Não é de hoje que as grandes estrelas internacionais se encantam pela música do Brasil. Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Dionne Warwick e Frank Sinatra são só alguns dos nomes que se encantaram pelas canções do País do Carnaval. No entanto, com a americana Stacey Kent a coisa é diferente. Além de cantar, ela quer sentir o que é ser brasileira. “Quando estou lendo a poesia do Brasil em português, Vinicius ou João Cabral de Melo Neto, me sinto tão perto do coração brasileiro que de repente estou descobrindo que compartilho essa sensibilidade. Sinto-me como se essa vida pudesse ser a minha vida. Sinto-me bem dentro dessas coisas da poesia brasileira”, confirma a jazzista de New Jersey, sem esconder a emoção de estar dando entrevista em português. Aliás, em bom português.

Curiosa por aprender mais detalhes da nossa cultura e história, Stacey não espera a hora de voltar ao Brasil para a nova turnê que começa hoje (11) por Fortaleza e segue para São Paulo (12) e Rio de Janeiro (13 e 14). Apesar de ser sua terceira ou quarta temporada na terra da Bossa Nova, dessa vez as apresentações vão ter um sabor especial, pois ela vai dividir o palco com o carioca Marcos Valle, um dos seus “heróis”. Convidada pelo cantor e compositor do mítico Samba de Verão, ela parece uma criança sempre que fala em estar ao lado do seu ídolo. “Para mim é um sonho ficar com o Marcos, que é uma pessoa incrível. É um homem extremamente criativo, que não para nunca”, elogia a cantora via skype.

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A história do encontro de Marcos e Stacey começou há pouco menos de um ano. Convidado para cantar na festa dos 80 anos do Cristo Redentor, o cantor carioca recebeu o aval da gravadora para convidar alguém para dividir com ele seu Samba de Verão. Foi então que ele lembrou de uma cantora que ouvira pouco tempo antes pelo rádio, interpretando canções francesas. Mal sabia ele que a tal cantora é uma apaixonada pelo Brasil e ela que atenderia prontamente sua convocação. “Aquele momento no Brasil foi um dos mais lindos da minha vida. Quando encontrei o (Roberto) Menescal no camarim, eu não sabia que ele me conhecia. Sou uma grande fã dele. Eu disse, ‘Roberto?’. E ele, ‘Stacey’. Eu não podia imaginar que já era um nome na vida dele”, conta surpreendida.

Esse flerte de Stacey Kent com o País Tropical aconteceu bem antes dela pensar em ser cantora. Por volta dos 14 anos, ela ouviu por acaso o disco de João Gilberto e Stan Getz e se encantou. “Foi a primeira vez que ouvi aquela voz. Isso mudou as coisas para mim”, confirma. Hoje, aluna da Middlebury Schools, EUA, ela chega a interromper a turnê nos verões para se dedicar ao aprendizado da nossa língua. Assim, ela vem conhecendo a poesia de João Cabral de Melo Neto, a música de Chico Buarque e Edu Lobo (com destaque para O Grande Circo Místico), o humor de Luís Fernando Veríssimo e os contos de Lima Barreto. “Eu queria ouvir muitas coisas do Brasil desde que comecei a estudar a língua, do norte do Brasil, até Luiz Gonzaga”, acrescenta a artista que divide o amor pelo Brasil com o marido Jim Tonlimson, saxofonista que também participa da turnê.

Bodas de ouro

Para Marcos Valle, dividir o palco com Jim e Stacey também tem uma dose maior de emoção. Principalmente quando ele lembra da agenda concorrida que a cantora mantém pelo mundo. “Quando entramos em contato, eles adoraram e acharam uma brecha para fazer o projeto”, conta ele por telefone de sua casa no Rio de Janeiro. A distância, no entanto, acabou proporcionando uma experiência nova para todos, já que todos os ensaios aconteceram via skype. “Ela mora em Aspen (EUA), perto da montanha, e eu perto do mar. Ficávamos cantando e passando os tons com o computador do lado. A única coisa que nós não conseguimos foi tomar um vinho durante os ensaios”, brinca o compositor que só vai resolver esta questão em Fortaleza, quando todo o grupo se encontra pela primeira vez.

Mesmo que já esteja acostumado ao reconhecimento internacional, Marcos Valle guarda um carinho especial pelo encontro com Stacey Kent. Principalmente por que o projeto, que logo ele quer transformar em CD e DVD, marca seus 50 anos de carreira. “Eu me sinto extremamente empolgado. Adoro essas parcerias novas. Stacey é uma nova diva que tem uma linguagem de jazz, é uma nova renovação do meu trabalho”, confessa. Para a cantora, a emoção não é menor. “Vai ser como um sonho para mim, ficar lá ao lado de Jim, Marcos e seus músicos incríveis. Imagino que vai ser bastante emocional, uma delícia”, encerra Stacey.

Serviço:
O quê:
projeto Amil Jazz Duets, com Stacey Kent, Marcos Valle e Jim Tomlinson
Quando: nesta quarta-feira (11), às 21h30
Onde: Teatro Via Sul (Av. Washington Soares, 4335 – Sapiranga. 3º piso). À venda na Casa dos Relojoeiros (Shopping Via Sul) e no local
Quanto: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia)
Outras informações: 30528027 e 32612061

About the Author

Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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