Foto: Marco Maximo

Dos nomes de destaque da glamourosa Era de Ouro do Rádio, Cauby Peixoto talvez esteja entre os casos mais controversos. Atravessando gerações com seu estilo brilhoso e sua voz poderosa, ele angariou amores e desprezos, admirações e críticas, fãs e detratores. Apesar disso, em 2012, o cantor chega aos seus 60 anos de carreira com a agenda cheia de shows e gravações.

Durante todas essas décadas de música, Cauby já fez um pouco de tudo. Apesar dos seus maneirismos serem sempre ligados aos boleros e canções de dor de cotovelo, ele já gravou rock, bossa nova e samba-enredo, entre outros estilos. Uma parte desse ecletismo deve-se ao fato do intérprete ter se aventurado em propostas absurdas de produtores que insistiam em colocar sua privilegiada voz onde não devia. Um resumo dessa história está apresentado nos boxes Cauby! Cauby! (Discobertas) reunindo gravações do niteroiense feitas entre 1967 e 1995, boa parte delas inédita em formato digital.

Ao todo são 12 discos e quase o mesmo tanto de produtores. Se uns procuravam tirar de Cauby o melhor, outros insistiam em lhe empurrar alguns modernismos. Mas, o fato é que, quando eles acertavam, o sucesso era garantido. Isso está comprovado nos discos Cauby! Cauby! (1980), Cauby! (1986) e Cauby canta Sinatra (1995). O primeiro foi responsável por tirar o cantor de um período de ostracismo e trabalhos fracos. Foi dele que saíram os sucessos Bastidores (Chico Buarque) e Loucura (Joanna/ Sarah Benchimol). Já a bela homenagem ao ídolo americano, mereceu uma revisão 15 anos depois, por que o próprio Cauby confessou não ter gostado das versões para o português. Ainda assim, trata-se de um disco luxuoso, bem produzido (José Maurício Machline) e com duetos memoráveis com Gal Costa, Zizi Possi e Nana Caymmi.

Mesmo nos discos de safra mais errática, era comum uma faixa se sobressair entre as demais. No pesado e cafona Superstar, Mulher (Custodio Mesquita/ Sady Cabral) tem cara Broadway e ganha volume com o nipe de metais. Já em 1976, foi Adelino Moreira quem tomou conta do disco Cauby (é, a vaidade fazia ele sempre colocar o próprio nome nos discos). Pisando de mansinho no terreno do samba, ele faz uma sincera interpretação de O surdo (Totonho/ Paulinho Rezende), o dos grandes sucessos de Alcione. Já Duas contas (Garoto) é um bolerasso, desses arrasa quarteirão, que encaixa com perfeição nas vogais abertas de Cauby.

Pra completar, cada caixa traz uma coletânea de raridades que, mais uma vez, trazem resultados variados. Tem a simpática O Caderninho (Olmir Stokler), onde Cauby canta rock com seus famosos maneirismos. Na mesma pegada “jovemguardiana”, Lágrimas de amor (Klecius Caldas/ Hélio Matheus) é uma declaração de amor ingênua e bonitinha. Mas Cigano do amor (Migliacci/ Mattone/ Brancato Junior) exagera na dor de cotovelo. Por fim, o jornalista Rodrigo Faour, autor da biografia Bastidores, contextualiza cada disco e escreve curiosidades sobre as faixas. Entre elas, O que será de mim, única canção cuja autoria é dada a Cauby Peixoto. Mas, na verdade, ela é do empresário Di Veras, espécie de guru do cantor, que achava bacana seu discípulo posar de compositor. Apesar desse e de outros deslizes, não é difícil entender por que Cauby Peixoto é tratado no meio musical por Professor. Basta lembrar da sua famosa Conceição.

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Marcos Sampaio

Jornalista formado pela Universidade de Fortaleza e observador curioso da produção musical brasileira. Colecionador de discos e biografias. Admirador das grandes vozes brasileiras.

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