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A Praia do Futuro viveu um clima inédito na noite da última sexta-feira. O entorno da Barraca Biruta estava cercado de jovens, adultos e crianças, todas trajando preto dos pés à cabeça. Quem fugiu a essa regra, certamente, estava se sentindo um peixe fora d’água. A moda daquele momento também pediu um look dedicado às grandes bandas de rock da história. Dando uma olhada ao redor, era possível ler estampando nomes como Rainbow, Janis Joplin, Motorhead, Jimi Hendrix e John Lennon (a minha!).

O motivo deste figurino tão especial é que a atração daquele dia era não menos que os ingleses do Deep Purple. Com 43 anos de carreira, eles já incluíram o Brasil no seu roteiro obrigatório de shows há mais de uma década, mas, para Fortaleza, eles estavam vindo pela primeira vez. Claro, a emoção, principalmente daqueles que acompanham a banda há mais tempo, estava estampada no rosto e ninguém fazia questão de se segurar. E tome grito e risada sempre que alguém encontrava um amigo. “Pô, tu veio?!”. “Óbvio”, era a resposta mais comum.

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A abertura foi com a banda paulista República, que fez o aquecimento com canções próprias e clássicos atemporais do rock. Como bons ingleses, Ian Gillan (voz), Steve Morse (guitarra), Don Airey (teclado), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria) subiram ao palco pontualmente às 23h, tal qual combinado. Para abrir os trabalhos, eles escolheram a eletricidade de Highway star, pescada do clássico absoluto de 1972 Machinehead. O Biruta (lotado) em peso acompanhou a letra socando o ar e ainda se arriscando nas partes mais agudas da letra. É claro que nem o próprio Gillan tem o mesmo alcance de outrora, mas o que vale é a intenção.

Sem nada de firulas, truques de palco ou populismo, o show do Deep Purple é uma aula de rock, direto, reto e eficiente. Pra se ter uma ideia, o figurino do vocalista não é mais que um jeans e uma camiseta de malha branca. E pronto. A proposta deles é somente mostrar uma série de músicas que influenciou boa parte das bandas de rock pós-1970 e o público que estava ali. Mesclando sons mais pesados, transitando entre o blues e o metal, eles mantiveram os fãs na mão durante quase duas horas. Mesmo nos momentos de solos de guitarra e teclado, era difícil para a plateia não ficar, pelo menos, batendo a cabeça no ar.

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E tome clássico na orelha. Lazy, Perfect strangers, Space truckin’ e Rapture Of The Deep, do disco homônimo lançado em 2005. Don Airey, em seu momento solo, mostrou maestria nos teclados viajando de Mozart a Aquarela do Brasil. Em seguida foi a vez do inacreditável Steve Morse lembrar alguns riffs famosos da história do rock, incluindo Sweat child o’mine e Purple haze. E foi com as bênçãos de Jimi Hendrix que eles abriram espaço para Smoke on the water, ainda o momento mais esperado nos shows do quinteto.

Todos com mais de 60 anos (com exceção de Morse, com 57) eles esbanjaram energia e simpatia no palco. A impressão é que a banda está se divertindo tanto quanto a legião de camisas pretas à frente. Após um set emocionante, o Deep Purple dá um parada e volta atendendo aos pedidos de bis. Um solo de Paice, outro de Roger Glover, mais canções – Hush e Black Night – e aqueles nobres senhores partem antes de uma da manhã, deixando a impressão de que a aposentadoria para eles ainda vai demorar bastante. Quanto ao público, depois de tanta energia recebida do palco, a noite ainda estava começando.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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