Olga Savary, que no seu livro Antologia da Nova Poesia Brasileira teceu elogios ao meu livro Carne de Pescoço. A minha intenção, na verdade, era de todos os escritos desses livros se tornarem letras de música. Vários parceiros e compositores  colocaram melodia e harmonia em várias letras desses livros. É só comparar em alguns dos meus discos, as palavras e versões que foram escolhidas.

DISCOGRAFIA – Você hoje é dono de uma obra única, que mistura, rock, psicodelia, forró, baião, folk, e tudo marcado por sua voz única e inconfundível. Existe algum sonho que você ainda pretende realizar na música?

Zé Ramalho – Bem, eu não diria sonho, mas ainda pretendo realizar muitos lançamentos, tanto com o meu lado de intérprete, como o meu lado de autor. Estou preparando um disco só com músicas inéditas, todas novas, todas de minha autoria única – letra e música, para 2012 e ainda pretendo permanecer no mercado por muito tempo!

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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