Depois de encarar projetos megalomaníacos no Maracanã e no Madison Square Garden (que pouco acrescentaram à sua carreira), Ivete Sangalo assumiu o cansaço da música baiana e vem apontando seu microfone para a MPB. Além de insinuar que pretende gravar um projeto voltado para a Bossa Nova, ela gravou no fim de 2011 um especial para a Rede Globo onde dividiu o palco com os também ícones baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Apostando na informalidade, o programa exibido dia 23 de dezembro acaba de ser lançado em CD e DVD lançado pela gravadora Universal. 

Juntos, os artistas conseguem diferentes resultados ao longo de mais de uma hora de apresentação. Ao lado de duas referências, Ivete garante seu espaço com beleza e bom humor. Cria dos novos tempos midiáticos, a cantora acaba assumindo informalmente o papel de mestre de cerimônias do encontro. De paletó e violão em punho, Gil precisa de muito pouco para demonstrar sua importância no encontro. Já Caetano, com certo ar blasé, parece estar pouco entusiasmado à frente das câmeras.

Se o repertório não é lá muito surpreendente, alguns números se mostram bem melhores que o esperado para projetos dessa natureza. Tendo o amor como guia para as 14 canções, quem mais se arrisca é justamente Ivete Sangalo ao trazer para si canções marcadas pelas vozes sagradas de Gal, Bethânia e Elis. Embora o registro da Pimentinha para Atrás da porta (Chico Buarque) seja algo à beira do insuperável, a baiana dá seu recado com emoção e sem firulas. Mas seu melhor momento é numa versão latinizada de Tá combinado (Caetano Veloso), lançada por Bethânia em 1988. Embora ela não não tenha a intensidade necessária para dar peso a tantas canções de acento mais dramático, a baiana faz bem ao inventar pouco e evitar comparações.

Amigos de longa data, Caetano e Gil aproveitam o espaço para contar histórias de suas musas. Defendida num dueto emocionante da dupla, Drão foi feita para a ex-mulher de Gil Sandra Gadelha (ou Sandrão), durante a separação do casal. E em seu momento solo, Gil grava Dom do iludir, do parceiro tropicalista, sem mexer muito no original. Em retribuição, Caetano divide Super-Homem, a canção, com o amigo. Embora tratem-se de três obras primas, as alocação delas no repertório ó servem para confirmar a beleza e gradiosidade do trabalho dos dois baianos. Entre arranjos mornos de Lincoln Olivetti e a direção musical careta de Mariozinho Rocha, o encontro das três estrelas baianas encerra com o majestoso samba Amor até o fim em outro bom momento o trio. Em seguida, somente a sensação de que poderia ser um tanto melhor.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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