Aportando no Brasil para um show no Rock In Rio, os portugueses do The Gift deixaram por aqui o seu terceiro disco, batizado de Explode. Lançado inicialmente para download gratuito, o disco chega agora à lojas brasileiras pela gravadora Coqueiro Verde. Logo na faixa de abertura, Let it be by me, fica claro que para o quarteto os anos 80 ainda estão no ar. Mais precisamente a boa influência no New Order. Talvez por isso mesmo o disco seja uma boa dica pra quem quer um disco animado, bem feito, mas com poucas surpresas. Com 17 anos de história, a banda formada por Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, John Gonçalves e Miguel Ribeiro só veio tocar no Brasil agora por que insistimos em achar que só existe música (principalmente em se tratando de rock) nos EUA e na Inglaterra. Nem no Brasil acreditamos que tenha música. Mas tem, e boa. Voltando ao The Gift, a banda surgiu de um projeto paralelo de Nuno e Miguel, que logo quiseram aumentar os horizontes sonoros virando um quinteto. Gravaram o primeiro disco, Digital Atmosphere, em 1997 e logo perderam o músico Ricardo Braga, chegando assim à atual formação. Apesar  de serem da terra do Manuel  e do Joaquim, o The Gift compõe 99% em inglês e guarda um forte sotaque techno rock bem desterritorializado. A climática e etérea Mermaid song combina camas de teclado com um arranjo vocal viajandão. A produção de Ken Nelson, responsável pelos três primeiros discos do Coldplay, deu unidade às 12 faixas de Explode. De quebra, RGB, tem a maior cara da banda de Chris Martin. Já a quilométrica The Singles cruza New Order, Pink Floyd e Beatles numa quase ópera de 12 minutos. Tão psicodélica quanto essa mistura é a capa e o encarte do disco, recheado com fotos tiradas na Índia que logo remetem a um Woodstock de cores berrantes. De fato trata-se da celebração Holi, a Festa das Cores do hiduísmo que acontece entre fevereiro e março para comemorar a chegada da primavera. Um ponto fraco do disco fica por Primavera, única faixa em português (não sei de Portugal ou do Brasil). O velho sotaque apátrida deixa tudo com cara de artista latino querendo se dar bem no País do Futebol. Levando em conta a turnê brasileira, a faixa ficou com ar de oportunismo. Melhor ficar com a balada Aquatica, onde um piano sublinha a história de um filho que está por vir. Já na faixa bônus The mother of my mother o piano é o protagonista numa balada acústica melancólica que soaria deslocada se não fosse um bônus. Infelizmente, no meu disco ela veio pela metade (e no de vocês?). De fato o que guia este bom trabalho do The Gift são os teclados e sintetizadores fazendo cama para guitarra, baixo e bateria, tal qual fazia o New Order nos anos 80. Se você curtiu banda de Peter Hook, é bem provável que vá curtir esta aqui também.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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