Reconhecida como uma das maiores atrizes brasileiras, Marília Pêra nunca deixou de lado seu trabalho como cantora. Com alguns discos gravados, muito da sua carreira paralela se deve exatamente a desdobramentos da sua atuação no teatro. Foi assim com o espetáculo Elas por Ela e com seu tributo a Carmen Miranda. O mesmo aconteceu com a peça Feiticeira, idealizada em parceria com Nelson Motta. No palco, a proposta era juntar a atriz e a cantora Marília Pêra num roteiro de Fauzi Arap com direção de Aderbal Junior. Com ares de grande produção, Feiticeira contava com a participação ao vivo da banda Vímana, que tinha com integrantes Lulu Santos, Ritchie e Lobão, futuros ícones do rock brasileiro. A estreia no Rio de Janeiro em 1975 foi um fracasso tremendo que se repetiu nas demais exibições.

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Sem desistir da proposta, Nelson Motta decidiu gravar o repertório de Feiticeira e num disco intrigante que acabou ganhando o carimbo de Cult e um relançamento recente em CD pela gravadora Joia Moderna. Sem perder a veia cênica, Marília alinha presente, passado e futuro ao longo de 13 faixas. Lamartine Babo ganha tom Broadway em Canção pra inglês ver. Além do Vínama, que participa no rock O avô do Jabor, Marília aproveita o disco para apresentar Geraldo Azevedo (A natureza), Eduardo Dussek (Alô Alô Brasil) e Alceu Valença (O medo). Da geração que incendiava aqueles anos 1970, estão os malditos Walter Franco (participando em Dança da feiticeira), Jards Macalé (Sem essa) e João Ricardo (Não digas nada, sucesso dos Secos & Molhados). Embora tenha tido pouca aceitação na época, principalmente pela estranheza do repertório, trata-se de um retrato no mínimo curioso de uma inquieta atriz cantora.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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