Por Camila Holanda (@camilasholanda)

Apertar o play e ser tomado por um turbilhão de sensações vibrando. Céu consegue proporcionar tal excitação. Seu novo disco, Caravana Sereia Bloom, é envolvente e reafirma o espaço de destaque da artista no cenário da tal “nova MPB”.  A  sinestesia provocada pelo disco traz novidades na carreira dela, pois, diferente dos trabalhos anteriores, as músicas viajam por um universo intimista, com nuances melancólicas, a começar pelo encarte, com cores e imagens bem soturnas. 

Dentre as novidades, está a produção feita apenas pela própria Céu em parceria com Gui Amabis, seu companheiro. Em Vagarosa (2009), os dois assinam a produção ao lado de Beto Villares, também produtor do primeiro álbum (Céu – 2005) e Gustavo Lenza, produtor dos discos de Curumin. Ou seja, a quebra de estilo já começa por aí, refletindo as mudanças em todo o projeto. Desde então, fica clara a intenção em explorar novos arranjos com uma aura mais densa do que estava sendo apresentada. 

As evidentes diferenças com os CDs anteriores mostram a maturidade de Céu, consolidando-se e revigorando a MPB, que tem recebido uma nova leva de artistas. Porém, sem esquecer as gerações anteriores, a paulista também incorpora traços mais bregas às composições, dando um ar sofisticado.

O terceiro álbum da artista já conquista na primeira faixa.  A música Falta de ar (Gui Amabis) tem Fernando Catatau (guitarra) e Dustan Gallas (piano elétrico) no elenco de músicos. Ambos são integrantes da banda cearense de rock Cidadão Instigado. Esta é a única participação de Catatau no disco, mas, é o suficiente para deixar marcado o traço psicodélico de sua guitarra. Já Dustan está presente em outras seis músicas, tocando piano, wurlitzer (espécie de piano elétrico),teclados, guitarra e flautas.

No Caravana Sereia Bloom vale ressaltar a versatilididade do grupo de músicos, com  destaque também  para  Pupillo (Nação Zumbi), Dengue (Nação Zumbi) e Curumim. Aliás, um dos grandes destaques  dos trabalhos de Céu é, certamente, o peso do grupo de músicos particiapantes, trabalhando ritmos e arranjos, como reggae, jamaicano e jazz, mas sem perder a essência de brasilidade.

A música Retrovisor (Céu) é a única faixa a ter videoclipe e é o novo single da cantora.  A melancolia de um término de relacionamento amoroso fica entranhada nos arranjos e na letra, chegando a lembrar Miopia, música mais lânguida do projeto Sonantes, parceria dela com diversos músicos brasileiros. 

A faixa seguinte, Teju na estrada, traz algo presente nos primeiros CDs: a vinheta. Outras duas também estão no repertório do disco, embora com menos expressão que as demais faixas.  Mais uma novidade deliciosa de Caravana Sereia Bloom é a delicada regravação da música Palhaço (Nelson Cavaquinho/Oswaldo Martins/Washington), ao lado do pai Edgar Poças (maestro e compositor), que assovia e toca violão enquanto a filha canta com a voz macia e suavemente rouca. A décima faixa é Baile da ilusão (Céu) e está entre as três mais encantadoras do disco, perdendo apenas para Retrovisor e Amor de antigos (Céu).

Envolvente e cativante são os adjetivos mais adequados para (tentar) descrever as sensações provocadas pelas canções de Caravana Sereia Bloom. Álbum bem diferente dos anteriores e, talvez, sinalizando  mudanças no modo de Céu produzir suas músicas. O disco é apenas mais uma das vertiginosas viagens impressas nos trabalhos da artista.

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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