Quando Jorge Ben Jor estreou com Samba Esquema Novo, em 1963, muita gente não entendeu que som era aquele. Era uma mistura de soul, jazz, gafieira e mais um bocado de estilos. Seis anos depois, o autointitulado Zé Pretinho iniciou uma parceria incendiária com o Trio Mocotó jogando ainda mais balanço no seu violão e ganhou adeptos como Toquinho, Gal Costa e Claudette Soares. Sem um rótulo melhor para dar, a imprensa decidiu batizar o novo estilo de samba-rock.

Ganhando novos nomes como sambalanço e suingue, o samba-rock teve um auge nos anos 1970 e depois ficou meio esquecido. Foi então que, 30 anos depois, uma geração de novos músicos resolveu resgatar aquele rebolado. Na linha de frente estava o Clube do Balanço, que toca hoje pela primeira vez em Fortaleza. Formado por nove nomes da cena noturna paulistana, eles viraram uma referência na retomada do estilo de Ben Jor, tanto por resgatarem clássicos do repertório como por compor material novo.

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“Quando começamos a tocar, por volta de 1999, essa coisa de samba-rock era muito restrita a gueto negro, festas de nostalgia e festas particulares. Nós conseguimos mostrar para outras turmas. Em 2003 ou 2004 já tinha várias bandas tocando”, lembra Marco Matolli, vocalista, guitarrista e porta-voz do Clube. Ao seu lado estão Edu Salmaso (bateria), Fred Prince (percussão), Fumaça (percussão), Tiquinho (trombone), Marcelo Maita (teclados), Gringo Pirrongeli (baixo), Reginaldo 16 (trompete) e Tereza Gama (voz). Um passeio pelo (ótimo) site oficial da banda e é possível saber mais sobre cada um, inclusive experiências como tocar com Wilson Simonal, Zé Rodrix, Originais do Samba e outros. “É uma banda bem heterogênea, com várias influências. Aqui, todo mundo foi se encontrando pelo som”, completa o músico.

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Com três discos lançados em 12 anos de estrada, o Clube do Balanço se orgulha de ter  encontrado com boa parte da velha guarda do samba-rock, de Marku Ribas e Orlandivo. “O Jorge Ben Jor comentou que nem lembrava mais de Paz e arroz, e que nossa gravação é melhor que a dele”, conta Matolli que não economiza elogios ao ídolo. O mesmo ele fala de Erasmo Carlos que, mesmo sendo mais rock do que samba, flertou uma época com o sambalanço e regravou Mané João no disco de estreia do Clube. “Ele não precisava dar moral pra gente, mas ainda citou nosso nome no livro dele”, orgulha-se. Como influência para o instrumental da banda, ele cita o tecladista cearense Ed Lincoln, responsável por bailes dançantes memoráveis das décadas de 1960.

Com tanta história pra contar, parcerias inesquecíveis, turnês internacionais e encontros importantes com o Trio Mocotó e Asian Dub Fundation, eles decidiram comemorar seus doze anos de uma forma sui generis: lançando uma cachaça estilizada para vender em shows, como o desta noite em Fortaleza. “A primeira ideia foi de fazer uma catuaba, por que é o que tomamos muito nos shows”, comentou Matolli rindo por saber da fama da bebida no Nordeste. Pensaram então em outra bebida que ficasse melhor depois de envelhecida: a cachaça. Agora eles esperam que o samba-rock agrade tanto o fortalezense quanto a cachaça. “Queremos mostrar um pouco de tudo. Como é um lugar que a gente não conhece, vamos fazer o furdunço todo”.

Discografia:
> Samba Samba-rock (2001)
> Samba incrementado (2004)
> Pela contramão (2009)

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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