Nos anos 90, um ritmo que fez muito a cabeça das novas bandas de rock brasileiro foi o reggae. O estilo jamaicano foi trazido alguns anos antes por Gilberto Gil e Paralamas do Sucesso e fez a graça da juventude noventista nas festas e no rádio. Enquanto Skank e Charlie Brown Jr, por exemplo, passaram pelo balanço de Marley, Cidade Negra e Natiruts o adotaram como bandeira. Quase duas décadas depois, em 2008, foi a vez do quarteto carioca Forfun decidir trocar seu “pop punk” (hã?!) sem graça pelas positive vibrations e lançar seu segundo disco, Polisenso. A viagem deu certo e agora eles mergulham de vez no mundo dos dreadlocks para lançar Alegria Compartilhada. Embalado em inspiradas ilustrações de Noelma Guimarães, o quarto disco solo do Forfun faz jus ao nome (“para alegrar”) e às lições de Jah com 12 canções compostas pela banda e bem amarradas pela produção coesa de Daniel Gajaman. Claro que tudo no disco, das letras falando sobre positividades ao tchac tchac da guitarra de Danilo Cutrim, segue direitinho a cartilha do reggae (pop) brasileiro pós-90. Minha jóia, por exemplo, poderia bem estar num disco do Natiruts. Assim como Descendo o rio poderia estar num do Cidade Negra. Para mal, Tropicália Digital lembra Charlie Brown Jr, apesar da letra curiosa que vai de jabulani a rivotril. Há momentos bem melhores como o sambafunk Quem vai, vai (que lembra Quero ver você no baile, de Paula Lima) ornada com um nipe de metais arranjados pelo metre Tiquinho do Funk como le gusta. A garça tem uma bela letra, assim como Quando a alma transborda (“Quando não cabe no corpo, é quando a alma transborda”). Vitor Insensse, antes guitarrista, agora é responsável pelos samplers e teclados e constroi climas e ruídos que casam bem com a cozinha de Rodrigo Costa (baixo) e Nicolas Cesar (bateria). O sempre afiado Gustavo Black Alien (ex-Planet Hemp, também dos 90) dispara seu discurso em Cosmic Jesus falando em Krishna, Buda e Alá. Pra encerrar este Alegria Compartilhada, Pra sempre faz uma espécie de oração envolta em guitarras pesadas e teclados estilo “nave da Xuxa”. Aos dos 42 minutos do disco a sensação é de que, se você procura um disco para ir à praia curtindo um som, essa é uma boa dica.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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